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Pan-American Soul: A Viagem Nunca Acaba

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o contrário da utopia proposta no título do filme Endless Summer, um dia chega a hora de voltar para casa. Nenhum outro filme de surfe inspirou mais surfistas, e comigo não foi diferente. Desde que assisti pela primeira vez, ainda moleque, numa Sessão da Tarde da Globo, esse se tornou meu sonho, correr o mundo atrás da onda perfeita sem data de volta. Mas no mundo real, em algum momento a jornada tem que chegar ao fim. Ou ao menos ser pausada. E isso não é necessariamente ruim. Na verdade, eu já estou querendo aportar em casa, rever a família, comer aquela comidinha caseira, dormir na minha cama, passear com os cachorros… 

Texto e fotos Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE

 

Isso deve acontecer na próxima semana. Bacana que vai ser bem no Dia das Mães, pois a minha acompanhou minha viagem inteira e, aos 87 anos de idade, está louca de vontade de “dar uma volta naquela van colorida”. Ela e meu pai, já falecido, me deram minha primeira prancha de surfe e bancaram as primeiras trips. Poder voltar para casa e dividir com a família e amigos o que foi vivido na estrada é uma das grandes recompensas de uma viagem.

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Escrevo essa coluna na Praia do Rosa, lugar que visitei pela primeira vez em 1980, quando tinha apenas 17 anos de idade. Mas já tinha vindo para o sul cinco anos antes, logo quando comecei a surfar, acompanhando meu pai numa viagem de negócios à cidade do Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Partimos de Itanhaém, balneário no litoral sul de São Paulo, na qual tínhamos casa de praia na época e onde comecei a surfar. 


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Fizemos o trajeto numa Volkswagen Variant azul com minha prancha amarrada à capota. Na volta de Rio Grande, paramos na Praia da Vila, em Imbituba, onde meu pai foi visitar seu amigo Fernando Sefton, um dos pioneiros do surfe no sul do Brasil. As ondas estavam pequenas, mas eram as mais perfeitas que eu já tinha visto, com um forte vento terral fazendo com que quebrassem alinhadas do começo ao fim. Surfei na água gelada sem roupa de borracha e depois comemos uma saborosa tainha num restaurante bem ali em frente. Foi minha primeira surf trip. Ontem, 43 anos depois, refiz parte do mesmo trajeto, entre Rio Grande e a Praia do Rosa. 


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Há duas semanas, depois de ter sido expulso do mar pela maior série do dia (ver coluna A Despedida do Pacífico), tomei o rumo leste para cruzar os Andes e adentrar a Argentina. Desde então não surfei mais. Meu plano inicial era ir até Mar del Plata, mas a previsão indicava que não haveria ondas. Segui direto para o Uruguai, onde percorri o litoral inteiro, de ponta a ponta, passando por praticamente todas as praias. Mas não tive sorte nem com a ondulação nem com o vento. Poderia ter forçado a barra em alguns picos, mas a água gelada e a temperatura baixa em terra não me entusiasmaram.

 

Estive ocupado com outra missão também, que deu uma canseira mas resultou bem sucedida. Consegui entrevistar, para o documentário que estou gravando, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Seu modo de ver o mundo em geral, e em particular de como devemos gastar nosso tempo, o bem mais precioso que possuímos, foi uma das grandes inspirações para que eu me dispusesse a investir nove meses da minha vida nessa viagem que agora entra na sua etapa final. Fui acolhido com muito carinho por ele, que adentrou os 87 anos de idade, mas continua plenamente lúcido e dirigindo seu trator, e saí de nossa conversa seguro de que havia feito a coisa certa.

Pois bem, cá estou, já em território brasileiro, hospedado gentilmente por mais um grande amigo que a estrada me presenteou – o @luiz_a_t_ das @cabanaspraiadorosa – com somente mais uma semana pela frente, antes de estacionar minha moradia ambulante e pranchas por um tempo. Quanto tempo? Não sei, mas estaria mentindo se dissesse que ainda não possuo planos para a próxima surf trip. Tenho sim, não para uma, mas para várias. Por agora irei me dedicar a recarregar as energias e passar bons momentos com a família e amigos, mas assim que as condições se alinharem novamente, pode ter certeza, não resistirei ao chamado para mais uma vez partir em busca da efêmera onda perfeita.

P.S. Saí para checar as ondas com meu anfitrião, conhecido por aqui como o Luiz Carioca, e até tinha uma brincadeira boa no Rosa Norte. Mas terminei a manhã foi no Rosa Sul, mais especificamente no Portinho, comendo uma deliciosa mariscada com feijão e farinha de mandioca, dentro de um dos ranchos de pesca onde ficava acampado no início dos anos 80. Desci o barranco para filmar os pescadores puxando a canoa e me convidaram para acompanhá-los na refeição cozinhada em fogão de lenha. Fui transportado no tempo com essa experiência memorável. Meu muito obrigado aos pescadores do Portinho pela recepção calorosa. Como eu ia dizendo, a viagem nunca acaba. 

Acompanhe a rota de Pan-American Soul pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip Pan-American Soul 2022, da
Califórnia até o Brasil. 

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