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Pan-American Soul 2022: Tensão em dose dupla

Encarar dois furacões na mesma semana não estava nos meus planos. Aliás, nem mesmo com apenas um eu estava contando quando parti de Punta Abreojos em direção a Loreto, uma simpática cidadezinha às margens do Golfo da Califórnia, portanto, sem ondas. Meu plano era ficar ali um par de dias desfrutando de um quarto com internet e ar condicionado, que permitisse colocar em dia questões profissionais e pessoais pendentes depois de vários dias acampado no deserto incomunicável.

texto e fotos por Adrian Kojin / Editor Especial da HARDCORE 

O que eu não sabia é que duas tempestades tropicais já estavam engatilhadas, com mira apontada na direção da Baja Califórnia. A primeira, me pegou a caminho de Scorpion Bay, talvez o pico mais lendário da Baja Califórnia, com sua série de point breaks que, quando conectam, a tornam uma onda rival de Chicama, no Peru, em distância percorrida pelo surfista. Ou seja, uma das mais longas do mundo.

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Eu havia programado minha chegada em Punta San Juanico, o nome original do lugar, para coincidir com a de um potente swell. Mas o furacão atropelou meus planos sem dó. A ventania intensa durou dois dias sem parar, com o maral desfigurando as linhas da ondulação, que chegou como previsto, mas encontrou a condição mais adversa possível. Trancado dentro da van à noite, tentando pegar no sono sem sucesso, a sensação que eu tinha era de que o vento ia tombar meu abrigo de lata, que sacudia de um lado para o outro de maneira assustadora.

Quando tudo se acalmou, no meu terceiro dia no povoado, finalmente foi possível ir para a água surfar. Mas aí o swell já havia perdido boa parte de sua potência. Ainda assim foi divertido, com ondas de 3 a 4 pés distribuindo alegria para um contingente verdadeiramente internacional de surfistas, com os americanos liderando em número, seguidos pelos mexicanos, que dominavam o pico com uma combinação de conhecimento e um tanto de intimidação, e uma variada gama de nacionalidades, de japoneses a europeus do leste.

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Vai longe o dia em que Scorpion Bay era um bem guardado segredo do conhecimento de poucos. Hoje é um dos pontos de parada obrigatórios na rota de peregrinos do surfe, principalmente aqueles pós pandemia, em número cada vez maior, que se movem em vans pelo deserto e encontram ali condições excelentes para passar alguns, ou muitos, dias. As ondas são incríveis, o visual do lugar é maravilhoso, a área destinada a acampamento é segura e mantida limpa. Uma cantina com internet e banheiro com ducha fecha o prático pacote de comodidades.

Aproveitei o quanto pude, mas o tempo todo de olho no mapa do tempo. O próximo furacão no radar estava lá roxo, muito mais ameaçador que o primeiro. Se ele mantivesse a rota iria atingir o porto de La Paz bem na noite em que eu havia reservado para fazer a travessia do Golfo da Califórnia. Do outro lado, em Mazatlan, meu filho Keone estaria me esperando para passar a fazer parte da viagem por algumas semanas.
Caso o navio que transporta passageiros, carros e caminhões de carga não pudesse partir devido às condições climáticas, nosso encontro teria que ser adiado por alguns dias, até tudo se acalmar.

Abreviei em um dia minha estada em Scorpion Bay. A ameaça de estradas interrompidas pelas fortes chuvas eminentes era grande. A última coisa que eu desejava era ficar preso no meio do deserto entre dois rios secos repentinamente transbordando de água descendo das montanhas. Ou isolado em Scorpion Bay aguardando a volta da normalidade. As conversas na cantina em torno dos computadores mostrando na tela a previsão do tempo era tensa. Muita gente deixando o lugar, outras se preparando da melhor maneira possível para passar um tremendo de um sufoco.

Dei pista, acelerei pelo deserto e cheguei junto com a chuva em La Paz, outro porto à beira do Golfo da Califórnia. A primeira etapa da fuga havia sido cumprida com sucesso. Agora era torcer para que o navio partisse no dia seguinte. Acordei cedo e fui até o porto me informar. Disseram que sim, que iria dar para fazer travessia, mas que estivesse preparado para mar grosso. No meio da tarde passei a inspeção alfandegária, com a pesagem e medição do comprimento da minha van na sequência. Dali segui para o embarque no enorme porão do navio, onde a deixei estacionada e me dirigi ao salão de passageiros.

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A partida ocorreu no horário previsto, 7 da noite. Já a chegada do outro lado atrasou 5 horas. Deveríamos atracar às 7 da manhã, mas ondulações enormes enviadas pelo furacão dificultaram o avanço, com o navio adernando fortemente durante toda travessia. Avistamos terra só perto do meio dia. Quase não dormi devido ao desconforto, mas nada disso importou mais no momento em que encontrei meu filho e o abracei forte após vários meses distante. Estávamos juntos finalmente, e o swell provocado pelo furacão prometia boas ondas para os próximos dias em vários dos picos mais ao sul que eu havia visitado 35 anos atrás. E agora iria surfar novamente junto com Keone.


Acompanhe a rota pelo @panamericansoul2022.

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* Nesta seção, o Editor Especial da HARDCORE, Adrian Kojin, traz com exclusividade os diários da sua road trip “Pan-American Soul 2022”, da Califórnia até o Brasil. 

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