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O surf olímpico deve ser realizado em uma piscina de ondas?

Após a conclusão das disputas de surf dos jogos olímpicos em um cenário decepcionante em termos de onda, ou, melhor, a falta de ondas, vem ganhando força um movimento que pede as disputas olímpicas sejam realizadas em ondas artificiais em Los Angeles 2028.

Boa parte das vozes que pedem a introdução das piscinas de onda vem de jornalistas de fora do surf, mas com tradição na cobertura dos jogos olímpicos. Em sua conta no twitter, Cassio Zirpoli, que cobre competições de futebol escreveu:

A Globo transmitiu a semifinal do surfe masculino e não teve uma mísera onda nos últimos 20 minutos da bateria… Foram 20 minutos de dois caras sentados na prancha em alto mar, e só. Golpe duro para a própria modalidade na TV aberta. Frustrante como evento”.

Ao comentar sobre a eliminação de Gabriel Medina das semifinais contra Jack Robbinson, na qual o brasileiro só conseguir surfar uma única onda, Eric Faria, repórter da rede Globo que está cobrindo os Jogos, declarou: “Perder a chance de medalha por não conseguir competir é contra a essência do esporte”.

Outro que externou sua frustração com as finais do surf olímpico foi o jogador Neymar Jr. Em suas redes sociais ele postou: “Eu acho que o Surf não é um esporte justo!”.

Quem também se mostrou favorável à mudança para ondas artificiais foi o jornalista e historiador Eduardo Bueno. Em um vídeo bastante crítico sobre o tema, intitulado: “Não deu onda no Rio Sena”, onde aborda vários aspectos sociais e culturais ligados ao surf e sua ancestralidade polinésia, Bueno pondera que a mentalidade dos Jogos não é compatível com a essência do surf e que, portanto, a única solução seria transferir a competição para as ondas artificiais, onde é possível estabelecer uma “necessária” (do ponto de vista do negócio) padronização.

Surf olímpico piscina
Acompanhar Medina “boiando” por 20 minutos sem poder reagir definitivamente não foi positivo para a imagem do esporte perante uma audiência global. Foto: COB

Mas jornalistas e personalidades de fora do mundo do surf não foram os únicos a reprovar a competição e pedir mudanças para as ondas artificiais.

O Beach Grit publicou um longo texto, assinado por JP Currie, no qual, com a devida carga ácida que lhe é peculiar, avalia que “se o surfe tem um futuro olímpico, deve ser em uma piscina de ondas”.

O próprio bicampeão mundial, Filipe Toledo, comentou em uma postagem do Instagram AOS Mídia sobre o tema, que “Durante os Jogos, o esporte deveria ser disputado nas piscinas e que seria uma forma mais justa de consagrar o campeão olímpico”.

E até o momento, as vozes que se mostram contrárias à ideia de que as medalhas sejam disputadas em ondas artificiais em Los Angeles 2028, argumentam que o ideal seria uma janela de espera maior do que a atual, afinal, trata-se de uma competição na qual os atletas se preparam por quatro anos e que, portanto, dada a imprevisibilidade do mar, seria muito mais prudente estipular um período maior para a realização da competição. “Não concordo que a piscina seria uma solução. A solução ideal seria uma janela com mais dias de espera!”, ponderou o preparador físico de Gabriel Medina e colunista de Hardcore, Allan Menache.

Em termos comerciais e dentro do modelo de negócio do COI, não há dúvidas de que as ondas artificiais são a melhor solução, mas, pensando em todos os aspectos, o que se perde e o que se ganha com essa mudança?

Do lado positivo, o Surf Ranch, está localizado em Lemoore, na área rural da Califórnia e a cerca de 330 km de Los Angeles e proporciona uma estrutura padronizada, onde os surfistas competem individualmente e têm um número limitado de ondas. Ou seja, não há a necessidade de se investir na construção de outra piscina.

Ondas artificiais eliminam a incerteza das condições climáticas, garantindo que a competição ocorra sem interrupções. Ao contrário do mar, a piscina oferece consistência e previsibilidade, o que é crucial para o apertado calendário olímpico. No Circuito Mundial, a etapa na onda artificial de Kelly Slater dura apenas três dias, um trunfo significativo para a logística dos Jogos Olímpicos.

Backdoor Shootout
Mas privar o mundo olímpico de assistir a uma competição em ondas como essa em nome da “estabilidade” será mesmo o melhor caminho? Foto: Reprodução Surfline

Por outro lado, existem aspectos negativos que não podem ser ignorados. A imprevisibilidade do ambiente natural, que é uma parte essencial do surfe no mar, se perde em uma piscina de ondas. Essa imprevisibilidade contribui significativamente para a emoção e o suspense de uma bateria de surfe. A leitura do mar, o posicionamento no outside e a capacidade de remada são habilidades cruciais para um surfista, e essas competências se tornam menos relevantes em uma piscina de ondas.

Nesse sentido, a previsibilidade das ondas artificiais pode tornar a competição menos emocionante. Todos já sabem o que esperar, o que pode diminuir o entusiasmo dos espectadores e dos próprios atletas. Apesar da evolução tecnológica, muitos argumentam que um bom dia de ondas oceânicas supera qualquer piscina de ondas.

Por fim, a Califórnia é conhecida por suas excelentes condições de surfe. Locais como Trestles, que sediaram as finais do Circuito Mundial nos últimos três anos (2021 a 2023), oferecem ondas de alta qualidade que poderiam ser usadas para a competição olímpica. Utilizar essas ondas naturais poderia manter a essência do surfe e proporcionar uma competição mais autêntica e emocionante.

Enquanto a mudança para uma piscina de ondas nas Olimpíadas de Los Angeles 2028 traz vantagens significativas em termos de padronização, previsibilidade e logística, também sacrifica a emoção e a autenticidade inerentes ao surfe no mar. A decisão final deve considerar o equilíbrio entre esses fatores, buscando proporcionar a melhor experiência possível para atletas e espectadores, preferencialmente sem descartar a essência do esporte.

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