Mariana Broggi*
Direto do Panamá
A temporada de 2022 da WSL foi marcada por uma série de mudanças no formato das competições. Entre as novidades, o Mid Season Cut (corte no meio da temporada) foi o que gerou mais polêmica, porque fez os atletas viverem diante de uma enorme montanha russa de emoções.
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Com novas ondas no calendário e o circuito renovado, o WSL Championship Tour 2022 começou com 36 homens e 18 mulheres em cada etapa – mesmo número do que os anos anteriores. No entanto, no meio da temporada – mais precisamente após a quinta etapa, a de Margaret River, na Austrália – houve um corte no número de competidores, eliminando 14 atletas no masculino e 8 no feminino.
Dessa forma, os TOP 22 do ranking dos homens e as TOP 10 das mulheres já garantiram a classificação automática para o circuito principal de 2023. Já os atletas que ficaram abaixo da linha do corte passaram a correr o Challenger Series, que conta com a disputa entre 96 atletas no masculino e 64 no feminino.
No caso dos homens que estão no CS, são apenas 11 vagas em jogo para o CT de 2023 e, para as mulheres, apenas 5. Ou seja, não tem como negar que a concorrência é gigantesca.
Entre os nomes brasileiros que perderam a vaga na elite após a implementação do corte, está Deivid Almeida da Silva, mais conhecido como DVD. O surfista local da Prainha Branca, no Guarujá, já disputava o CT desde 2019 e ano após ano ganhava experiência e ainda mais força.
No ano passado, DVD chegou a ser vice-campeão na etapa do México, em uma final contra o australiano Jack Robinson. “O ano passado foi um ano incrível para mim e eu realizei esse sonho de fazer uma final no CT, mas ainda quero voltar para poder vencer uma etapa”, conta ele à Hardcore.
A trajetória de Deivid Silva
Deivid Silva está com 27 anos e começou a surfar muito cedo, quando tinha apenas 3 anos de idade. Filho de surfista, ele já nasceu inserido no universo das competições. “Quando meu pai ia para os campeonatos, alguns profissionais e alguns regionais de Maresias, São Sebastião ou até Mongaguá, eu sempre ia com ele e quando ele subia no pódio eu também subia junto para poder carregar o troféu e acho que isso me fez ir pegando gosto”, conta.
Como profissional, Deivid, entretanto, só começou com 18 anos e já no ano seguinte conquistou vaga para o Challenger Series. “Eu fiz terceiro no Mundial Pro Júnior e, na época, os quatro primeiros recebiam vaga para correr o Challenger o ano inteiro e depois disso eu já não sai mais”, conta.
Até chegar no Tour em 2019, o surfista disputou o Challenger Series por cinco anos e, durante todas aquelas temporadas, bateu na trave da classificação para a elite. Mas, com persistência e dedicação, no sexto ano ele alcançou a almejada vaga. “Eu vejo que todo esse processo foi bom, porque na verdade, a gente vai competindo com pessoas de todo o mundo e vai crescendo e aprendendo cada vez mais”, comenta.
Desde 2019, DVD não tinha saído mais da elite e como todos os atletas – ou pelo menos quase todos – a novidade do Mid Season Cut também não o agradou. “Na verdade, eu achei o corte desnecessário, porque entra um cara da nova geração que lutou muito tempo para estar ali e ele corre o risco de só correr meio ano se estiver na parte de baixo do ranking, então eu acho um pouco injusto”, revela. “Mas, eu acho que se colocaram esse formato, a gente tem que se acostumar e, mesmo se tentarem nos parar, a gente vai lá e faz melhor ainda de novo”, finaliza com motivação.
Challenger Series
No circuito Challenger Series desse ano, DVD alcançou o seu melhor resultado na etapa de Manly Beach, em Sydney, na Austrália, com um 5º lugar. “O bom resultado em Manly foi um ponto positivo que me trouxe muita motivação para seguir forte para a briga pela vaga pro CT”, comenta.
A última etapa disputada no CS foi o Vans US Open, em Huntington Beach, na Califórnia. Apesar de não ter alcançado um bom resultado, DVD tem pela frente eventos em ondas que ele gosta muito. “Agora tem Ribeira D’Ilhas em Portugal, que é um lugar que eu amo, e Saquarema, onde a gente vai contar com toda a torcida e com toda a família na areia, e depois vem o Havaí, que é uma direita alucinante que eu tenho boas lembranças, porque já fiz final em Haleiwa”, conta ele de forma otimista.
Com a experiência de um atleta que já disputou vários anos o CT, DVD segue como um adversário que pode dar muito trabalho aos seus concorrentes. Por enquanto, ele ocupa a 24ª colocação no ranking do Challenger Series e, consequentemente, está fora do TOP 11 que garantem a classificação para o Tour principal, mas ainda tem muito chão pela frente. “Eu vou com tudo e o foco é surfar com diversão para fazer bons resultados”, conta ele.
De fato, o Challenger Series tem a vantagem de trazer muitos ensinamentos e a oportunidade de correr com outros surfistas que também estão nesse mesmo processo com muita força de vontade. “É bom estar no Challenger Series, porque cada ano que você está ali você cresce muito e vai corrigindo os erros para chegar mais preparado para o Tour”, conta ele.
Pontos a melhorar
Diante dos desafios da carreira profissional, os atletas estão sempre em busca de trabalhar os pontos mais fracos, para alcançar resultados positivos de forma mais constante, independente do tipo de onda.
Com relação ao assunto, DVD revela que sabe exatamente em que condições precisa melhorar. “Eu quero melhorar em onda forte e tubular e também na apneia para poder pegar as ondas maiores, porque não tem como não ter aquele medinho da onda de Teahupoo e Pipe”, conta ele. “Essas são ondas totalmente poderosas que a gente não tem nada muito parecido no Brasil para treinar, então é mais difícil por isso”, finaliza.
Sem sombra de dúvidas, sair do CT no meio do ano, fez o brasileiro crescer muito e se ele conseguir de novo a tão almejada vaga, deve chegar ainda mais confiante. “Eu estou focado para chegar ainda mais forte e, se Deus quiser, conseguir me manter no Tour por muitos anos”, finaliza DVD.
*A repórter viajou ao Panamá para cobrir o Pan-Americano de Surf a convite dos organizadores do evento e conversou com o atleta.