No último dia 14, Huntington Beach, na Califórnia (EUA), foi palco do maior encontro de surfistas negros do mundo, o Great Day in the Stoke. Em sua segunda edição, o evento reuniu surfistas de diferentes partes do planeta, celebrando a representatividade negra no esporte, que historicamente tem sido dominado por pessoas brancas. Criado em 2022 por Nathan Fluellen, o encontro tem como objetivo central promover a união das comunidades negras e afro-americanas ligadas ao surf, quebrando barreiras raciais e sociais no esporte.
Inspirado por eventos icônicos como A Great Day in Harlem (1958) e A Great Day in Hip Hop (1998), o Great Day in the Stoke surgiu como uma resposta aos movimentos de justiça social que se intensificaram nos Estados Unidos após os assassinatos de George Floyd, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor. Fluellen queria criar um espaço seguro e inclusivo, onde surfistas negros pudessem se conectar, competir e ser vistos como uma força a ser reconhecida no mundo do surf.
A edição deste ano foi marcada pela participação de surfistas brasileiras, que conquistaram os holofotes ao dominar a competição feminina. O movimento Surfistas Negras, criado no Brasil para abrir oportunidades e espaços para mulheres negras no surf, teve uma grande representação, com as atletas Monik Santos, Erica Prado, Yanca Costa e Mary Oliveira formando o pódio feminino.
Monik Santos, destaque da competição, sagrou-se campeã da categoria de pranchinha feminina. “Foi muito acolhedor e necessário”, disse Monik após sua vitória. “Eventos como esse são muito importantes para que nós, surfistas negras, tenhamos mais oportunidades de inclusão no esporte, com o objetivo de incentivar novos atletas a se tornarem surfistas. Participar do Great Day in the Stoke foi um sonho realizado.” A final feminina foi inteiramente brasileira, com Yanca Costa em segundo lugar, Erica Prado em terceiro e Mary Oliveira em quarto. As atletas foram carinhosamente apelidadas de “Brazilian Chocolate Storm” pelos organizadores e pelo público presente.
+ Caballitos de Totora: Artigo defende o Peru como berço do surf mundial
Rusty White, ex-surfista profissional e uma das principais vozes negras no cenário do surf na Califórnia, expressou sua admiração pela presença das brasileiras no evento: “O que mais me impressionou foram as surfistas que vieram do Brasil para fazer parte disso. Isso mostra que não estamos apenas na Costa Leste ou Oeste dos Estados Unidos. Estamos literalmente em todo o mundo”, afirmou White, que, nos anos 90, era frequentemente o único competidor negro nas competições profissionais amadoras pela costa da Califórnia.
O Movimento Surfistas Negras, liderado por Erica Prado, foi homenageado durante o evento por seu papel fundamental na inclusão e suporte às mulheres negras no esporte. “Temos um grupo virtual com 200 mulheres, e além de organizarmos eventos, temos uma equipe de surfistas profissionais e oferecemos suporte financeiro e empresarial para sete atletas”, explicou Prado.
Na categoria masculina, o título ficou com o norte-americano Julian Williams, mas foi a energia e a presença das mulheres que marcaram a edição deste ano. “Esse evento é mais do que um encontro”, declarou o organizador Nathan Fluellen. “É um movimento. Estamos aqui para quebrar barreiras e garantir que os surfistas negros não apenas sejam vistos, mas que sejam uma força a ser reconhecida no mundo do surf. As Olimpíadas de 2028 são uma grande oportunidade, e estamos nos esforçando para que nossa presença seja sentida nesse palco global.”
O Great Day in the Stoke de 2023 se consolidou como um espaço de empoderamento e inclusão, onde o mar não conhece barreiras de cor, e onde sonhos, como o de Monik Santos, podem ser realizados com a união de uma comunidade.
Ver essa foto no Instagram