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Medina vence Italo em final antológica e é campeão em J-Bay

Gabriel Medina é campeão do Corona Open J-Bay com atuação antológica em final contra Italo Ferreira

Por Redação HC

A expressão “fazer história” muitas vezes é empregada de maneira exagerada em eventos esportivos. Mas não é o caso quando for se referir à edição de 2019 do Corona Open J-Bay de 2019, sexta etapa do Circuito Mundial da WSL nesta temporada, finalizada nesta sexta (19) com uma conquista antológica de Gabriel Medina.

Fazia 35 anos que ninguém era campeão surfando de costas para a onda na legendária direita — a última vez havia sido com o australiano Mark Occhilupo, em 1984. Gabriel Medina e Italo Ferreira quebraram esses script ao chegarem os dois a uma inédita final entre goofy-footers no pico. Histórica também para o Brasil, que pela primeira vez teve os dois finalistas ali.

Como se isso não bastasse, a maneira como Medina conquistou o título, chegando próximo de duas notas 10 (9,73 e 9,77) na grande decisão, é algo que constará nos livros de história do surfe para sempre.

Filipe Toledo era o atual bicampeão da etapa e o grande destaque desta edição até o dia decisivo. Ele chegou até a semi, quando foi derrotado por Italo, também em uma atuação incrível. Na outra semi, Kolohe Andino foi derrotado por Gabriel. O californiano deixa a África do Sul com motivos para comemorar: ele é o novo líder do ranking entre os homens.

Filipe é o segundo, Italo é o quarto, Kanoa Igarashi é o quinto, Jordy Smith é o sexto e Medina, o sétimo — agora com uma diferença muito menor para o pelotão da frente.

Entre as mulheres, Carissa Moore venceu Lakey Peterson na final e, assim, assumiu também a liderança do ranking.

Na semifinal, Carissa venceu com autoridade a estreante Caroline Marks. Da mesma maneira, Lakey, que também foi vice em J-Bay na edição de 2018, venceu a havaiana Malia Manuel: com um surfe muito mais encaixado e notas muito mais altas.

Carissa Moore estava emocionada após a conquista: era sua terceira final em 2019 e por muito pouco ela não ficou com o terceiro vice-campeonato no ano. Indo para a segunda metade do ano, ela compartilha uma característica com Gabriel Medina: os dois tem amplo favoritismo nas etapas restantes (Gabriel é o único entre os homens que venceu em todas elas – Teahupoo, piscina de ondas, Peniche, Hossegor e Pipeline).

Semi-final com três brasileiros

A primeira bateria do dia foi entre Gabriel Medina e Owen Wright. Em ondas ainda pequenas, como as da quarta, que Filipe havia descrito como “mini J-Bay”. Gabriel vencia com notas baixas até que o primeiro pulso da ondulação que fez a direção de prova adiar o último dia de prova até hoje chegou. Uma série encorpada, de 6 a 8 pés, com outro ritmo e outra formação — também porque o vento terral soprava forte. Gabriel pegou a primeira dessas, manobrou nas primeiras sessões e saiu a fórceps de um tubo no inside para conseguir a primeira nota excelente do dia, 9 pontos.

Ao final da bateria, perguntaram a Gabriel como era competir com sua mãe e seu pai na areia, torcendo.

— É legal, é como nos velhos tempos.

Com 25 anos, tem-se — e o próprio Gabriel tem — a impressão de que ele está há décadas no Tour.

Kolohe Andino acertou um alley oop perfeito para vencer um Adrian Buchan que teve dificuldades com as condições do dia. Ele tinha pegado de volta sua prancha Mayhem, depois de surfar o campeonato inteiro com uma DHD, e parecia muito mais à vontade.

Filipe Toledo fez uma bateria tensa contra Sebastian Zietz, virando apenas na última onda. O havaiano apostou alto nos tubos mas não conseguiu sair daqueles que poderiam ter lhe dado a vitória, inclusive a última onda do duelo, na contagem regressiva. Filipe também havia trocado de prancha, apostou nas quartas em um modelo maior da sua Sharp Eye, e com a rabeta round pin, um pouco menos solta e mais veloz que swallow que vinha usando até então.

Italo Ferreira amassou Kanoa Igarashi com a melhor atuação das quartas, uma linha perfeita conectando manobras sem bater a prancha e sem perder velocidade. Com o mar grande, mudava o cenário dos favoritos naquela onda, e Kanoa passava de destaque do campeonato a um surfista comum. A combinação de escolha de equipamento com a leitura de onda de Italo, por outro lado, dava uma leve aura de invencibilidade ao potiguar.

Final goofy e tabu quebrado

O melhor trato com ondas grandes também foi o diferencial na primeira semi, Medina contra Kolohe. Gabriel não fez um surfe espantoso, mas escolheu sempre as maiores ondas. Foi recompensado. Kolohe completou outro alley oop perfeito em sua melhor onda, mas este não era o mesmo mar em que Filipe foi campeão, dois anos atrás, acertando dois aéreos na mesma onda. J-Bay grande e perfeito é um ativo raro e precioso e os juízes fizeram questão de valorizar quem as escolhesse. As ondas de Kolohe foram todas pequenas e ele entendeu bem a eliminação.

A outra semi foi o início de um espetáculo que duraria até o final da etapa. Italo manteve seu ritmo e abriu com um 7,67, arrancado dos juízes com uma combinação de floater, rasgadas e batidas, incluindo uma muito forte na junção. Filipe reagiu com uma onda que poderia muito bem se tornar um clássico instantâneo de J-Bay. Rabiscou toda a parede de uma direita com estilo e velocidade, encontrou um tubo limpo, embora não muito profundo, e ainda mandou mais duas manobras na sequência. Vintage.

Mas Italo veio em uma onda maior, pouco depois, e surfou a onda inteira no limite, sem uma hesitação, as últimas manobras duas facadas no topo de um direita grande e fumegante de Jeffreys Bay, para aterrissar no vazio, tranquilo, como se não fosse nada. 9,5. Filipe demorou para apostar na segunda onda. Quando o fez no final do duelo, caiu da prancha. O sonho do tri acabava.

Ao mesmo tempo, os goofies estavam vingados. Eram dois deles na final (dois brasileiros) e a certeza do final de um jejum de 35 anos.

Italo seguiu no modo implacável na final, 9,10 na primeira onda. Medina saiu parcialmente do afogamento com a sua melhor arma: as maiores ondas. Neste caso, a maior do dia. Dez pés de face, tranquilo. Foram três manobras, a última delas uma patada sem precedentes no lip de uma junção monstruosa. Na história recente, não há nada parecido com aquilo nos registros de J-Bay. Alguns juízes deram nota 10. Ficou perto.

Nos dias que precediam a etapa, Gabriel postou em seus stories, no Instagram, uma imagem que destoava do seu conteúdo tradicional. Em vez de seus treinos, uma brincadeira com seus amigos ou algum momento com a família, uma raridade: surfe.

Quem era o surfista que Gabriel estava assistindo antes de J-Bay? Mark Occhilupo.

Italo liderava a bateria e pressionou Medina com mais duas notas boas enquanto o bicampeão mundial tinha que lidar com uma incômoda prioridade — se errasse na escolha da onda, não teria outra chance.

Foi na primeira de uma série. Entrou e saiu e já foi remando para a de trás, maior.

Batida, um floater de uns 10 metros, não tão grande quanto aquele de Bells Beach, mas algo assim. Mas algumas manobras, incluindo uma rasgada parecida com a de finalização da onda anterior, um movimento um pouco diferente do que costuma fazer. Medina está melhorando e desenvolvendo novas manobras. Até quando vai seguir evoluindo?

No final dessa onda, uma passada acelerada e o melhor tubo do campeonato. A nota chega próxima do dez e Italo está em combinação. Gabriel Medina campeão.

O número de etapas que Medina não venceu no Circuito Mundial cai para quatro: Bells, Margaret River, Brasil e a recém-promovida Keramas. Gold Coast, França, Portugal, Taiti, Pipeline, Surf Ranch e, agora, J-Bay estão todas no currículo.

Próxima parada: Teahupoo, Taiti — onde Gabriel chegou nas últimas quatro finais, vencendo duas delas — entre os dias 21 de agosto e 1 de setembro.

Corona Open J-Bay – Resultados

FINAL MASCULINA:
Gabriel Medina 19,50 x 16,77 Italo Ferreira

Sf1. Gabriel Medina 14,30 x 14,00 Kolohe Andino
Sf2. Italo Ferreira 17,50 x 14,00 Filipe Toledo

Qf1. Gabriel Medina 15,67 x 14,60 Owen Wright
Qf2. Kolohe Andino 15,43 x 14,10 Adrian Buchan
Qf3. Filipe Toledo 15,00 x 14,40 Sebastian Zietz
Qf4. Italo Ferreira 15,53 x 12,37 Kanoa Igarashi

FINAL FEMININA:
Carissa Moore 15,47 x 14,60 Lakey Peterson

Sf1. Carissa Moore 14,33 x 12,67 Caroline Marks
Sf2. Lakey Peterson 15,27 x 11,00 Malia Manuel

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