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Medina (quase) salva 1º dia de Freshwater Pro do tédio profundo

Freshwater Pro começa sem público e sem emoção no Surf Ranch. “Estou cansado de tirar as mesmas notas de gente que surfou menos que eu”, diz Yago Dora

Por Fernando Guimarães

“É difícil de levar esse evento a sério”, disse Jeremy Flores, após surfar suas primeiras ondas no Freshwater Pro, oitava parada do Circuito Mundial da WSL, que começou nesta quinta (19). Ele havia sido questionado por Rosy Hodge sobre o que poderia melhorar para as próximas ondas — mais uma tentativa para cada lado. Seu rosto explicava o que as palavras não disseram: nada, ele não tinha a menor vontade de surfar ali e a ideia de um campeonato neste formato no meio de um circuito mundial que funciona inteiro de outro jeito era, para ele, bizarra, um nonsense completo, um desperdício de tempo e energia.

A verdade é que o Freshwater Pro é o evento mais chato de acompanhar de todo o CT, pelo menos em seu primeiro dia. A WSL emplacou uma concorrência forte com o começo das demais etapas no novo formato adotado em 2019, em que um surfista pode ficar em terceiro lugar no round 1, em segundo lugar no round 2 e ainda assim ele continua no campeonato, podendo até, quem sabe, chegar a ser campeão; mas nada é mais tedioso do que a repetição mecânica das ondas com horário marcado até para cada sessão de manobra.

A imprevisibilidade do oceano — você nunca sabe exatamente quando nem como uma onda vai entrar — é uma das coisas mais legais do surf como esporte competitivo. Mas não é só a ausência desse elemento que faz do campeonato no Surf Ranch uma longa e tediosa experiência. As possibilidades naquelas ondas são limitadas. Inclusive para a grande maioria dos melhores surfistas do mundo. Esses que nós ficamos assistindo hoje.

Altas ondas em Lemoore (reprodução)

Yago Dora foi um dos melhores do dia, com algumas das manobras mais expressivas, mais fora da caixa. Suas notas, entretanto, não refletiram isso, e ele corretamente atacou os juízes ao conceder sua entrevista.

“Não estou contente com a maneira com que estou sendo julgado”, disse ele. “Estou cansado de tirar as mesmas notas de gente que surfou menos que eu”, continuou, agravando a acusação.

Em sua bateria, Yago acabou atrás de Italo Ferreira e Conner Coffin na soma da melhor esquerda e da melhor direita, apesar de ter feito o surfe mais radical. A diferença acabou nas ondas de backside, melhor avaliadas para Conner e Italo.

Yago e Jeremy fizeram um favor ao demonstrar abertamente seu descontentamento com a etapa. Ao mesmo tempo em que pressionam por alguma mudança, oferecem algum entretenimento ao espectador, já que o surf…

A rotina de manobras de quase todos os surfistas é muito parecida, o tubo é sempre igual e é difícil ficar muito fundo. O cansaço e a corrida para não ser passado pra trás parece sugar a criatividade e a potência da maioria dos movimentos. Mesmo com diferenças entre cada um, às vezes mais claras, às vezes mais sutis, é muito difícil lembrar alguma coisa importante ou que chama muito atenção em alguma onda surfada.

À exceção de um dos surfistas que entraram no tanque nesta quinta, que realmente se diferencia dos demais.

Gabriel Medina não só foi o melhor disparado na piscina, tanto na plasticidade do surfe quanto nas notas recebidas (que muitas vezes são difíceis de decifrar, mas não com ele); ele é o cara que conseguiu fazer a competição no Surf Ranch ser algo realmente interessante, por alguns momentos. Ele faz isso combinando manobras de risco com entradas aparentemente impossíveis no tubo, com uma permanência e uma profundidade um pouco maior que a média lá dentro, e novamente com manobras de risco – via de regra, um aéreo rodando.

Infelizmente, por ser o único neste grupo, até agora, Medina não é o suficiente para salvar este primeiro dia de Freshwater Pro de um tédio profundo, que parecia contaminar o ar junto com o cheiro das pastagens e da região. Ninguém — ninguém — estava empolgado depois de surfar.

Os surfistas das quatro primeiras baterias já fizeram suas apresentações. Faltam as baterias de Jordy Smith e Filipe Toledo, talvez o único com potencial para fazer frente às apresentações de Gabriel.

Os dois primeiros de cada bateria estão automaticamente classificados. Os doze melhores entre os demais surfistas também se classificam para a segunda fase, que consiste, na verdade, na chance de surfar mais uma esquerda e mais uma direita cada um. Os oito com as melhores notas (melhor esquerda+melhor direita, incluindo as da primeira fase) vão para a final.

Griffin, Owen, Italo, Conner, Kelly, Gabriel, Ace Buchan e Julian Wilson já estão garantidos. Yago e Jessé Mendes fizeram notas melhores que de 12 caras que surfaram hoje, portanto também estão matematicamente garantidos.

Michael Rodrigues, Mateus Herdy, Peterson Crisanto e Jadson André foram muito mal e devem ser eliminados.

Freshwater Pro – resultados do 1º dia

Melhor esquerda+melhor direira = total

Bateria 1
01: Soli Bailey (AUS) – 6,50 + 6,50 = 13,00
02: Griffin Colapinto (EUA) 7,50 + 8,00 = 15,50
03: Michael Rodrigues (BRA) 5,17 + 5,30 = 10,47
04: Jeremy Flores (FRA) 5,83 + 5,40 = 11,23
05: Owen Wright (AUS) 6,33 + 6,93 = 13,26
06: Kanoa Igarashi (EUA) 5,87 + 7,03 = 12,90

Bateria 2
07: Mateus Herdy (BRA) 4,20 + 4,57 = 8,77
08: Yago Dora (BRA) 7,93 + 5,70 = 13,67
09: Joan Duru (FRA) 6,23 + 7,00 = 13,23
10: Conner Coffin (EUA) 6,57 + 7,50 = 14,07
11: Seth Moniz (HAV) 5,93 + 7,23 = 13,16
12: Italo Ferreira (BRA) 6,57 + 8,40 = 14,97

Bateria 3
13: Barron Mamiya (HAV) 5,50 + 5,07 = 10,57
14: Jessé Mendes (BRA) 6,87 + 6,43 = 13,30
15: Peterson Crisanto (BRA) 4,83 + 4,90 = 9,73
16: Deivid Silva (BRA) 6,07 + 6,17 = 12,24
17: Kelly Slater (EUA) 7,00 + 6,87 = 13,87
18: Gabriel Medina (BRA) 8,77 + 9,00 = 17,77

Bateria 4
19: Crosby Colapinto (EUA) 4,73 + 5,93 = 10,66
20: Jadson André (BRA) 4,97 + 5,97 = 10,94
21: Adrian Buchan (AUS) 6,30 + 7,40 = 13,70
22: Wade Carmichael (AUS) 6,73 + 6,03 = 12,76
23: Julian Wilson (AUS) 7,57 + 6,27 = 13,84
24: Kolohe Andino (EUA) 6,30 + 6,67 = 12,97

Bateria 5
25: Jett Schilling (EUA)
26: Ezekiel Lau (HAV)
27: Jack Freestone (AUS)
28: Caio Ibelli (BRA)
29: Ryan Callinan (AUS)
30: Jordy Smith (AFR)

Bateria 6
31: Kade Matson (EUA)
32: Ricardo Christie (NZL)
33: Sebastian Zietz (HAV)
34: Willian Cardoso (BRA)
35: Michel Bourez (TAH)
36: Filipe Toledo (BRA)

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