Gabriel Medina e Italo Ferreira dão show e fazem melhores notas do dia terceiro dia de Oi Hang Loose Pro Contest na Cacimba do Padre
Por Fernando Guimarães
Quando os dois surfistas que mais venceram na elite do surf mundial em 2018 confirmaram presença no Oi Hang Loose Pro, etapa de 6 mil pontos do QS que regressava a Noronha após um hiato de seis anos, a expectativa era alta. E os dois, até agora, tem correspondido. Gabriel Medina e Italo Ferreira foram os dois melhores surfistas desta quinta (21), terceiro dia de competição na Cacimba do Padre, com as melhores somas e notas individuais.
Italo conhece muito bem Fernando de Noronha e a Cacimba. O voo que parte de Natal-RN para o arquipélago é o mais rápido, e ele aproveita. Ano passado, fez sua pré-temporada ali, e deu a sorte de pegar uma das maiores ondulações dos últimos anos — preparação fundamental, sem dúvidas para o excelente ano que veio em seguida. Mas ele nunca havia competido ali. Escalado para a última bateria do round 2, precisou esperar o terceiro dia de competição para entrar na água, já com a expectativa no limite.
Seu surf foi digno da posição que ocupa no circuito mundial. Entrou na água na 12ª bateria do dia e manobrou com uma facilidade que ainda não tinha sido vista. O tom amarronzado das valas que chupavam a areia da bancada fez algumas de suas ondas lembrarem a da vitoriosa campanha do MEO Rip Curl Pro Portugal, etapa da elite mundial que ele venceu em 2018 com direito a uma das baterias mais progressivas da história — a semifinal em que derrotou Gabriel Medina.
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Antes disso, todos os cabeças de chave que haviam entrado na água conseguiram avançar, com exceção de um: Deivid Silva, que ficou atrás do grommet Brayner Silva e do californiano Ian Crane.
Yago Dora, Bino Lopes, Alejo Muniz, Peterson Crisanto, Evan Geiselman, Thiago Camarão, Vasco Ribeiro, Jake Marshall, Frederico Morais, Alex Ribeiro: todos avançaram ao terceiro round. Entretanto, alguns dos surfistas com seeding mais baixo estão se revelando boas surpresas da competição: Lucas Vicente, promessa do surf catarinense, é um deles, ao lado do próprio Brayner, que faz o melhor campeonato de sua carreira na categoria adulta da WSL. Entre os gringos, vale um destaque para o meio-brasileiro Ian Gentil, que representa o Havaí, para o britânico Luke Dillon e para o estadunidense Michael Dunphy.
A abertura do round três viu, logo de cara, a melhor onda do dia. Gabriel Medina, com uma leitura sobrenatural do pico, dropou debaixo do lip e muito atrasado no que 99% dos humanos julgaria ser apenas mais uma fechadeira. A onda fez uma bolha ao chegar na bancada e, enquanto Medina despencava para a base, abriu um tubo cavernoso, azul-cristalino, onde o bicampeão mundial desapareceu por alguns instantes antes de sair em pé. A onda então ficou marrom e ele saiu por baixo do lip que fechava no inside. Três juízes deram nota dez, e a média, com os descartes, foi para 9,93 — quase a segunda onda perfeita do evento (na foto de capa do post).
Gabriel ainda conseguiu varar a espessa cortina de outro tubo, que fechou na bancada com ele ainda dentro. De um jeito mais ou menos mágico, atravessou a sessão, tomando um pesado lip nas costas, como se não fosse nada. Assim, fez a maior soma do dia: 17,50.
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Ele acabou roubando a cena em uma bateria com potencial de final de CT, que incluía ainda Mateus Herdy, Ian Gouveia e Nat Young — este, inclusive, já fez uma final contra Medina em Fiji. Herdy perdeu-se no mar; Young apostou em manobras mais tradicionais na parede da onda e Ian, mais conhecido por seu talento debaixo do lip, resolveu ir para cima dele, e avançou em segundo com dois bons aéreos rodando para a esquerda.
A sequência do round três, que correu até a quarta bateria, viu mais uma série de boas apresentações — abaixo da dupla Italo & Medina, mas acima do restante no dia.
Primeiro, o australiano Reef Heazlewood igualou-se a Italo com a segunda melhor nota individual do dia: 9,17 por um aéreo de frontside monstruoso. O australiano é uma boa amostra da situação do mercado do surf em escala mundial: ultra-talentoso e cotado desde cedo como uma das promessas de seu país, foi bem no QS em 2018 e conseguiu se destacar no free-surf na temporada havaiana, com direito ao aéreo mais alto deste inverno nas ilhas (provavelmente). Ainda assim, foi cortado da equipe de seu antigo patrocinador, e em 2019 ostenta uma prancha inteirinha branca, apenas com o adesivo do shaper.
Jadson André fez apresentação excelente na terceira bateria. Com a confiança em alta após retomar sua vaga na elite mundial, completou um bom aéreo em sua melhor nota e fez a terceira melhor soma do dia, 15,34 pontos. A bateria foi um duelo de alto nível, em que o português Miguel Blanco superou Jessé Mendes, ficou com a segunda posição e eliminou do evento o top brasileiro do CT.
No último confronto do dia, Tomas Hermes aproveitou-se da variação na maré, que deixou as ondas mais cheias e com bastante área, para manobrar com agressividade na parede da onda e também superar os 15 pontos na média. Atrás dele, numa quase-dobradinha, avançou outro brasileiro naturalizado havaiano, Kiron Jabour.
Próxima chamada nesta sexta, às 7h da manhã no horário de Brasília. Fique ligado!