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Medina chega às quartas, pode conquistar bi mundial em Portugal

Gabriel Medina avançou até as quartas de final no terceiro dia de competições do MEO Rip Curl Pro em Peniche, Portugal, nesta quinta (18), e segue com chances de conquistar seu segundo título mundial ainda nesta etapa, a penúltima do ano no Circuito Mundial da WSL. Com a eliminação de Filipe Toledo mais cedo, ainda na terceira rodada, Medina precisa torcer para que Julian Wilson não chegue às semis, e então vencer a etapa.

Julian Wilson segue na competição, mas ainda não correu sua bateria da quarta rodada. Após realizar toda a terceira fase, o comissário Travis Logie anunciou que a terceira bateria de três atletas seria a última do dia.

Veja também: Filipe Toledo eliminado no R3, abre caminho para Julian e Medina

Do restante do pelotão brasileiro, apenas Italo Ferreira continua na competição. Ele também está garantido nas quartas de final e é um dos destaques do campeonato até agora. Jesse Mendes, Ian Gouveia, Tomas Hermes, Michael Rodrigues e Willian Cardoso foram eliminados. Com a saída no R3 em Peniche, Jesse e Ian chegarão ao Hawaii para a última etapa com chances praticamente nulas de requalificação pelo próprio CT.

Jesse surfou na primeira bateria do dia e foi bem. O mar ainda estava um pouco menor e tanto ele como Italo apostaram no ataque de backside às direitas. Até que o potiguar pegou uma esquerda pequena, acelerou e mandou um aéreo reverse alto, limpo, perfeito. A manobra deu a Italo a nota mais alta da bateria. Jesse correu atrás e tomou a dianteira novamente a dois minutos do fim. Só que, na regressiva, com menos de 10 segundos para a buzina, Italo martelou duas vezes uma direita e ouviu na areia que tinha virado sobre o compatriota.

É difícil apontar um erro nas estratégias ou no surf de Jesse em 2018. Talvez tenha faltado arriscar mais, como no aéreo em Keramas que lhe rendeu uma vitória sobre John John Florence. A bateria foi apertadíssima nas duas últimas trocas. Podia ter ido para qualquer um e mostrou outra vez quão subjetivo o julgamento pode ser.

Wilko e Jordy fizeram outra bateria muito apertada. Depois de apanhar o ano inteiro, Wilko parece ter caído nas graças dos juízes. O backside não é aquele que rendeu seguidas vitórias em temporadas passadas, mas as notas já estão chegando lá. Jordy não tem grandes ambições esse ano e também não correu muito atrás.

Kolohe Andino e Michael Rodrigues enterraram a borda na cavada e quebraram a linha de duas de suas ondas com mais potencial. Kolohe provavelmente teria passado se tivesse feito a linha limpa. Perdeu numa bateria empatado com Ezekiel Lau, que fez uma onda fenomenal para a abrir a bateria. Uma manobra forte e o espanco na junção, com pressão, força, na linha. Como comparar com uma onda em que seu adversário completa um tubo aparentemente impossível e sai do meio de uma massaroca branca de espuma para ainda fazer umas manobras numa onda já pequena, mas ainda com pressão? Foi a diferença nessas duas ondas que deu a Zeke a vitória. Às vezes o trabalho dos juízes simplesmente é muito difícil. (outra dúvida inevitável: que nota dariam se fosse Julian Wilson?)

Michael ainda falhou em completar uma outra onda depois de fazer um tubo lindo. De um jeito ou de outro, fazer um surf de linha, deslocar-se entre uma sessão e outra sem bater a prancha, parece ser o principal ponto a melhorar no surf do cearense para a próxima temporada. A boa notícia é que 1. é a apenas sua primeira temporada e 2. ele já se reclassificou e com certa folga. Quando conseguir combinar seu surf ultra-explosivo com uma linha sólida, espere por grandes estragos na elite.

Enquanto isso, um surfista como Michel Bourez, veterano de quase uma década de circuito e cuja especialidade é gerar momento e força em uma manobra sem bater a prancha, colhe as recompensas por isso com pontinhos a mais aqui e ali.

Bourez passou pelo seu quase-xará brasileiro com esses pontinhos, mas poderia ter sido com um tubo, o mais pesado e cavernoso do dia até aquela hora. Saiu pela porta do cachorro, meio desequilibrado e caiu na sequência. Juízes consideraram que não foi completo. Martin Potter ficou revoltado com a nota, 3,17. “Foi o melhor tubo 3,17 que eu já vi alguém surfar”. Ser juiz não é fácil, mas essa vai pra conta do head-judge.

 

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The best 3.17 I’ve ever had ?… into the quarters now ?? #peniche #portugal?? ? @tahitiandreamprod

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Gabriel Medina e Ryan Callinan fariam a bateria mais aguardada. Para alegria de quem assistia à transmissão em inglês, Mick Fanning estava novamente na cabine, comentando a bateria ao lado de Joe Turpel e Martin Potter. Fanning tem recordações vivas de como Medina abalou o circuito em 2011, fazendo dele próprio uma de suas vítimas desde então. Mas o australiano também tem uma relação mais próxima de Gabriel devido ao patrocinador em comum, e por isso consegue dar alguns insights que fogem às análises mais comuns, principalmente dos analistas de língua inglesa.

Dentro da água, brasileiro e australiano apostaram nos tubos no começo, nenhum saiu. Medina deu o primeiro golpe sério com um floater imenso para a direita, seguido de uma pancada e uma junção atacada sem muita força, do jeito que deu. Callinan respondeu com uma direita limpa e talvez maior, para tomar a dianteira. Quando Gabriel passou à frente de novo, novamente apoiado no backside, o jogo de gato e rato começou. O brasileiro colou no australiano a partir do momento em que conseguiu a prioridade. Muito, muito perto. Mick não gostou. “Uma bateria que pode decidir um título mundial pode ser jogada fora com uma marcação de interferência ou hassling ao fazer isso… Bem, cada um tem seu estilo, mas eu não gosto muito disso”, disse.

Medina cavou a interferência, que foi divulgada só alguns minutos depois do final da bateria. Nem precisava, pois venceu nos pontos. Fica o questionamento de Fanning sobre o quanto vale a pena fazer isso.

Uma pausa aqui: quantas vezes você já vestiu uma roupa de borracha molhada e gelada, pra entrar na água em um dia frio e chuvoso, apenas pelo prazer de deslizar em uma vala qualquer? Qualquer surfista médio deve ter recordações vívidas de momentos em que fez isso. Também deve ter certeza de que ainda o fará. Medina, aparentemente, não compartilha do mesmo tesão pelo surf.

“Esse é o resultado do trabalho duro”, disse em sua entrevista após a vitória. “Quando você tem que surfar e está frio e chovendo é realmente chato, mas estou colhendo as recompensas por isso”. Então o melhor surfista não é aquele que se diverte mais? Surf é trabalho? Bem, por essas e outras Medina tem um título mundial, em breve talvez tenha dois, e nós, meros mortais que ainda tomamos chuva e passamos frio pelo prazer de surfar, não temos nenhum.

Veja também: Briga pela permanência na elite esquenta em Portugal

Assistindo de longe, há dois momentos que parecem ter sido cruciais na derrota de Filipe Toledo para Joan Duru na bateria seguinte. O primeiro é em sua primeira onda, quando, em vez de atacar uma sessão monstruosa que fechava a direita bem na sua frente, Filipe preferiu sair por cima. O segundo é na tentativa de arriscar um aéreo na finalização de outra onda. Ele errou a manobra e perdeu o restante da onda. Em uma parecida com essa, optou apenas por rasgadas e conseguiu sua melhor nota. Filipe não falou após sua derrota.

Quando Jeremy Flores e Kanoa Igarashi entraram na água, o mar começou a se transformar. Jeremy tomou um caldo bizarro. Levantou zonzo, ficou boiando sentado em cima da prancha com cara de quem não sabia onde estava.

“Acho que as imagens não conseguem mostrar quão pesado está lá fora. Eu realmente temi pelo Jeremy quando vi ele tomando aquela vaca”, disse o japonês depois da bateria. O francês já tinha pegado um tubo grande, em pé, mas não muito profundo. Mas quem venceu foi Kanoa, com manobras conservadores nas direitas menos monstruosas que apareceram.

 

Tomas Hermes se jogou em drops suicidas, arriscou emendar uma junção assustadora, fez o que pode. O mar estava difícil, e Wade Carmichael avançou tranquilo, assim como Kanoa, apostando em completar ondas medianas.

Owen Wright pegou o primeiro tubo excelente do dia, segundo os juízes, uma direita de oito pés que cuspiu o australiano com a baforada. Era o final da bateria entre ele e Patrick Gudauskas e Owen já tinha pego um outro tubo de respeito para a direita. Melhor tube-rider do dia.

Willian Cardoso caiu com Adrian Buchan em um mar que parecia favorecer o australiano, mas leve e um pouco melhor nos tubos. Mas Panda achou boas sessões para a direita, mandou uma das manobras mais power do dia e vendeu caro a vaga na próxima rodada. Ace venceu com um bom tubo para a direita.

Ian Gouveia podia fazer um favor gigantesco a Medina se eliminasse Julian Wilson na última bateria da rodada. E fez sua parte. Também para a direita, pegou um tubo muito técnico. Atrasou a onda inteira e conseguiu se colocar dentro de um tubo que teria escapado a boa parte de seus concorrentes. Para azar de Ian, Julian pegou um ainda melhor na sequência. Ian se jogou e tentou achar outros tubos para equilibrar o duelo. Perdeu para um mar difícil (e para um dos poucos do circuito que talvez seja melhor que ele nos canudos).

Medina já tinha dito que preferia não dar muita atenção às baterias de seus adversários. Enquanto Julian entubava seu caminho para a quarta rodada, o brasileiro recebia uma visita especial na área de competição. Troféu de um milhão de likes para sua foto ao lado do amigo Neymar:

 

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???‍♂️ @gabrielmedina

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Nas baterias de três atletas, Italo continuou voando baixo. Semelhante a Medina, pega ondas à vontade mesmo em um mar complicado e parece ter a habilidade de transformar qualquer vala em um bom score. Passou tranquilo em primeiro. Wilko, com outra média alta demais para o surf que fez, ficou em segundo. A ajuda dos juízes não significou muito, já que Zeke Lau, terceiro surfista, sequer chegou aos dois dígitos.

Medina comandou sua bateria de maneira parecida. Enxergou o potencial de ondas medianas num momento em que Frederico Morais e Michel Bourez pareciam tentar entender o que estava acontecendo no mar. Bourez passou em segundo e esfriou a festa lusitana na praia.

A loteria seguiu com Joan Duru usando o backside para vencer Kanoa e Carmichael e chegar às quartas pela primeira vez no ano – um fôlego a mais em sua campanha pela sobrevivência na elite em 2019.

O mar estava muito ruim para que a organização arriscasse uma chance de título mundial para Julian Wilson, e o campeonato foi paralisado antes de sua bateria entrar na água.

Curiosadade: todos os goofy-footers que surfaram no round 4 se classificaram. Com quem Julian vai surfar? Ace Buchan e Owen Wright.

Próxima chamada na madrugada desta sexta, 3h45 no horário de Brasília.

MEO Rip Curl Pro Portugal – Resultados

Terceira rodada:

1 Italo Ferreira (BRA) 13.66 x 13.30 Jessé Mendes (BRA)
2 Ezekiel Lau (HAV) 13.40 x 13.40 Kolohe Andino (EUA)
3 Matt Wilkinson (AUS) 12.83 x 12.77 Jordy Smith (AFR)
4 Frederico Morais (POR) 11.33 x 10.40 Conner Coffin (EUA)
5 Michel Bourez (PLF) 12.33 x 11.14 Michael Rodrigues (BRA)
6 Gabriel Medina (BRA) 13.60 x 7.33 Ryan Callinan (AUS)
7 Joan Duru (FRA) 12.50 x 12.10 Filipe Toledo (BRA)
8 Kanoa Igarashi (JAP) 13.60 x 9.77 Jeremy Flores (FRA)
9 Wade Carmichael (AUS) 10.17 x 5.30 Tomas Hermes (BRA)
10 Owen Wright (AUS) 15.27 x 6.97 Patrick Gudauskas (EUA)
11 Adrian Buchan (AUS) 9.66 x 7.03 Willian Cardoso (BRA)
12 Julian Wilson (AUS) 13.90 x 7.17 Ian Gouveia (BRA)

Quarta rodada:

Italo Ferreira (BRA) 14.60, Matt Wilkinson (AUS) 13.30, Ezekiel Lau (HAV) 6.00
Gabriel Medina (BRA) 11.67, Michel Bourez (PLF) 7.84, Frederico Morais (POR) 3.63
3 Joan Duru (FRA) 11.50, Kanoa Igarashi (JAP) 9.10, Wade Carmichael (AUS) 7.93
4 Owen Wright (AUS), Adrian Buchan (AUS) e Julian Wilson (AUS)

Confrontos das quartas de final:

1 Italo Ferreira (BRA) x Michel Bourez (PLF)
2 Matt Wilkinson (AUS) x Gabriel Medina (BRA)
3 Joan Duru (FRA) aguarda adversário
4 Kanoa Igarashi (JAP) aguarda adversário

Texto: Fernando Maluf
Imagens: reprodução/WSL

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