O brasileiro Mateus Herdy, atualmente ranqueado na 40ª colocação do Challenger Series, fez críticas contundentes ao atual formato de competições da World Surf League em recente entrevista publicada no site Stab. Sem patrocínio, Herdy revelou estar competindo no circuito brasileiro para custear sua participação no QS (Qualifying Series) e compartilhou sua insatisfação com o sistema de corte de meio de temporada da WSL, que, segundo ele, está desmotivando muitos atletas.
Mateus, que perdeu recentemente seus patrocínios da Quiksilver e Red Bull, expôs as dificuldades financeiras que muitos surfistas enfrentam. Sem apoio, ele está competindo no circuito brasileiro, que oferece prêmios melhores que os eventos regionais do QS. “Eu perdi todos os meus patrocinadores recentemente, então estou competindo no Brasil para conseguir dinheiro e pagar pelo QS. É um pesadelo”, confessou. A situação financeira complicada não é exclusiva de Herdy, mas reflete a realidade de muitos surfistas que, sem patrocínios, lutam para permanecer no circuito.
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Um dos principais pontos de crítica de Herdy é o corte de meio de temporada da WSL, que ele considera prejudicial para os atletas que não conseguem bons resultados logo no início do ano. Ele afirmou que esse formato não premia necessariamente o melhor surfe: “Simplesmente não parece que o sistema está recompensando o melhor surfe”. Ele questionou como surfistas talentosos, como John John Florence, demoraram para se classificar para as finais, enquanto outros, como Connor Coffin e Morgan Cibilic, chegaram ao Top 5 e foram cortados na temporada seguinte.
Mateus destacou que a desmotivação causada pelo formato é tão significativa que até grandes nomes, como a tricampeã mundial Carissa Moore, decidiram se afastar das competições. “Eu não estou sozinho nisso. Até a Carissa Moore desistiu por causa do formato”, afirmou. Para ele, o sistema atual coloca uma pressão desnecessária nos atletas que, mesmo conseguindo bons resultados, correm o risco de serem eliminados logo após o corte.
Outro ponto levantado por Mateus foi a influência da cultura do futebol na torcida do surfe brasileiro, que, segundo ele, muitas vezes se comporta de forma inadequada nas competições. “No Brasil, se você vai a um estádio de futebol, é quase cultural que todos gritem palavrões. Você vê crianças, avôs, todos gritando ‘vai se f****, juiz’. Isso é normal no futebol, e as pessoas acabam levando essa mentalidade para o surfe”, explicou. Herdy acredita que, embora seja saudável torcer com paixão, atitudes como aplaudir a queda de um adversário não são aceitáveis no surfe: “Se você está torcendo para alguém, isso é legal. Mas se o outro cara cair e você bater palmas, isso não é legal”.
O surfista também comentou sobre a diferença de percepção entre os fãs brasileiros e o público internacional em relação ao julgamento das manobras no surfe. Para ele, muitos fãs brasileiros ainda não entendem por que manobras como laybacks e carves são valorizadas pelos juízes em comparação com manobras aéreas. “Muitos brasileiros veem uma curva e pensam, ‘eu poderia fazer isso’. E eu digo, ‘acredite em mim, cara, você não pode fazer uma curva como a do Ethan Ewing'”, declarou. Herdy apontou que a tradição do surfe nos Estados Unidos e na Austrália está fortemente ligada a manobras clássicas, enquanto o Brasil é conhecido pela “escola dos aéreos”, o que gera essa confusão entre os fãs brasileiros.
Outro ponto de reflexão foi o impacto de Gabriel Medina e sua amizade com Neymar no crescimento da popularidade do surfe no Brasil. Herdy explicou que, após a derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014, o país estava em busca de novos heróis, e Medina assumiu esse papel. “A conexão de Gabriel com Neymar deu a ele uma plataforma que os surfistas nunca tiveram antes. Mesmo antes de se tornar campeão mundial, ele já era famoso”, comentou.
Apesar das críticas, Herdy reconheceu que o formato da WSL Finals, embora polarizador, consegue atrair atenção e criar momentos de grande drama no esporte. No entanto, ele expressou sua preferência pelo antigo formato, onde o campeão mundial era decidido após uma temporada completa de competições em diferentes condições. “Surfando o ano inteiro, em várias condições, com altos e baixos, e então decidindo o título mundial no final, isso parece mais justo”, disse ele.
Por fim, Mateus ressaltou a importância de mais diálogo entre juízes e surfistas, algo que ele acredita que poderia melhorar o esporte como um todo. “Os juízes e os surfistas deveriam ser mais abertos uns com os outros. Uma comunicação melhor poderia melhorar as coisas, mas em vez disso, há essa divisão crescente”, afirmou. Ele lamentou a falta de colaboração e acredita que ambos os lados poderiam se beneficiar de uma relação mais próxima: “Deveria ser uma via de mão dupla onde ajudamos uns aos outros a melhorar, mas agora isso não está acontecendo, e isso está segurando o esporte”.
A entrevista de Mateus Herdy reflete o descontentamento de muitos surfistas profissionais com o estado atual do surfe competitivo, especialmente no que diz respeito ao formato da WSL e à falta de patrocínios. A entrevista completa está disponível no site Stab apenas para assinantes – Clique AQUI.