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Surfistas locais entram na luta contra obra que ameaça Uluwatu

Uma obra de estabilização do penhasco de Uluwatu, em Bali, avaliada em US$5 milhões, tem gerado indignação entre surfistas e moradores locais. O projeto, que visa proteger o histórico templo de Uluwatu por meio da construção de uma estrada costeira e um muro de contenção, levantou preocupações ambientais e econômicas. Embora os protestos iniciais tenham vindo principalmente de turistas e surfistas estrangeiros, a comunidade local também começou a se mobilizar, com surfistas nativos se posicionando contra os impactos da construção.

A intervenção no penhasco, uma área altamente visitada tanto por sua importância religiosa quanto pelo surf, pegou muitos de surpresa. Vídeos que mostram escavadeiras despejando calcário no oceano circularam amplamente nas redes sociais, provocando protestos. No entanto, a falta de consulta prévia à comunidade local e a ausência de um estudo de impacto ambiental tornaram a situação ainda mais tensa.

O surfista local Piter Panjaitan, que vive em Bali há 24 anos, se manifestou sobre a obra em entrevista ao The Inertia, mídia australiana especializada em surf. “Eu estava surfando com meu filho e não sabia de nada. Só à tarde, quando as escavadeiras chegaram ao penhasco, que todos descobriram o que estava acontecendo”, relatou ele.

O surfista, que tem usado suas redes sociais para atualizar a comunidade sobre o andamento da obra, questiona a falta de transparência. “Até mesmo alguns dos oficiais locais da vila de Pecatu não sabiam o que estava acontecendo. Não houve [consulta local] para o projeto”.

Além das questões relacionadas à transparência, Panjaitan também destacou o impacto ambiental do projeto. Ele confrontou trabalhadores da construção ao ver calcário sendo despejado no mar, o que acredita estar prejudicando o ecossistema marinho. “Há tubarões, tartarugas e dugongos por ali. E há uma caverna de reprodução de tubarões perto de onde estavam jogando o calcário”, disse.

A organização ambiental Save the Waves também expressou preocupação com os danos ao frágil ecossistema de Uluwatu. Em um comunicado à imprensa, a ONG relatou o “alarme com os potenciais riscos ambientais que o projeto pode representar para o frágil ecossistema marinho de Uluwatu ” e temor de que o projeto “possa impactar a qualidade das ondas”.

Outro ponto de destaque da questão é o impacto econômico para a comunidade local, que depende fortemente do surf. Panjaitan enfatizou que, embora o templo atraia turistas, eles geralmente ficam por apenas um dia. Já os surfistas, que viajam para aproveitar as ondas mundialmente conhecidas de Uluwatu, permanecem por períodos mais longos e contribuem significativamente para a economia local. “Os surfistas são uma grande parte da renda da vila e de toda a província de Bali”, afirmou.

Os efeitos da construção já são sentidos por quem arriscou surfar na região, com relatos de água esbranquiçada devido ao despejo de calcário no oceano. Muitos surfistas relataram irritação na pele e ardência nos olhos após entrar na água, o que levou a maioria a evitar surfar em Uluwatu nos últimos dias.

Diante do cenário, a mobilização da comunidade local já começou, e uma reunião foi marcada com moradores, membros da comunidade do surf e representantes do templo para discutir os impactos do projeto.

O objetivo, segundo Panjaitan, é buscar respostas. “O que queremos é esclarecimento. Por que o projeto não foi socializado na comunidade? Onde está o estudo de viabilidade? Como o ecossistema será afetado?”, questionou o surfista.

A mobilização local e a visibilidade internacional do caso vêm crescendo, e Panjaitan fez um apelo para que as pessoas compartilhem as informações sobre a obra. “No momento, é tudo o que podemos fazer. Apenas compartilhem. Exponham isso. É importante preservar o templo, que tem 1.000 anos. O templo é patrimônio para nós. É patrimônio para os balineses e para o hinduísmo. Não quero ser egoísta só porque perdemos uma onda. Mas não se trata apenas de uma onda. Trata-se da vida marinha e das pessoas que vivem da comunidade e da cultura do surfe. Essa é a maior parte disso. Espero que possamos dar uma razão para o governo reavaliar como consertar o templo sem destruir a natureza.”, pediu ele.

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Com o avanço da obra e a crescente oposição da comunidade, resta saber se as autoridades locais estarão dispostas a reconsiderar os planos e buscar soluções que respeitem tanto o patrimônio cultural quanto o meio ambiente e a economia local.

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