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Leis para proibir plásticos ou verbas para limpar?

Enquanto as ondas quebram na superfície, um problema muitas vezes invisível se desenrola pouco abaixo. Escovas de dente, brinquedos, redes de pesca e embalagens de alimentos formam um caldo espesso de dejetos à base de petróleo e gás. Anualmente, pelo menos 14 milhões de toneladas de plásticos invadem os mares, um alerta iminente sobre os perigos que essa poluição representa para os ecossistemas marinhos.

A organização The Ocean Cleanup, com sua missão de enfrentar esse cenário, afirma ter retirado 7,5 milhões de toneladas de plástico desde o início da década. Seus métodos incluem redes em formato de U e barreiras flutuantes para conter o lixo nos rios antes que alcance os oceanos. A meta declarada é remover 90% do plástico na superfície oceânica, caso haja suporte financeiro adequado.

Contudo, as ações da The Ocean Cleanup não escapam de críticas. Financiada por corporações associadas à poluição plástica, como Coca-Cola e Sabic, a organização é acusada de contribuir para o “greenwashing”, prática que permite a empresas negligenciarem danos ambientais. ONGs como Ocenacare e a Agência de Investigação Ambiental questionam a eficácia dessas tecnologias de limpeza, alegando que desviam a atenção da necessidade primordial de reduzir a produção de plástico que acaba nos oceanos.

Líderes mundiais se reuniram em Nairóbi para discutir um tratado global de combate à poluição plástica, semelhante ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Empresas como ExxonMobil e Saudi Aramco, que estão realizando investimentos significativos na produção de plástico, contribuem para as projeções preocupantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD). Segundo estudos da entidade, o lixo plástico mal gerido deve triplicar até 2060. A ameaça iminente de ter mais plástico do que peixes nos oceanos até 2050 torna urgente a adoção de medidas eficazes.

“Se a banheira enche e transborda, é possível tentar bombear a água para fora, mas o que deve ser feito de verdade é ir direto para a fonte do problema e fechar a torneira”, explica Marcus Gover, diretor da iniciativa de plásticos da ONG Minderoo Foundation.

Enquanto simulações de acordos sugerem a redução em 95% do lixo plástico até 2040, a proposta exige regras juridicamente obrigatórias para redução da produção, eliminação de plásticos problemáticos, expansão da reciclagem e aprimoramento dos métodos de descarte.

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O lobby da indústria do plástico, porém, segundo a professora de ecotoxicologia Bethanie Carney Almroth, busca atrasar regulamentações. A imposição de limites à produção de plástico é defendida por evidências científicas, mas as atenções muitas vezes são desviadas por propostas de limpeza dos oceanos e reciclagem química, questiona a especialista.

“É um meio encontrado pelas empresas para, de certa forma, comprarem sua liberdade”, disse a especialista. “É como um passe livre para sair da prisão.” Mas as pessoas que fazem o trabalho sujo de limpeza não enxergam a situação como uma escolha binária.

O dilema persiste: a urgência de limpar o que já está no oceano demanda atenção, mas sem negligenciar a necessidade crucial de implementar medidas preventivas que interrompam o contínuo influxo de plástico para preservar o equilíbrio delicado dos ecossistemas marinhos. Enquanto a comunidade internacional busca soluções para esse desafio monumental, a interseção entre interesses econômicos, propostas tecnológicas e a responsabilidade ambiental moldam o debate em torno do futuro de nossos oceanos.

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