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Keala Kennelly critica etapa da WSL em Abu Dhabi e apoia Tyler Wright

A confirmação de uma etapa do Championship Tour (CT) 2025 em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, gerou grande repercussão nas redes sociais. A surfista havaiana Keala Kennelly — ícone do surf de ondas grandes e ativista pela igualdade de gênero no esporte — se manifestou duramente contra a decisão da World Surf League (WSL). Em uma postagem no Instagram, Keala criticou a realização do evento em um país onde a homossexualidade é considerada crime, colocando em risco a segurança da surfista australiana Tyler Wright, que é abertamente lésbica.

Keala Kennelly é reconhecida não apenas por suas conquistas no surf, mas também por seu trabalho em prol dos direitos LGBTQIA+ e da igualdade de gênero no esporte. Ela foi uma das primeiras mulheres a se destacar no surf de ondas gigantes, desafiando as barreiras impostas por uma indústria historicamente dominada por homens. Além disso, Keala tem se posicionado em diversas ocasiões contra a desigualdade de premiação e as condições adversas que as mulheres enfrentam nas competições de surf.

A inclusão de uma etapa em Abu Dhabi provocou críticas, especialmente devido às leis locais, baseadas na Sharia, que criminalizam a homossexualidade. Embora casos de punições extremas, como pena de morte, não tenham sido registrados, a legislação permite severas penalidades para pessoas LGBTQIA+, gerando preocupação com a segurança de atletas como Tyler Wright.

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Tyler é na primeira competidora do surf mundial a envergar a bandeira LGTB+ na sua lycra. Foto: WSL

A família de Tyler também se manifestou nas redes sociais, acusando a Liga Mundial de priorizar interesses financeiros em detrimento da integridade e segurança de seus atletas. Wright, que é bicampeã mundial e conhecida por ser a primeira surfista da história a vestir a lycra de competição com a bandeira do orgulho LGBTQIA+, pode ser colocada diante de um dilema em função da inércia da WSL: boicotar a etapa e comprometer sua posição no circuito ou competir arriscando sua segurança pessoal.

Declaração de Keala Kennelly nas Redes

Em uma postagem contundente em seu perfil no Instagram, Keala questionou a decisão da WSL:

*“Como a WSL acha que é aceitável vender um evento para um local onde é ilegal ser LGBTQ+, quando eles têm uma atleta como Tyler Wright, que é abertamente gay e usa a bandeira do orgulho em sua camisa? Agora, Tyler precisa escolher entre *danificar sua carreira ou arriscar a vida competindo em um país onde ser LGBTQ+ é punível com morte.”

Keala também destacou as desigualdades de gênero nos Emirados:

A WSL realizará um evento feminino em um país onde as mulheres vivem sob tutela masculina, assassinatos de honra podem ficar impunes e o estupro conjugal não é criminalizado. A Liga deveria colocar a saúde e segurança dos atletas acima do dinheiro.”

Ela ainda comparou o caso ao boicote realizado por atletas na África do Sul durante o apartheid, mencionando quando Sunny Garcia, surfista havaiano, foi impedido de competir devido às leis racistas da época.

“Sediar eventos em países com violações evidentes de direitos humanos deveria ser inaceitável”, escreveu a big rider.

Especialista afirma que punições extremas no país são raras

Em meio à polêmica, o site The Inertia ouviu o professor Dr. Ryan Centner, pesquisador de geografia urbana na London School of Economics e membro da comunidade LGBTQIA+, para contextualizar a situação dos homossexuais nos Emirados Árabes Unidos. Segundo Centner, embora as leis possam prever punições severas para a homossexualidade, casos extremos são raros e amplamente disseminados entre expatriados por meio de relatos isolados na mídia.

Em sua pesquisa, que inclui a participação em eventos semi-clandestinos da comunidade gay no país, ele observou que o privilégio de se expressar abertamente como LGBTQIA+ é geralmente limitado a expatriados e pessoas de alto poder aquisitivo, especialmente em Dubai. Ainda assim, Centner ressalta que essa liberdade não elimina o sentimento de constante vigilância: “Há sempre essa sensação de precisar ser cauteloso sobre quem está ouvindo ou quem foi convidado, para evitar problemas”.

Um membro da comunidade de surfe local, que preferiu não se identificar, disse ao The Inertia que Tyler Wright não enfrentaria problemas em Abu Dhabi, desde que respeitasse as normas públicas de comportamento. “Reservar um quarto de hotel como casal do mesmo sexo não seria um problema, assim como andar de mãos dadas em público”, afirmou o surfista, explicando que o país atualmente busca um equilíbrio entre pautas globais e respeito à sua herança cultural, com foco em evitar demonstrações públicas de afeto mais intensas, entendidas como “comportamento desordeiro”, segundo as leis locais.

Até o momento, a WSL ainda não respondeu oficialmente às críticas, mas a situação levanta questões importantes sobre responsabilidade social e ética no esporte. Decisões como essa evidenciam o conflito entre a expansão comercial de eventos e a necessidade de proteger atletas em cenários culturais e políticos adversos.

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