é tarde, o Oi Rio Pro já terminou faz quase uma semana e não consigo escrever uma linha sequer.
não sou capaz nem de começar as frases com maiúsculas.
Eis que recebo um texto, do francês Didier Piter,
A crítica da WSL esteve em teste no Brasil: é claro que não é perfeito, mas é preciso de tudo para fazer um campeão do mundo completo, capaz de se adaptar a qualquer condições… A busca pela perfeição, a previsibilidade, a certeza de ter ondas, tudo isso vai acabar na piscina de Kelly ou no wavegarden… Não sei se seria mais emocionante…
Não sei se vocês sabem, mas Piter competiu anos e anos no WQS, tentando a sorte, sem muito sucesso. Didier sabe bastante de surfe, tem um filho que parece ser uma das maiores promessas da França e um QI bem acima da média.

Compreendo que a nossa autoestima anda baixa por motivos vários, nem o futebol tem ajudado ultimamente, mas a etapa brasileira do WCT foi a mesma coisa que tem sido desde 1975.
Esperavam por ondas sensacionais?
Aguardem por Fiji, Teahupoo, J. Bay – quem sabe Pipe…
Rio é lugar de onda ruim e os melhores do mundo vem até aqui para se submeter as mesmas condições que eu e você temos que lidar durante o ano todo – sempre foi assim.
Em quarenta anos, tivemos talvez 10 dias clássicos, Joaquina em 1986 (só no primeiro dia!), um ou outro no Rio, 94 e 96, se não me falha a memória, Quebra mar, talvez Arpex ainda nos anos 70, na maioria da vezes é onda merda mesmo.
E quer saber?
É exatamente isso, o tempero – a pimenta.

Quando JJ Florence diz, inebriado pela vitória, que as ondas do Rio lembram muito o surfe que ele enfrenta na porta de casa, Havaí, isso diz muito mais que 2000 comentários irritadiços no fórum da Stab.
Florence está falando da força e da velocidade da onda.
Na piscina do Kelly, é tudo igual, sempre a mesma ondinha linda de sonho.
Aqui no Rio é pesadelo.

O francês citado lá em cima sabe das coisas, ele quer ver os melhores em ondas perfeitas, mas também quer vê-los em ondas mais próximas da realidade do surfista comum.
Antes do Slater pegar aquele tubo gigante no Meio da Barra, a chance de ver alguém surfando num dia daqueles era quase nula – exceto pelo Rodrigo Resende que sempre teve gosto pra coisa.
É preciso que venha um Medina ou um Julian Wilson para mostrar alguma interpretação nova nas nossas velhas e cansadas ondas.
A leitura deles muda completamente o jeito que olhamos para as condições e é precisamente isso que empurra o surfe brasileiro para frente.
O evento do Rio não serve somente aos 34 sortudos que estarão em Fiji na próxima semana.
Não senhor, o evento do Rio serve aos garotos de 12, 13, 14 anos que vão fazer qualquer sacrifício (inclusive, e principalmente, faltar aula) para ver de perto os seus ídolos.
Os resultados vocês já sabem, saiu faz tempo até no site da Globo.
Isso já nem é mais importante.
Importante é que Medina aparentemente está de volta – ele mesmo disse isso na entrevista depois de perder pro Pedra Livre.
Importante é que está tudo embolado e ninguém é de ninguém nesse circuito que mais parece a corrida maluca.
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* Foto de abre: Gabriel Medina, por Pedro Burckauser (People On Tour)