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Freshwater Pro, 2º dia: Filipe entra no jogo

Filipe Toledo estreia no Freshwater Pro e faz melhor nota individual em uma direita, mas fica atrás de Medina no placar total

Por Fernando Guimarães

O segundo dia de competição no Freshwater Pro, nesta sexta (20), confirmou algumas teses levantadas ontem e ajudou a iluminar alguns pontos da discussão. A principal tese confirmada é a de que Filipe Toledo é o único com credenciais para desafiar Gabriel Medina na corrida pelo título da etapa. Ele tirou a nota mais alta de todo o campeonato, 9,27 em uma direita. Na soma com a melhor esquerda, entretanto, ele ainda fica atrás de seu amigo de Maresias.

Dizer que os dois estão um nível acima dos demais é diferente de cravar que o título ficará com um deles. Na final, as notas são zeradas e só Deus sabe o que pode acontecer. Mas eles são os favoritos.

Gerou alguma discussão a resenha do primeiro dia, que basicamente dizia que a abertura do campeonato foi um tédio total. A crítica se referia àquele dia, especificamente, e não à ideia completa de fazer um campeonato no Surf Ranch — que também é algo que pode ser discutido, claro.

A presença do público, com torcidas e aplausos, contribui muito para o Freshwater Pro (WSL)

O problema do primeiro dia é que não definia nada, já que um terço dos surfistas só ia para a água no dia seguinte e a classificação dependia disso. Foram quase 10 horas de ondas idênticas sem eliminações. E sem público ainda por cima, acrescentando — ou melhor, retirando o pouco de vibe que parecia ter ali.

Stephanie Gilmore involuntariamente sugeriu uma solução para isso, em uma entrevista ao site uruguaio DukeSurf.com. Perguntaram se ela achava que o tour feminino deveria ter mais mulheres, para se equiparar ao masculino (são 17 mulheres e 34 homens no CT). Steph disse que não. Para ela, melhor seria igualar a quantidade diminuindo o número de homens. Já que a maioria dos eventos masculinos e femininos acontecem no mesmo pico e na mesma janela, diminuir a quantidade de atletas facilitaria o trabalho de encaixar todo o programa em boas condições de surf. Acrescentamos ainda o argumento de que entrar direto nos 16 melhores surfistas concentraria de maneira muito mais atraente os momentos espetaculares de cada etapa.

Especificamente para a etapa do Surf Ranch, também temos uma sugestão. Duas “baterias” de seis atletas por dia antes das finais. O evento fica com mais ou menos uma semana de duração, mas você sabe exatamente quem você quer ver em cada dia. Surfistas ganham tempo para treinar nas horas “vagas” da piscina no dia e podem voltar para algum lugar mais interessante quando não tiverem treinos nem suas baterias. E a final é a grande final e ponto. Campeonatos de tênis funcionam mais ou menos assim, e muito bem, há anos (desculpa, Bobby Martinez, a sugestão é só pra etapa do rancho, eu juro).

Algo que ajuda na sensação de tédio ao ver a etapa, e isso não é só do primeiro dia, é a dificuldade de entender o julgamento. Os próprios comentaristas da WSL não sabem explicar a diferença entre as notas. Kanoa Igarashi precisava de 7,25 na esquerda. “Com certeza ele vai tirar essa nota”, disse Pottz depois de ver o replay, sem dizer por quê acha isso. Deivid tirou 7,93 em sua esquerda extra. Zeke lau, 7,30. É difícil explicar onde está a diferença entre elas. Na verticalidade das manobras? No tubo? São muitas ondas muito parecidas. Você sabe dizer se uma onda é boa ou não, se é um cinco ou um sete ou um nove. Mas se um sete alto ou sete baixo? Mistério total.

Nossa sugestão: uma entrevista em vídeo com o juiz-chefe antes do início de cada dia de competição, explicando os pontos-chave, citando exemplos, dizendo o que é importante e o que não é tanto. O vídeo pode ser reproduzido ao longo do dia, para ajudar a entender as notas conforme vão saindo. Ou, na versão econômica, aquele texto com os tópicos em ordem hierárquica: 1. tempo no tubo; 2. quantidade de manobras (?); 3. a melhor manobra da onda (??) — uma ordem qualquer, apenas para ilustrar.

O dia começou com as duas baterias que faltavam do masculino, encabeçadas por Jordy Smith e Filipe Toledo. Jordy foi bem, muito melhor que no ano passado, e se garantiu entre os primeiros com tranquilidade. Na bateria seguinte, Filipe a diferença entre ir bem e dar um show. Fez uma direita cheia de movimentos de risco, sem perder o tempo da onda, e fechou com um club sandwich — aquela manobra do Josh Kerr contra o Mick Fanning na Gold Coast, lembram? — perfeito, manobra que ainda não tinha sido vista no torneio. Não conseguiu repetir o desempenho nas esquerdas, somando um 6,80 à nota mais alta de todas, 9,27 (assista acima), e ficando apenas com a segunda posição.

Willian Cardoso foi muito bem. Com direito a Slater na cabine narrando seus movimentos, o Panda moeu as valas com muita força e conquistou a sexta colocação da primeira rodada.

Então as mulheres surfaram as baterias remanescentes da primeira rodada e metade das ondas extra para as que se classificaram. Silvana Lima, que surfou na quinta, foi ultrapassada e não avançou para a segunda rodada. Tati Weston-Webb foi bem, já na sexta, e será a primeira surfista a entrar na água no último dia. Ela tentará entrar no grupo das 4 finalistas com suas duas ondas extra. Neste momento, ela é a oitava colocada. Johanne Defay é a melhor, seguida por Carissa Moore, Caroline Marks e Courtney Conlogue.

Ver os homens surfando logo depois causou uma leve impressão de que elas se divertem muito mais na onda que os caras.

Deivid Silva foi o primeiro da segunda rodada. Fez uma esquerda boa, mas sem nada muito espetacular. Nada de progressão, no máximo uma rabetada desgarrando um pouco. Na direita, a mesma coisa, com a diferença de que suas panturrilhas morreram quando saiu do tubo no inside e o impediram de fazer a manobra com a força que ele queria. Ainda assim, ele tentou vender a nota aos juízes. Não deu certo.

Zeke, Ricardo, Wade, Kanoa: muito parecido. Ou caíram no meio da onda ou completaram uma apresentação conservadora, com exceção da entrada atrasada de Kanoa no tubo da esquerda. Suas notas o deixaram na oitava posição, a última que leva à final, mas com muita gente com chance ultrapassá-lo — o que eventualmente aconteceria.

Kolohe preferiu arriscar. Caiu no tubo da esquerda depois de entrar ainda mais atrasado que Kanoa. Na direita, ia muito bem, mas arriscou um segundo reverse, meio atrasado, errou e caiu.

Kanoa fala com um sentimento de honra ferida depois de perder uma bateria. A derrota é ofensiva para ele. Parece uma boa mentalidade, que vai ajudar a chegar cada vez mais perto do título mundial. Kolohe, ao contrário, quando perguntado algumas dessas perguntas protocolares, após cair nas duas ondas e perder a chance de ir à final — um golpe sério em sua briga pelo título — apenas retornou, consternado e irônico: I’m stoked. Ponto final. Aliás, a cena de Strider entrevistando os dois juntos, na caçamba da caminhonete, com a câmera na altura do chão e a imagem completamente desfocada enquanto o veículo ia embora, foi um momento quase cômico.

Soli cai na esquerda. Cai na direita também. Seth idem. Soli é o último do ranking, muito perto de ser eliminado, e quase não têm pontos no QS. O que fazer agora?, pergunta alguém. “Go mad”, responde ele. Meter o louco.

A piscina de fato expõe os surfistas a uma pressão única. São todas as câmeras, todos os surfistas, todo mundo, tudo voltado a quem está na água. Não tem nada pra te atrapalhar, a não ser você mesmo e talvez um pouquinho de vento. Os momentos que antecedem cada onda decisiva, com o surfista boiando, parado, em silêncio, aguardando um mega-fone anunciar seu nome e as máquinas começarem a rodar, gritam uma tensão que não existe fora da piscina. Isso tem seu valor.

Owen Wright fechou o dia com uma apresentação excelente, melhorando suas duas ondas. Com muita técnica, uma linha ousada e segurança nos movimentos, saltou à terceira posição geral, atrás apenas de Filipe e Medina.

Doze homens e seis mulheres ainda vão surfar ondas extra no sábado antes da grande final.

O campeonato na piscina envolve um claro componente físico. Todos estão absolutamente exaustos depois de surfar. Assim, surfar uma vez a mais antes das ondas decisivas não seria um prejuízo? Medina e Filipe, por exemplo, já estão garantidos na final. Pra quê queimar as panturrilhas com uma nota que não vai ser carregada pra final?

O sábado é o último dia de campeonato, a partir das 12h no horário de Brasília.

Resultados do Freshwater Pro após dois dias:

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