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sexta-feira, 3 maio, 2024
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Faroe Islands: ondas perfeitas, vazias e uma tradição cruel

As Faroe Islands (Ilhas Faroé) certamente estão entre os destinos de surf mais remotos do mundo.

Localizadas no Atlântico Norte, entre a Islândia e a Noruega, as ilhas integram um arquipélago que faz parte do território da Dinamarca, com cerca de 50 mil habitantes. O acesso se dá por avião, do aeroporto de Copenhage, ou pelo mar (recomendado aos mais dispostos).

O cenário é extraordinário e quando o poderoso swell do Atlântico atinge as bancadas em torno das 18 ilhas, ondas de qualidade internacional são geradas.

A vila de Tjørnuvík, na ilha Streymoy, é o melhor pico do arquipélago. A onda é relativamente conhecida e já estrelou alguns filmes, como o premiado Finding Faroes, além de centenas de clipes disponíveis a um clique na internet.

A fúria do Mar do Norte gera ondas o ano inteiro e os locais garantem que é possível surfar até mesmo nos meses de inverno, pois a proximidade com a Corrente do Golfo faz com que as águas não fiquem abaixo dos sete graus celsius (sim, pra quem surfa no Brasil, é ‘congelante’, mas nada que não possa ser contornado por uma boa roupa de borracha, bota, luva e gorro).

Posição geográfica de Tjørnuvík favorece o predomínio do vento terral e o pico, mesmo nos melhores dias, nunca fica crowdeado. Reza a lenda que só existem dois locais assíduos e que recebem a todos os surfistas de fora de braços abertos.

Numa era em que praticamente não existem mais ondas com tanta qualidade quebrando vazias, você provavelmente está considerando em incluir esse destino a lista de surf trips.

Porém, como diz a frase eternizada pelo grande dramaturgo inglês Shakespeare, na obra Hamlet, “existe algo de podre no reino da Dinamarca”.

Mar de sangue

Faroe Islands
Centenas de baleias-piloto são mortas anualmente nas Faroe Islands em nome de uma tradição milenar que atravessa gerações. Foto: Sea Shepherd UK / Reprodução

Ainda que as ondas de Tjørnuvík sejam um belo cartão de visita, as Faroe Islands são realmente conhecidas por um motivo bem menos agradável: a matança anual de baleias-piloto.

Todos os anos, a partir dos meses de maio, centenas desses animais são mortos de forma brutal. As cenas sempre chocantes, de praias tingidas pelo sangue dos cetáceos, causam revolta e perplexidade a quem não está ambientado com essa tradição.

Apesar das ondas de protesto e ações de ONGS e ambientalistas, que lutam contra a carnificina, os habitantes das Faroe Islands resistem em banir a prática de seu território, por se tratar de uma atividade realizada há quase mil anos na qual a carne e a gordura dos animais são totalmente aproveitadas, além disso, o governo da Dinamarca alega que existe uma regulação que a torna “sustentável”.

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Contudo, imagine você viajar em busca de ondas perfeitas e vazias e se deparar, literalmente, com um mar coberto de sangue? Foi mais ou menos o que aconteceu no início de julho, quando um navio de cruzeiro lotado de turistas fez uma parada nas ilhas bem na hora em que 78 baleias-piloto foram mortas.

Durante a caçada, barcos cercam e conduzem um grupo de baleias-piloto até a praia mais próxima, onde os caçadores as esperam na beira da água. Encurralados, os animais são mortos a golpes de facões e ganchos. Em seguida, os corpos das baleias são encaminhados para o porto para serem cortados, e a carne é distribuída entre os moradores presentes.

Essa cena foi presenciada por todos os turistas que estavam a bordo e ficaram horrorizados por testemunharem o banho de sangue.

A linha de cruzeiros Ambassador rapidamente emitiu uma declaração condenando a prática. “Ficamos incrivelmente decepcionados por essa caçada ter sido realizada enquanto nosso navio estava no porto“, tuitou a linha de cruzeiros. “Somos totalmente contra essa prática ultrapassada e trabalhamos em parceria com nosso parceiro ORCA, uma organização dedicada ao estudo e proteção de baleias, golfinhos e botos nas águas do Reino Unido e Europa, para incentivar mudanças desde 2021.”

Contudo, tanto o governo das Faroe Islands, quanto governo dinamarquês, mantém o posicionamento irredutível quanto à matança, por se tradar de uma atividade cultural e, em seu entendimento, “sustentável”.

Mais um exemplo da importância de se pesquisar bem sobre o histórico e práticas culturais de lugares que se pretende visitar.

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