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Quando as meninas deixarão de ser apenas coadjuvantes?

Texto Steven Allain
Foto de abre: Carissa Moore / Ryan Myller 

 

Sou fã assíduo de MMA. Não perco um evento. Depois do surf, é o esporte que mais acompanho – assino pay-per-view, fico acordado assistindo as lutas de madrugada, aposto com os amigos quem será o vencedor… a parada toda.

Assim como qualquer fã de artes marciais misturadas, notei a meteórica ascensão do MMA feminino nos últimos tempos. Para se ter uma ideia, há cinco anos as mulheres nem lutavam no UFC (Ultimate Fighting Championship), maior organização da modalidade no mundo. Em um vídeo de 2011, que já viralizou nos blogs de luta, o presidente do UFC, Dana White, é enfático quando indagado por um repórter se as mulheres um dia lutariam no evento: “Nunca!”, respondeu ele.

Na época, a postura tradicional era a de que MMA não era para mulheres – um esporte cuja dureza, violência e agressividade não combinavam com a delicadeza feminina. Soa familiar?

De lá para cá, as mulheres ganharam enorme espaço e hoje repetidamente protagonizam a luta principal – o chamado main event – de eventos do UFC. Para quem não acompanha MMA, estar no main event é ser a atração principal da noite. Como uma banda de rock que fecha um grande festival. Ou seja, em questão de 5 anos, as mulheres não apenas conseguiram participar do UFC, mas conquistaram status de atração principal.

Para se ter uma ideia, as mulheres participaram de todos os 37 eventos que o UFC fez em 2016, sendo que em sete deles uma luta feminina foi o main event. E isso não aconteceu por caridade ou como uma tentativa de trazer maior igualdade de gênero ao esporte. O que forçou Dana White a mudar de opinião foram os números. As mulheres atraem público – e, consequentemente, grana – em dimensões parecidas, senão iguais, aos homens.

A americana Ronda Rousey, a maior estrela do MMA feminino, atualmente fatura cerca de 4 milhões de dólares por luta, somando bolsa e participação no pay-per-view. Ela ainda ganha 3 milhões de dólares anuais em patrocínio – e mais uns tantos em participações em séries de TV e filmes como Entourage e Furious Seven. Por cima, fatura quase U$ 15 milhões por ano – mais do que muitos campeões mundiais (homens) da categoria. Nada mal para alguém cuja profissão, poucos anos atrás, ainda era clandestina.

Em comparação, o surf e o MMA femininos enfrentaram obstáculos parecidos. Ambos sofreram com o preconceito existente em seus ambientes predominantemente masculinos; ambos foram acusados de apresentarem performances abaixo às dos homens. Mas isso não fez com que o MMA feminino deixasse de crescer e tornar-se tão significativo, em público e salários, como o masculino.

 

Em cinco anos, o MMA feminino conquistou um espaço maior do que o surf profissional feminino conseguiu em 30 anos de existência (a primeira campeã mundial, Margo Oberg, foi coroada em 1977).

Então fica a pergunta: por que, no surf profissional, as mulheres ainda não chegaram nem perto de ser um main event? HC

Matéria publicada na HARDCORE #325.

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