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Dustin Barca: “Vício em OxyContin destruiu o Wolfpack”

Ex-competidor profissional da WSL, lutador de MMA e ativista social, o havaiano Dustin Barca foi um dos nomes mais conhecidos do Wolfpak, um grupo de surfistas locais que comandou a onda de Pipeline no início dos anos 2000.

Sob a justificativa de “organizar” o crowd, o Wolfpak acabou por se tornar um dos movimentos de localismo mais temidos do mundo, sendo comparado aos “Black Trunks” dos anos 1970. Contudo, poucos anos após efetivamente tomar posse do lineup de Pipeline, o movimento acabou.

Aos 41 anos, Barca recentemente foi entrevistado pelo podcast “The Quivercast”, onde aborda assuntos como seu envolvimento com as artes marciais, carreira como surfista, ativismo social em Kauai e, principalmente, sobre a breve história do Wolfpack.

O grupo que comandou o crowd em Pipeline, muitas vezes retratado como uma gangue violenta, foi dissolvido alguns anos após seu apogeu, segundo Barca, principalmente pelo abuso de substâncias como o OxyContin, uma droga legal lançada no início da década de 1990, derivada do ópio, apelidada de “heroína legalizada”, que era vendida como um analgésico extremamente viciante com capacidade de criar uma euforia intensa em seus usuários.

O marketing agressivo do OxyContin desempenhou um papel significativo no seu abuso generalizado. Alegações enganosas sobre a segurança da droga e o baixo risco de dependência contribuíram para a sua prescrição excessiva e o subsequente aumento das taxas de dependência. O número de mortes causadas nos Estados Unidos por essa droga é estimado em mais de 500.000 entre as décadas de 1990 e 2000. O caso é conhecido por ser um dos maiores escândalos da história da indústria farmacêutica e é retratado, em forma de ficção, na série “O império da Dor”, exibida no canal de streaming Netflix.

Dustin Barca Andy Irons
Figura ilustre do Wolfpack, Andy Irons lutou durante anos contra o vício em OxyContin. Foto: Reprodução / Kissed By Good

O havaiano entende que as ações violentas do Wolfpack no lineup de Pipeline eram necessárias para garantir a segurança de todos: “Rabear alguém em uma onda de três metros em Pipeline, é como uma tentativa de homicídio”.

Barca conta que muitas vezes ele e outros membros do Wolfpack era obrigados a passar “corretivos” em surfistas de fora, caso algum desavisado rabeasse algum de seus parceiros em Pipeline: “Kaiborg (Kai Garcia, um dos líderes do Wolfpack e ex campeão mundial de Jiu-Jistsu) dizia, é melhor você bater naquele cara agora mesmo ou eu vou bater em você”, revela.

Contudo, em sua visão, essas ações, apesar de controversas, ajudaram a manter o lineup de Pipeline mais seguro, algo que não acontece nos dias atuais: “Pipeline hoje é um show de merda onde não há autoridade alguma. É como se qualquer pessoa, de qualquer lugar, pudesse ir lá e remar na frente dos locais e pegar a onda do dia e ninguém faz nada a respeito… o que fizemos foi criar um sistema de regras. Isso fez com que todos percebessem que estavam na casa de outra pessoa e que deveriam tirar os sapatos antes de entrar”, acredita.

Foi então que o OxyContin passou a fazer parte da rotina do grupo, colocando o Wolfpack em colapso: “Um grande número de amigos se viciaram em drogas e tinham um farmacêutico morando em casa com eles, dando a todos enormes receitas de OxyContin. Foi muito ruim. Nunca usei drogas desde que era jovem porque quase morri. Todos os meus amigos que usavam cocaína ou algo assim, todos, começaram a cheirar OxyContin e isso colocou todos uns contra os outros, transformou o grupo de amigos mais sólido de todos os tempos no surf em um show de merda”, revela.

“A porra do OxyContin é como heroína, você sabe. Então, toda a vida que girava em torno de surfar e se divertir passou a girar em torno de ficar chapado. É ‘outro mundo’. Todos deixaram de se concentrar em surfar e se divertir juntos e passaram a se preocupar apenas em encontrar a porra de uma pílula”, lamenta.

Barca conta que foi devastador ver o Wolfpack desaparecer por conta dessa droga. Vários amigos acabaram morrendo, entre eles, um dos maiores surfistas de todos os tempos, Andy Irons, cuja trágica luta contra o vício em OxyContin é contada no documentário Kissed By God; outros, como o xerife Kai Garcia, conseguiram se libertar do vício, mas sob duras penas.

Ouça a entrevista completa:

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