Enquanto a China demonstra potencial para se tornar uma potência emergente no surf global nos próximos anos, as restrições de segurança e a falta de compreensão cultural por parte das autoridades podem colocar em risco o desenvolvimento do esporte no país. Uma recente prisão de dois surfistas em Hong Kong, por surfarem em condições consideradas “perigosas” pelas autoridades chinesas, ressalta esse desafio.
No dia 25 de outubro, segundo reportagem do The South China Post, membros do Departamento de Serviços de Lazer e Cultura (LCSD) relataram ter flagrado dois surfistas entrando na água na Big Wave Bay, apesar da bandeira vermelha estar hasteada, indicando ondas grandes e condições arriscadas. A ação, informada pelo Secretário de Segurança Chris Tang Ping-keung, resultou na prisão dos dois praticantes por desrespeito às normas locais.
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Essa atitude rigorosa, no entanto, está desmotivando jovens atletas da região. Um exemplo é o caso de Mahohi Nguyen Tang, uma jovem promessa de 10 anos, nascido em Hong Kong de pais suíços, que recentemente decidiu abrir mão de competir pela China. Sem uma equipe nacional de surf, ele agora treina com a seleção suíça, e poderá se naturalizar cidadão do país com o sonho de um dia competir nas Olimpíadas. Segundo o pai de Mahohi, o ambiente em Hong Kong não oferece mais as condições de desenvolvimento necessárias para jovens surfistas, uma vez que as praias fecham para o surf sempre que o mar sobe.
Além disso, embora a Suíça não tenha uma costa oceânica, ela conta com uma infraestrutura de ponta para o esporte, como a Wavegarden Alaia Bay, que oferece ondas artificiais para treinamento. Já na China, espaços para o surf são limitados devido ao relevo do litoral, com poucas opções favoráveis a receber boas ondulações, somadas às “restrições de segurança”. E até o momento, não há previsão para a construção de piscinas de ondas artificiais no país.
Contudo, a situação não é um consenso entre as autoridades locais. Segundo a revista Surfer, um legislador, chamado Adrian Pedro Ho King-hong, expressou surpresa ao saber das restrições impostas ao surf em Hong Kong. “Sempre soube que havia pessoas que surfavam em Hong Kong, mas não sabia que era proibido. Agora que sei, vou lutar por isso”, declarou ele, mostrando-se disposto a discutir uma regulamentação mais inclusiva para o esporte.
Para especialistas e surfistas locais, no entanto, a falta de entendimento cultural das autoridades e o excesso de regulamentações são obstáculos para o crescimento do surf na China. Com as Olimpíadas de Los Angeles em 2028 no horizonte, a corrida é também contra o tempo.