Bicampeão mundial de surfe em ondas gigantes, Carlos Burle começou no esporte em Recife, sua cidade natal, mas se consagrou na praia de Maracaípe, em Ipojuca, considerada o paraíso dos surfistas no estado. Nesta quarta-feira (1), ele voltou ao cenário paradisíaco, desta vez levando o símbolo do futuro do seu esporte: a tocha Olímpica – o surfe é um dos esportes cotados para os Jogos Tóquio 2020.
“Foi a onda da minha vida”, disse após conduzir a chama em cima de sua prancha.
Antes da condução, Burle contou porque a praia onde aconteceu o revezamento é importante na sua vida e carreira.
“Conduzir a tocha em Maracaípe faz todo o sentido para mim. Da primeira vez que surfei lá, fiquei impressionado com as ondas. É um lugar que representou tudo na minha vida. Nunca vou me esquecer dos eventos, das torcidas, das barracas armadas na praia”, recorda.
O surfista de 49 anos conquistou os principais títulos dentro do esporte. Caçador de ondas gigantes, Burle conquistou dois mundiais nessa modalidade. Em 1998, no primeiro Campeonato Mundial de Ondas Grandes na Remada, disputado em Todos os Santos, no México, o atleta foi campeão pela primeira vez. Na Califórnia, em 2001, surfou a maior onda do mundo até a ocasião, com 22,6 metros, em um local conhecido como Mavericks. Por conta disso, Burle recebeu menção no Guinness Book of Records e o título daquela temporada no prêmio XXL, o Oscar do surfe em ondas grandes.
Antes de conduzir a tocha, ele disse acreditar que sua participação no revezamento é um reconhecimento para toda a comunidade, assim como a inclusão do surfe na lista dos Jogos Pan-Americanos que serão realizados em Lima, no Peru, em 2019, e a sua possível inserção nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
“Hoje o surfe está bem maduro. Participei desse longo processo de amadurecimento, éramos uma potência do esporte e agora somos ‘a’ potência. A nova geração está chegando com força e nós somos referência em conquista. Levar esse esporte para os Jogos é uma realização muito grande. Ver o esporte chegando a esse nível, sendo abraçado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), está sendo incrível”, avalia Burle.
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Acima, Carlos Burle no “Canhão de Nazaré”, em Portugal, em 2013. Aos 2’50” você confere a onda que bateu recorde por ser a maior já surfada – com altura de 100 pés. O dono do recorde era Garret McNamara, com uma onda de 78 pés, surfada em 2011.
A introdução do surfe na esfera olímpica passa pela possibilidade do uso de piscinas para a realização das provas. Polêmica entre os que defendem a legitimidade do esporte, a ideia das ondas artificiais não é um tabu para ele.
“O ser humano nunca vai perder o contato com a sua essência se souber trabalhar isso. As ondas naturais nunca vão parar de quebrar. Vamos poder surfar dentro do estádio, as piscinas artificiais vão dar acesso ao esporte para quem não tem. Sou a favor de uma competição honesta, justa, limpa e a tecnologia está trazendo isso para o surfe”, avalia.
De esporte estigmatizado a uma das modalidades mais rentáveis da atualidade, o surfe alcançou um destaque que Burle não esperava. Para ficar melhor, segundo o atleta, só quando ele transformar em definitivo a vida das pessoas.
“Sonho com um surfe capaz de fazer uma mudança social. Pessoas realmente felizes e realizadas na vida sabem que a matéria não é tudo. O surfista tem uma ligação muito forte com a natureza e pode ser a conexão como um estilo de vida mais simples, onde menos é mais. O grande aprendizado é que as coisas boas da vida são simples”, explica ele.
A aposta que Burle faz no surfe como motor para transformação é realidade no seu dia a dia. Desde 2015, ele encabeça a campanha “Água limpa é a onda”, projeto que tem como primeiro foco a despoluição da praia de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, cidade onde vive. A ideia é que ele amplie sua atuação para outras praias e lagoas da cidade.
“Gosto de fazer a diferença. São Conrado tem excelentes ondas, é a história e o berço do surfe no Rio, mas poucas pessoas frequentam por causa das más condições da água. As obras estão acontecendo, tivemos debates com Associação de Moradores. Precisamos trabalhar unidos e entender que saneamento básico é saúde”, ressalta Burle.
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Acima, outra onda de Carlos Burle, desta vez, em Pe’ahi, no Havaí. Surfista concorreu ao “Oscar das Ondas Grandes”, o WSL Big Wave Awards 2016, na categoria vaca do ano.
Fonte: Rio 2016