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sexta-feira, 26 abril, 2024
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Alex Guaraná: “Medina e o X-Fator”

Abaixo, leia análise de Alex Guaraná publicada no blog Surf100Comentários:

The X Factor é um reality show para a TV criado pelo empresário inglês Simon Cowell, descobridor de algumas superestrelas da música. A idéia básica do programa é achar cantores mais do que talentosos, que tenham também aquela coisa a mais, o tal Fator X.

Nas outras atividades, seja na medicina ou nos esportes, a premissa é a mesma. Caras como Roger Federer, Michael Jordan, Ayrton Senna e tantos outros atletas são exemplos de pessoas que além do talento aflorado possuem um carisma e uma aura divina, como se pertencessem ao Olimpo. E isso obviamente também rola no surf. Kelly Slater é o perfeito exemplo do cara X Factor. Desde muito cedo, aos 12 anos, já mostrava que seria diferenciado. Sua grandiosa carreira é reflexo direto de sua genialidade. Seres como eles, ficam para sempre em nossas memórias. Eles não morrem, transcendem! E Gabriel Medina surgiu com esta virtude.

Desde a entrada no profissionalismo até o título mundial em 2014, seu brilho foi intenso, tanto que arrumou um lugar no coração da juventude brasileira, tão magoada com os fracassos do futebol. Medina era o Neymar dando certo, tornando-se campeão. Com um empurrão do grupo Globo, aliado a seus resultados, conseguiu ultrapassar o lugar comum dos esportes menos midiáticos e chegou ao apogeu, virou celebridade. Tudo isso com apenas 21 anos.

Muita coisa mudou de lá para cá. Os compromissos no mar foram divididos com os dos estúdios. As férias surfando deram lugar a voltas de iate em Angra. Os (novos) amigos do peito não surfam, talvez nem se interessem por ondas. Tudo isso é uma questão pessoal e não requer opinião minha ou de qualquer outra pessoa. Mas nos meus recém feitos 50 anos, posso dizer que a vida é feita de ciclos, altos e baixos, e que a paixão por algo é capaz de te manter com os pés no chão. Tantas coisas pra fazer, lembrar, conhecer… tão de repente… Isso te leva ao céu, e ao inferno. Depois de tantas glórias, Medina está sofrendo por ser apenas “mais um” no Tour.

Vendo, de longe pela TV, o semblante tenso de Gabriel, por vezes penso que a cobrança em cima de seus ombros, por ele próprio e por todos em volta, está demasiadamente pesada. Olhando seu maior rival, o havaiano John John Florence, sempre sorrindo, perdendo ou ganhando, depois de um tubo ou após uma vaca, fica inevitável compará-los. Para mim, um está surfando forçado enquanto o outro é uma força natural de seu amor pelo mar.

Não acho que o tal Fator X desapareça assim, do nada. Penso que ele fica ali, no canto, quieto, esperando ser despertado. Fico imaginando se o surf perdeu um pouco a graça para ele, competindo com tantas outras diversões, algumas inimagináveis há 5 anos. Talvez esteja faltando aquele sentimento de acordar cedo, do lado da prancha nova, que passou a noite em cima da cama enquanto você dormiu no chão. Aquele desejo de pegar onda mesmo que o mar esteja horroroso só para acertar aquele aéreo que ficou em sua mente após o sonho noturno. Quem ama o surf, leva este amor para o resto da vida. Ele pode até descansar por um período, mas retorna. Que Gabriel Medina consiga relaxar e encontrar novamente o desejo de surfar apenas por surfar. Que seja menos robótico, competitivo e mais criativo e inconsequente. Se tivesse que dar-lhe um conselho, seria esse: “Cara, aproveite sua idade, seu momento e se divirta na água como se fosse um grommett. Surfe por você e por mais ninguém.”

O tempo voa, os problemas aparecem e a responsabilidade só aumenta. Nesta má fase que não acaba, pode estar faltando prancha, técnico, isso ou aquilo, mas creio que o que realmente não aparece é a alma. Prefiro ver o talentoso Medina se divertindo numa vala em Maresias do que se matando para passar uma bateria. Encontre o espírito e terá o fator de desequilíbrio. Este é o X da questão.

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