foto de abre: Ju Martins
Texto Marina Werneck
Eu lembro quando a Silvana chegou no Rio de Janeiro, baixinha, de cabelo curto, sotaque nordestino, “bichinha arretada”. Chegou roubando a cena, quebrando no surf e ganhando todos os campeonatos. “Quem é essa garota?” era a pergunta. Chamou a atenção de todo mundo com sua linha de surf diferenciada e altamente radical. Isso que na época ela pouco sabia surfar de backside, mal acostumada com as direitas de Paracuru, no Ceará, onde nasceu e foi criada.
Não demorou muito para Sil evoluir rapidamente na performance e nas táticas de competição. Lembro dela ganhando um título brasileiro e a peleja do QS para entrada no Tour. Com muita atitude, virou referência do surf feminino brasileiro. E até hoje, ela é a nossa maior estrela, admirada não só aqui no Brasil mas como em todo mundo. Assistir a Silvana surfar é inspirador.
Durante alguns anos, tive a oportunidade de ficar bem próxima da Sil quando éramos do time da Billabong, viajando, treinando, competindo, numa época de lembranças muito boas.
Ela virou tipo uma irmã mais velha pra mim e, como tal, eu sempre a admirei, numa relação sólida de amizade e respeito. E esse sentimento se espalha entre as meninas da nova geração.
A trajetória da Silvana é incrível. A carreira decolou assim que ela ingressou na elite, quando, de cara, já chegou fazendo uma nota 10 em um evento em Maui, mostrando que ali era o lugar dela. Depois disso, várias vitórias e resultados importantes em busca de um título mundial.
O surf lhe deu mais, mudou completamente seu destino. Conquistou e realizou muita coisa boa para si mesma e para a família. E a vida pra ela nunca foi fácil, desde as dificuldades na infância até as lesões esportivas. Mas ela sempre superou todos os desafios com base na sua alma guerreira. A motivação dela é muito forte e vem do coração.
Na trajetória, a perda do patrocínio principal num momento de auge mexeu muito com ela, gerou uma instabilidade estrutural física, emocional e, principalmente, financeira, que resultou na falta de suporte profissional de orientação. Isso refletiu na Silvana com um sentimento de insegurança, o que atrapalhou sua consistência no World Tour. E isso como consequência, aflorou uma atitude de vitimização, “reclamona”, que vejo como um reação natural instintiva de proteção, que para sua imagem não é algo positivo.
Numa realidade cruel, as marcas passaram a valorizar mais as modelos que gostam de surf do que as profissionais e suas surfistas de alma. Isso sempre incomodou muito a Silvana, e não só a ela… Mas, foi só um teaser, vamos deixar esse assunto para um próximo momento.
Hoje, o mais legal é ver a volta por cima da Silvana, inspirada por um sonho que fala mais alto. A transformação na atitude dessa surfista casca-grossa é gritante: confiante, bonita, feminina, vaidosa, surfando mais do que nunca!
É muito importante também escrever que ela agora conta com a injeção de grandes empresas de fora do mercado surf que impulsiona sua carreira de surfista e lhe oferece outras ares.
Em 2016, a Sil começou o ano vencendo a etapa do QS Seaflowers na Praia do Forte, e fechou o ano como campeã mundial da divisão de acesso, que brindou a sua volta ao CT, lugar que lhe pertence.
Em 2017, logo no começo do novo ano, será lançado um documentário que conta a trajetória de vida de Silvana Lima e o título dela no QS’16. O filme tem produção da surfista amiga Claudinha Gonçalves e da videomaker e fotógrafa, Ju Martins, junto do amigo coach, Laponã Neuronha, que estão acompanhando a Silvana nessa jornada.
O próximo projeto é uma série no Tour, e a busca pela realização do sonho da Silvana de ser campeã do mundo.
Torcida máxima pela realização desse sonho! #GOSILVANA. HC