O quarto dia do Taça Brasil 10.000, realizado na Praia dos Molhes, em Torres, Rio Grande do Sul, trouxe momentos históricos e grandes performances em um cenário desafiador. O paulista Ryan Kainalo, de apenas 18 anos, sagrou-se campeão brasileiro do Taça Brasil, o circuito de acesso à elite nacional, o Dream Tour. Esta é a 10ª e última etapa do circuito O título marca sua primeira conquista de um circuito profissional, consolidando o talento de Ryan como um dos principais nomes da nova geração.
No feminino, o dia foi menos impactante em termos de eliminações no ranking do que ontem. Nathalie Martins segue como a única capaz de tirar o título de Larissa dos Santos, que lidera o circuito e não está competindo em Torres. A paranaense mantém viva a caça ao título ao avançar para as quartas de final, e precisa vencer mais duas baterias para ser a campeã.
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Esta 10ª e última etapa do Taça Brasil é patrocinada pela Freesurf e realizada pela Confederação Brasileira de Surf (CBSurf), em parceria com a Federação Gaúcha de Surf (FGS), a Prefeitura de Torres e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
O dia começou nublado e chuvoso, mas as condições do mar foram amplamente elogiadas pelos competidores. As séries de até 1.5m apresentaram ondas ainda mais fortes que as do dia anterior. Contudo, o desafio foi ainda maior devido à forte correnteza e à arrebentação pesada, que exigiram preparo físico e estratégia dos atletas. O canal de entrada pelos molhes, que geralmente facilita o acesso ao outside, não estava funcionando, obrigando os competidores a remar ainda mais e enfrentar muitas ondas na cabeça antes de se posicionarem. Durante a manhã, o mar se apresentou mais liso, já à tarde, o vento apertou e a chuva voltou, prejudicando a visibilidade e tornando as condições ainda mais desafiadoras.
O cronograma do dia foi movimentado, com a realização de 4 baterias da 3ª fase do masculino, seguidas por 4 baterias da 3ª fase do feminino, além de 8 baterias da 4ª fase do masculino e 8 baterias das oitavas de final. Cada bateria foi crucial para os competidores que buscam somar os últimos pontos no ranking, já que o Taça Brasil 10.000 encerra o circuito de acesso de 2024. Este evento define os campeões do ano e os classificados para o Dream Tour de 2025, considerando os quatro melhores resultados de cada atleta nas dez etapas realizadas ao longo da temporada.
> Veja os rankings feminino e masculino do Dream Tour e Taça Brasil.
RYAN KAINALO É CAMPEÃO DO TAÇA BRASIL 2024
Ryan participou de seis das dez etapas do circuito ao longo do ano, chegando a Torres na segunda colocação do ranking, atrás do pernambucano Luan Ferreyra, também de 18 anos. Determinado, Ryan começou sua campanha na cidade com uma vitória no Taça Brasil 5.000 realizado na semana passada, assumindo a liderança do circuito. Com o título em suas mãos dependendo apenas de sua regularidade, ele mostrou maturidade, manteve a consistência e fez o dever de casa.
O título, que ainda contava com vários candidatos no início da etapa, foi decidido antes mesmo do dia final. Conforme seus adversários diretos iam sendo eliminados, Ryan seguiu avançando bateria após bateria. Na 5ª fase, enfrentou Gabriel André em uma bateria homem a homem. Bastava vencer para garantir o campeonato, e ele não decepcionou: marcou 11.87 pontos, somando notas 6.67 e 5.20, confirmando o título.
Após sair da água, Ryan comemorou o momento especial e destacou o quanto o circuito foi desafiador:
“Foi um ano muito difícil. O circuito da Taça Brasil tá sendo muito forte desde o primeiro round. Esses últimos dois eventos foram ainda mais desafiadores, porque entrei no primeiro round, então o evento foi mais longo ainda. No último ano fiquei bem perto do título. Tô feliz de provar pra mim mesmo que consigo. Foi mais um objetivo cumprido, mais um item riscado no meu checklist pessoal. É o meu primeiro título profissional de um circuito. Amanhã ainda tem mais competições. Tô muito feliz e bora pra cima!”
Ryan também destacou a importância do apoio familiar em sua jornada, que foi fundamental para a construção de sua carreira:
“O apoio e incentivo familiar que tive desde muito novo foram essenciais. Isso me fez conquistar os objetivos de uma forma mais natural, sem perder muito tempo me adaptando ao profissional.
A tranquilidade de estar com meu pai, minha mãe, meus avós, meus irmãos, meus tios… todos sempre me incentivando em todas as fases é incrível. Não tenho nem palavras pra eles. Amo todos e tô muito feliz.”
Por fim, ele compartilhou seus objetivos para o próximo ano, com metas ambiciosas no Dream Tour e no cenário internacional:
“Agora quero lutar pelo título do Dream Tour, buscar minha classificação para o Challenger Series e, quem sabe, disputar uma vaga na elite mundial.”
Além do título, a performance de Ryan na fase anterior também chamou atenção quando, em condições desafiadoras de ondas pesadas, ele foi pros aéreos e conquistou boas notas, somando um 7.50 e um 6.17, consolidando sua liderança e o caminho para o título.
NATHALIE MANTÉM VIVAS AS CHANCES DE TÍTULO
No feminino, a disputa pelo título do Taça Brasil 2024 apresenta um cenário mais direto: apenas Nathalie Martins ainda pode tirar o título da líder Larissa dos Santos, que não está competindo em Torres. Para isso, Nathalie precisa chegar à final da etapa decisiva.
Larissa mantém uma vantagem confortável, com um impressionante total de 28 mil pontos, que incluem títulos em três etapas ao longo do ano (duas 10.000 e uma 5.000). Apesar disso, Nathalie está mostrando que corre atrás até o fim. Com dois vice-campeonatos em etapas 10.000 ao longo da temporada, ela chegou a Torres com chances remotas, mas aumentou suas possibilidades ao vencer seu primeiro evento no ano, o Taça Brasil 5.000, realizado no último domingo.
Agora, Nathalie segue avançando e precisa superar mais duas fases para alcançar a sonhada final e conquistar o título do circuito.
Nesta quinta-feira, Nathalie enfrentou sua primeira bateria do dia. Mesmo com as boas ondas, pegou um momento complicado para varar a arrebentação que exigiu muito esforço físico. Em um confronto de notas baixas, ela somou 6.17 e garantiu a vitória. Quando o talento precisou dar lugar à garra, Nathalie provou que está à altura do desafio.
Sobre a disputa pelo título, Nathalie comentou que seu foco dentro d’água é o mar e a próxima onda:
“Nem pensei em título. Numa bateria com essa arrebentação aí, só deu pra pensar no mar mesmo e em chegar lá no fundo. Foi um sufoco pra voltar pro fundo, e eu tava morrendo de frio. Altas ondas, mas a arrebentação tá cabulosa.
“Com um dia decisivo pela frente, Nathalie planeja manter o foco e a preparação:
“Amanhã serão três baterias no mesmo dia se eu for passando, então é preparar o corpo, a cabeça e o coração. Foi muito cansativo hoje, mas ainda tô na disputa do título e preciso chegar na final.
É pensar na próxima bateria, passar, relaxar um pouquinho e depois pensar na outra. Se tudo der certo, pensar no título. Tem altas ondas e quero me posicionar melhor, surfar melhor e ver o que acontece. Será um longo caminho pela frente, mas quero muito chegar lá.”
Nas quartas de final, Nathalie enfrentará Kemily Sampaio, de São Paulo, em mais um capítulo de sua luta pelo título do circuito.
MICHAEL RODRIGUES FAZ O MAIOR SOMATÓRIO DO DIA
Michael Rodrigues continua sua brilhante campanha nas etapas de Torres, onde se sente em casa e demonstra todo seu conhecimento da onda. O surfista, que sempre teve um forte vínculo com o pico, se apresenta novamente como um dos principais candidatos para vencer a etapa. Depois de conquistar a maior nota ontem, Michael repetiu a dose hoje ao fazer o maior somatório do dia: 15.17, com notas de 8 e 7.17, em uma bateria que aconteceu na parte da tarde, quando o mar já se apresentava ainda mais difícil. Ele venceu Deyvson Santos, que também vinha apresentando boas performances, mas não conseguiu se encontrar na bateria e somou apenas 7.20.
Sobre a manobra que garantiu a nota 8, Michael elogiou sua equipe de preparação:
“Preciso dar um alô pro meu preparador físico, Alexandre, que tá comigo há mais de dez anos. Eu confio muito no meu preparo físico e quando vi a oportunidade, pensei: ‘Esse tipo de onda você não pode desperdiçar.’ Era uma onda craca, já tava por baixo, e falei: ‘Será que vai dar pra chegar?’ Já tava lá, então fui com tudo. Consegui segurar bem até o final e deu certo, graças a Deus.”
O atleta também destacou a importância das informações da locução para ajustar sua estratégia durante a bateria:
“Dá pra ouvir um pouco a locução sim sim, especialmente quando a rajada de vento dá uma parada. O locutor é muito bom e tá o tempo todo dando informações, e mesmo que você não escute de primeira, com o tempo dá pra captar. Depois de furar uma onda, por exemplo, consigo ouvir melhor. Isso ajuda bastante na estratégia. Agora é manter o foco, porque amanhã tem as quartas de final!”
CAUÃ COSTA MARCA A MAIOR NOTA DO MASCULINO
Quem também está crescendo na casa de apostas é Cauã Costa. Na bateria anterior à de Michael Rodrigues, o surfista de 21 anos entregou mais uma performance impactante, marcando a maior nota do evento no masculino até o momento, um 8.50.
O high score veio em um combo de duas manobras explosivas de backside, mostrando agressividade e precisão mesmo sob condições desafiadoras. Com esse resultado, Cauã venceu o amigo Douglas Silva, que vem em uma excelente fase no ano, mas não conseguiu se encontrar na bateria e somou apenas 6.40, contra 12.83 de Cauã. A visibilidade prejudicada pela chuva e o tempo nublado adicionaram ainda mais dificuldade ao confronto.
Após a bateria, Cauã celebrou a vitória e avaliou o desempenho em meio às condições adversas:
“Pô, tô amarradão de ter avançado mais uma bateria. Tá bem difícil ali no mar, as condições estão ficando mais complicadas. Começou a chover, o vento apertou um pouco mais, a visão da onda ficou muito bagunçada. Você não consegue ver muito bem se ela vai formar boa ou não. Aquela minha esquerda, eu vi a barriguinha dela formando, sabia que ia abrir um pouco e pensei: ‘Vai ser essa.’ Não veio outra onda boa como essa, então fui ali. Na primeira manobra deu tudo certo, mas na segunda eu achei que tinha atrasado. A rabeta passou um pouco, mas, graças a Deus, consegui voltar e completar.”
Agora, Cauã se prepara para um dos duelos mais aguardados das quartas de final, onde enfrentará Michael Rodrigues, em uma disputa que promete ser um espetáculo de alto nível técnico.
SOPHIA SE JUNTA A CAUÃ NA MAIOR NOTA DA ETAPA
A paulista Sophia Gonçalves, de apenas 18 anos, também marcou um 8.5 com um um surfe forte e preciso de backside. Essa performance garantiu a ela a vitória na bateria mais disputada do dia no feminino, somando um total de 10.27 pontos, à frente de Mariana Areno (8.93) e Isabelle Nalu (7.17).
Sophia expressou sua felicidade com o resultado e reconheceu o nível elevado das adversárias:
“Foi uma bateria difícil, porque as meninas são muito fortes. Consegui fazer a maior nota, 8.5, mas fiquei me enrolando um pouco pra achar a segunda nota. Sabia que precisava completar outra onda, porque, mesmo com a 8.5, o risco delas fazerem boas notas era grande. Graças a Deus, deu tudo certo e consegui avançar. Usei bastante meu backside e tô animada pra próxima!”
Sophia e Mariana, ambas integrantes da elite nacional, estão atualmente dentro da zona de reclassificação pelo ranking do Dream Tour, que ainda terá sua etapa final no Rio de Janeiro na próxima semana. No entanto, ambas também acumulam pontos importantes no Taça Brasil, o que pode dar a elas mais segurança na luta por vagas na próxima temporada da elite nacional.
Já Isabelle Nalu, apesar da eliminação, somou pontos valiosos para o ranking do Taça Brasil. Com a possibilidade de muitas surfistas à sua frente se classificarem tanto pelo Dream Tour quanto pelo ranking do Taça Brasil, a linha de corte pode descer, aumentando bastante as chances de classificação de Isabelle para a elite nacional.
ALEXIA AVANÇA COM O MAIOR SOMATÓRIO DO FEMININO NO DIA
Representando o estado anfitrião, Rio Grande do Sul, Alexia Monteiro mostrou regularidade e domínio no mar desafiador de Torres ao conquistar o maior somatório feminino do dia: 11.17 pontos, com notas de 6.67 e 4.50. Ela destacou as dificuldades enfrentadas e celebrou o avanço:
“Tô muito feliz de ter avançado, mas foi uma bateria muito difícil. A gente acabou entrando pelo lugar errado, ali pelo lado dos molhes, e demoramos muito tempo pra varar. Quando cheguei no fundo, olhei pros lados e falei: ‘Meu Deus, tá clássico!’ Era aquele momento de querer surfar à vontade, mas tinha que focar, porque é competição. Consegui mostrar meu surfe numa boa esquerda. Sabia do potencial dessa onda aqui e queria pegar o mar bom pra mostrar o que sei fazer. Deu certo, graças a Deus, e tô muito feliz de avançar pras quartas.”
Mesmo com as dificuldades, Alexia avaliou positivamente o surfe feminino na etapa:
“É muito bom ver o nível das meninas. Tão surfando muito e o feminino tá cada vez mais unido, mais junto em prol do esporte. Isso é muito importante e me deixa ainda mais feliz de estar aqui, competindo e avançando.”
A vitória veio em uma bateria onde Kemily Sampaio, de São Paulo, ficou em segundo lugar, enquanto Pamela Mel terminou em terceiro.
Em termos de classificação, Alexia compete com tranquilidade, já que ocupa a 4ª colocação no ranking do Dream Tour e está praticamente garantida na elite de 2025. Para Kemily, atualmente 13ª no Dream Tour, os pontos conquistados em Torres podem ser decisivos para garantir sua vaga sem maiores pressões na última etapa do ano, no Rio de Janeiro. Já Pamela Mel está fora da disputa por classificação ao Dream Tour.
Com essas performances, o feminino continua mostrando um alto nível de competitividade, mantendo a disputa pelo título e pela reclassificação emocionante até as fases finais.
HIGHLIGHTS
PRÓXIMA CHAMADA: DIA DECISIVO EM TORRES
O sábado marca o dia final do Taça Brasil 10.000 na Praia dos Molhes, em Torres. A chamada está programada para as 7h30, com previsão de início às 8h, abrindo as disputas das quartas de final do feminino. Em seguida, será a vez das quartas de final do masculino, avançando fase a fase até as aguardadas finais que definirão os grandes campeões da etapa e do circuito.
A previsão indica mais um dia de altas ondas, com um pouco menos de força ao longo do dia em relação às condições desafiadoras desta quinta-feira.
O público pode esperar grandes performances e momentos decisivos, que prometem encerrar o circuito de acesso à elite nacional com chave de ouro.
TRANSMISSÃO AO VIVO
O Taça Brasil 10.000 em Torres, Rio Grande do Sul, é transmitido ao vivo pelo canal CBSurfPLAY e no site cbsurf.org.br.