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O guia completo de Surf Abu Dhabi com Taj Burrow e Coco Ho

Site Stab lança vídeo e publica matéria apresentando piscina de onda dos Emirados Árabes Unidos como destino seguro para surfistas gays

 

Quem acompanha o site Stab está familiarizado com seu conteúdo muito bem acabado, que inclui matérias longas e com fotos exclusivas, assim como vídeos primorosamente gravados e editados. É o caso do recente lançamento da produção “Abu Dhabi: Ultimate Guide”, na qual Taj Burrow, Coco Ho e Lungi Slabb dão um show de surf na incrível piscina de ondas do complexo Surf Abu Dhabi, na ilha de Al Hudayriat, nos Emirados Árabes Unidos, construída com a tecnologia da Kelly Slater Wave Company. O vídeo, no qual o ex-top do CT, Taj Burrow, conduz o espectador pelas instalações futuristas, é o mais detalhado já lançado sobre o monumental empreendimento.

Só que ao mesmo tempo em que a Stab é reconhecida pela qualidade estética de seu conteúdo, a imparcialidade do mesmo é comumente contestada, muitas vezes nos próprios comentários que acompanham as matérias e vídeos que o site publica. Na matéria que acompanha o vídeo, o jornalista Ethan Davis, referindo-se à recente polêmica envolvendo a família da competidora do Circuito Mundial feminino, Tyler Wright, que acusou a WSL de colocar em risco a segurança da bicampeã mundial ao programar uma etapa do CT na piscina, faz um esforço deliberado para minimizar qualquer possível consequência a que Tyler pudesse estar sujeita. Como é de conhecimento geral, homossexuais, como Tyler, são considerados criminosos nos Emirados Árabes, que preveem em sua legislação punições severas, que podem chegar inclusive à pena de morte para eles.

Ao produzir um material que claramente tem o objetivo de promover a piscina de Abu Dhabi como o fantástico destino para surfistas que o empreendimento sem dúvida é, o site não precisava necessariamente ter entrado nesta questão. A impressão que fica é de que o tema foi levantado sob encomenda, para agradar quem possivelmente bancou a produção. 

Como a própria matéria conta, “nos últimos anos, o Oriente Médio tem sido assumidamente ambicioso na sua busca para atrair visitantes globais. No centro deste esforço está a Estratégia de Turismo 2030, divulgada pelo Departamento de Cultura e Turismo em Abril de 2024. Com um plano de investimento de 10 bilhões de dólares, a região está a remodelar a sua infra-estrutura turística, concentrando-se fortemente em instalações desportivas de classe mundial e acolhendo eventos de alto perfil”.

Ou seja, é uma dinheirama suficiente para bancar muitas produções como a da Stab, ainda que em nenhum momento o site explique se o conteúdo se trata de um publieditorial ou não. O publieditorial é aquele conteúdo publicitário com aparência de matéria jornalística que é publicado em revistas, jornais e websites mediante um pagamento. O que em si não tem nada de errado, desde que isso fique explícito.

O risco que Tyler Wright corre ou não é sim motivo para debate e merece ser tratado com mais profundidade do que as justificativas colocadas pela Stab para minimizá-los. Dizar que, “de acordo com relatórios do Departamento de Estado dos EUA, não houve prisões ou processos judiciais registrados por conduta consensual entre pessoas do mesmo sexo nos Emirados Árabes Unidos desde pelo menos 2015” não muda a lei. 

Tampouco dar como garantia de segurança para Tyler o fato de que, “artistas assumidamente gays como Elton John, Boy George e Adam Lambert se apresentaram nos Emirados Árabes Unidos nos últimos anos, e várias organizações esportivas importantes, do Conselho Internacional de Críquete (ICC), UFC, PGA, Fórmula 1 e Rugby 7, continuam a sediar eventos no país, apesar de contar com atletas LGBTQ+ em suas fileiras. O grupo de surfistas de pranchão da WSL, que participou de um evento em Abu Dhabi no início do ano, também tinha algumas pessoas que se identificavam como gay entre eles”. É fácil falar para Tyler e sua família que tudo está certo, que ela não tem que se preocupar com nada. Estar no lugar da Tyler, com certeza nem tanto.

Mas será que a posição anti gay do governo local teria uma influência direta na decisão de potenciais clientes heterossexuais considerando fazer da piscina de Abu Dhabi seu próximo destino? Diante da perfeição absoluta da onda, e do histórico baixo engajamento de surfistas em causas ligadas a direitos humanos, ao que tudo indica o fator que irá predominar como decisivo vai ter mais a ver com a capacidade financeira dos desejosos de experimentar essa maravilha da engenharia, do que com qualquer posicionamento moral.

A matéria da Stab está repleta de informações úteis sobre a piscina e uma delas é o preço. Como explica o ex-top do CT, Mitch Crews, responsável pela recepção dos surfistas visitantes, “uma sessão aqui custa US$4.000,00  (quatro mil dólares) por uma hora e meia, dividida entre seis pessoas. Isso inclui seis ondas completas por pessoa, além de quaisquer seções restantes de ondas em que alguém caiu que você puder pegar. Ou você pode dividir as ondas com um companheiro e obter 12 para cada. Você tem acesso a tudo: pranchas, segurança aquática, seus próprios treinadores de surf, além de todas as suas filmagens. Você está pronto para o dia com esta configuração perfeita.” Isso sem contar passagem de avião, hospedagem, transporte local, alimentação etc. Nos Emirados Árabes a perfeição tem seu preço, e não é pequeno.

+Preocupação com segurança marca polêmica entre WSL e família de Tyler Wright

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