Pedro Falcão, presidente da Abrasp. Foto: Pedro Monteiro
O momento do surf brasileiro não poderia ser melhor. No Circuito Mundial, temos o campeão e os atuais líderes do ranking. No cenário nacional, a comemorada volta do Circuito Brasileiro Profissional, o SuperSurf. Por 10 anos – de 2000 a 2009 – o evento marcou a história como o melhor circuito nacional do mundo e coroou 12 campeões em 53 etapas. O atual diretor executivo da Associação Brasileira de Surf Profissional (ABRASP), Pedro Falcão, atuou incansavelmente nos bastidores e foi um dos grandes responsáveis pela volta do circuito – viabilizado pela parceria com a Editora Rocky Mountain / Revista HARDCORE, dirigida pelo publisher Caco Alzugaray, e a produtora Casa da Árvore, do conhecido realizador Evandro Abreu. Carioca da gema, Falcão diz que não descansou um minuto sequer com a ausência de um evento a altura do Brasil e agora fala das expectativas sobre a volta de uma era dourada no surf nacional e sobre as novidades da nova edição.
Por Steven Allain
O quão importante é a volta do SuperSurf para o esporte no Brasil?
É uma correção de rota. Não se pode discutir a importância de um circuito nacional profissional de referência. O Brasil é uma potência no surf internacional. Precisa ter um circuito forte para suportar os atletas que não fazem parte da elite mundial, servir de plataforma e ser um porto seguro para os surfistas sérios e batalhadores.
Poderemos ver Medina e os Tops da WSL nas etapas do SuperSurf?
Ainda não. A regra não permite que os Tops da WSL participem de eventos que não sejam homologados pela liga. Vamos buscar um entendimento para apresentações festivas. Para os atletas que têm patrocínio de empresas brasileiras, a possibilidade de se apresentar em eventos no país é com certeza um diferencial para esses investidores, e também para o esporte. Temos que expandir os horizontes nessa discussão.
Um ponto fundamental da parceria entre ABRASP, Revista HARDCORE e Casa da Árvore é o de buscar trazer a indústria de surfwear de volta para o circuito. Qual é a importância da participação das marcas de surf, além de parceiros mainstream?
Tudo começou em um momento de crescimento do mercado, no final dos anos 80, com as empresas de surfwear. O primeiro Circuito Brasileiro foi todo patrocinado por empresas de surfwear. O campeonato é o momento em que se juntam os surfistas, a mídia e as empresas do mercado. É a hora de apresentar os produtos, fortalecer a imagem do esporte. Quem acompanha as corridas de rua, por exemplo, está acostumado com verdadeiras feiras, com a presença de empresas do mercado de vestuário, suplementos, hidratação, equipamentos… No surf, perdeu-se a noção da importância de se estar na praia, vender o conceito do surfwear, apostar no esporte. As marcas precisam voltar e reaprender a trabalhar na praia. A ideia é montar um espaço onde as empresas atuem por meio do departamento comercial e de marketing para relacionamento com lojistas e também com o público.
“O Brasil é uma potência no surf internacional. Precisa ter um circuito forte para suportar os atletas que não fazem parte da elite mundial”
Onde e quando acontecem as etapas?
Neste primeiro ano, por uma questão logística, realizaremos as quatro etapas da temporada entre a região Sul e Sudeste. Estamos estudando uma forma de valorizar a participação dos tops da região. A primeira etapa será em Maresias, no mês de julho. O Circuito passará por Ubatuba, em agosto, Santa Catarina, em setembro, e encerrará no Rio de Janeiro em outubro. Todas as negociações e acertos estão andando bem, mas a princípio, é isso.
Como será o formato este ano? Como são definidos os competidores e o ranking final?
A ideia é a de que o circuito seja aberto. Estamos em um período de retomada no surf profissional brasileiro e consideramos que todos os atletas têm o mesmo direito nesse momento. É claro que aqueles que se filiaram em 2014 terão o privilégio de serem cabeças de chave, mas qualquer surfista de qualquer geração, preferencialmente os profissionais, terá direito a escrever seu nome na história do retorno do maior circuito nacional do mundo. As possibilidades estão abertas.
Qual será a premiação?
Neste ano, será de 60 mil reais por etapa. Não é a premiação ideal, mas ao mesmo tempo estamos reconstruindo um processo. Vamos investir em estrutura, transmissão, mídia, dinâmica… Itens que garantem a continuidade do projeto SuperSurf. Estamos atentos à valorização dos competidores, mas tudo deve ser feito com os pés no chão e de maneira sólida.
Pedro Falcão. Foto: Pedro Monteiro
As meninas não competem este ano. Qual é a perspectiva para etapas do feminino no futuro?
A questão do feminino é mais complicada e ao mesmo tempo emblemática. O título do Medina ascendeu às oportunidades para o surf masculino, chamou a atenção do público comum, da grande mídia. O feminino, por enquanto, ainda não está debaixo do holofote da competição, elas têm aparecido de outro jeito. Acredito em um circuito feminino independente, mas ainda é necessário muito trabalho para formatar comercialmente esse produto. Estamos trabalhando para realizar. No SuperSurf, a previsão é de alcançarmos de 128 a 144 atletas no masculino por etapa. Com esse número, em cinco dias de janela, não temos como absorver outras categorias. Também estamos atentos ao Pro Junior e ao Master, produtos em que a ABRASP planeja investir após a consolidação dos circuitos principais.
A nova edição vem com algumas novidades, como baterias entre grandes lendas do esporte. O que mais o público pode esperar?
Sim. Acredito que poderemos viver um momento de glamour do esporte no Brasil. Repaginado, mas com a mesma energia e foco. A ideia é gerar entretenimento para todos, criar um espaço onde o surf esteja presente em todas as suas vertentes: mídia, empresas, atletas, construção e valorização dos ídolos, fortalecimento das federações e entidades e por aí vai.
Quais surfistas, em sua opinião, são os favoritos ao título?
Impossível apostar. Temos o David do Carmo, campeão em 2013 e vice em 2014… O Messias Félix voltando com tudo… Mas apostar em um nome seria pretensão. O surf brasileiro está muito bem servido. Teremos atletas de uma geração acima, como Raoni Monteiro e Léo Neves, e outros que vem buscando seu espaço, como Victor Bernardo e Lucas Silveira. O SuperSurf será um encontro de craques.
Há poucos anos, você assumiu a direção executiva da ABRASP quando ela atravessava um momento muito difícil. Você se sente satisfeito em trazer o SuperSurf de volta? Quais são as suas expectativas para o futuro do esporte?
A ABRASP é um grande desafio. Foram realmente dois anos muito difíceis, mas todos os dias pensava que o derrotado é aquele que desiste e, então, voltava a trabalhar, a acreditar. Na ABRASP, quem administra é o assessor executivo, mas não existiria esse resultado sem o apoio do presidente Dunga Neto e do vice Paulo Motta. Na dificuldade, você vê quem está ao seu lado. No caso do SuperSurf, a visão do Caco Alzugaray (publisher da Revista HARDCORE) para o circuito é incrível. Está só começando! E não pelo SuperSurf, mas por todo o projeto da editora de conteúdo de esportes de aventura, outsiders, radicais. O mais gratificante é que toda a equipe da editora está vestindo a camisa do SuperSurf. Do outro lado, ter o Evandro Abreu como parceiro é ter a experiência de dez anos do circuito e muitos outros eventos de sucesso. Passa muita tranquilidade. Temos tudo para retomar um caminho merecido para o esporte. Acredito que o surf brasileiro vá aproveitar esse momento para garantir o futuro que merece entre as principais modalidades do País. No número de praticantes, no número de fãs, no apoio da mídia, no interesse do poder público e das empresas privadas.
Esta entrevista foi originalmente publicada na HARDCORE de maio de 2015, edição 306, especial 26 anos.