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Steven Allain: apanhando no Fantasy

 


"A premissa do Fantasy é justamente de um jogo de conhecimento –  e não de sorte. O que só aumenta minha frustração. Um verdadeiro chute no saco do meu ego de jornalista de surf". Foto: HARDCORE

Por Steven Allain

Se você curte surf competitivo, já deve ter ouvido falar do jogo Fantasy Surfing. O formato criado no EUA para esportes tradicionais como basquete, baseball e futebol (o deles, não o nosso) já é estabelecido a décadas na terra do Tio Sam. Há poucos anos, surgiu também para o surf – inicialmente promovido pela revista yankee Surfer e mais recentemente no próprio site da WSL. 

Nesse formato, o jogador é uma espécie de treinador. Escala-se um time para cada etapa, com escolhas limitadas ao ‘seeding’ dos atletas, e pontua-se conforme a performance dos seus escolhidos. É divertido comparar os resultados do seu time ao dos seus amigos e de todos os jogadores no resto do mundo. Teoricamente, quem mais entende de surf (e portanto acerta mais), vence.

O jogo torna-se ainda mais interessante quando você cria um grupo só com seus camaradas para ver quem é o melhor nas previsões de cada etapa. No meu caso, faço parte de um grupo de 25 fissurados em surf competitivo, que para apimentar ainda mais a disputa, apostaram R$ 100 cada um. Quem liderar o ranking após a última etapa, em Pipe, leva a bolada toda.

Achei que, por ter feito a cobertura de Circuito Mundial por tantos anos, ter assistido a praticamente todas as baterias disputadas na última década, conhecer grande parte dos competidores e saber um punhado de informações de bastidores, deixaria meus chegados na poeira. 

Na etapa de Snapper, minha certeza cresceu. Desde o 3º round, já dizia na página do nosso grupo no Facebook (isso mesmo, levamos a parada a sério) que Filipe iria vencer. O moleque foi lá e deu um show – e eu vibrei com minha astuta previsão, já sentindo as verdinhas na minha mão ao final do ano. 

Pois bem, desde então, foi só dowhill. Comecei o ano entre os líderes do meu grupo, rankeado entre os 400 do mundo (entre mais de 50 mil participantes). Agora caí para 7º entre meus brothers e 1093º no ranking geral mundial. Pelo jeito, devo despencar ainda mais até o final de Margaret River. A real é que estou apanhando no Fantasy.

Mas como pode ser? Como pode um jornalista que trabalha com surf a mais de 15 anos, já viajou para todas as etapas e já viu, ao vivo, Andy, Kelly, Parko, Mick e Medina sagrando-se campeões mundiais, errar tão feio? A primeira resposta que vem à cabeça é que, na real, eu talvez não entenda de surf competitivo como imagino. E nada indica que isso não seja verdade, naturalmente. Mas aí vejo que liderando o nosso ranking (nesse momento, round 3 de Margs) está um camarada que, sem tempo ou paciência, simplesmente escalou seu time com todos os brasileiros do Tour, sem nem levar em conta estatísticas, histórico, nada. Não que ele não entenda de surf – mas escalou seu time na maior displicência e está na minha frente. (Nota: é importante frisar que o Fantasy não é torcida. Torço, sempre, para que todos os brasileiros vençam. Mas temos que concordar que em certas ondas, nem todos os nossos representantes são favoritos.)

Por outro lado, outro amigo – esse obcecado para vencer nossa competição interna – estuda os resultados dos últimos 5 anos de cada etapa para montar seu time. Ele leva em conta estatísticas, estuda a chave de baterias, pesquisa quem sem machucou, está com as pranchas certas, embalado por uma vitória ou terminou com a namorada – qualquer variável que ajude a determinar os resultados. Ele, pasmem, também está perdendo para a escalação 100% canarinho do nosso brother displicente.

Dizer que o surf é uma caixinha de surpresas é irritantemente redundante. Quem apostaria que Nat Young venceria Filipinho – o melhor surfista do evento – na 2ª etapa? Ou que Parko, mestre de estilo e linhas polidas, perderia justamente numa onda clássica como Bells, para Kerr? E o que dizer do WO de Jordy em The Box? Quem imaginaria que Medina perderia na repescagem em Margs para um wildcard? Eu é que não. Tanto que não apostei nesses resultados – e despenquei no ranking.

A premissa do Fantasy é justamente de um jogo de conhecimento –  e não de sorte. O que só aumenta minha frustração. Um verdadeiro chute no saco do meu ego de jornalista de surf.

A conclusão é que, no fundo, ninguém das internas necessariamente acerta mais nas previsões do que um fã que acompanha o circuito de perto. E que na dúvida, aposte sempre na Tempestade Brasileira.

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