Gabriel Medina é cercado pelos fãs em Pipeline. Foto: Henrique Pinguim
Por Steven Allain
A ERA DO SURFSTAR
A cena antes e depois da bateria de Gabriel Medina na primeira fase do Pipe Masters, nesta 6ª-feira no Hawaii, foi algo nunca antes visto nas areias do North Shore.
Gabriel foi cercado por dezenas de fãs afoitos e excitados quando tentava fazer o check in com o Beach Marshall. Depois de pegar a lycra, teve que ser amparado por seu pai, Charles – que em certo momento foi obrigado a conter o crowd e abrir caminho para que Gabriel pudesse chegar até a beira do mar.
Depois da disputa – que venceu de maneira tranqüila e inteligente – o líder do ranking mundial foi novamente cercado por mídia e fãs. Enquanto tentava responder aos repórteres brasileiros – desesperados por um depoimento, especialmente depois do gelo imposto à imprensa nos últimos 10 dias – fãs histéricas gritavam seu nome em busca de atenção e de uma selfie. Ao fundo, ecoava um sonoro “ME-DI-NA! ME-DI-NA!”. Foi o começo oficial do que os gringos estão chamando de “Medina Madness”.
Familias vão ao outro hemisféio atrás de GM. Foto: Henrique Pinguim
Esse assédio e histeria ao redor de Gabriel são comparáveis apenas ao que Kelly já passou algumas vezes no nosso Brasil. Mas isso aqui é Hawaii. Justamente um dos lugares mais tranqüilos quando se fala na relação público x atleta. O máximo que a galera faz por aqui é dar um assobio ou um grito de incentivo. Dificilmente se vê um contato mais próximo e intenso.
Mas não seria justo taxar público e mídia de invasivos. A culpa não é deles, mas sim do “efeito” Medina: sua campanha, carisma, surf, possível título, apelo, brasilidade – tudo misturado numa coisa só. A real é que quando se atinge um certo über-nível de fama, é com essa intensidade que o público se comporta mesmo. E Gabriel hoje é um superstar. Ou melhor, ele é “o” surfstar do momento.
Afinal, que outro surfista seria capaz de atrair dezenas de milhares de fãs até o Hawaii para torcer numa disputa de título? Que outro seria responsável, individualmente, pela maior audiência na história das webcasts? Quem mais poderia fazer das areias de Pipeline, uma arena verde amarela?
Gabriel Medina é cercado recebe o assédio de fãs e imprensa em Pipeline. Foto: Henrique Pinguim
Naturalmente, quem deseja ser campeão mundial tem que estar preparado para esse tipo de pressão e atenção – por mais insuportável que ela possa parecer. Mas essa é uma realidade nova, principalmente, para o surf. E esses novos tempos – a era dos surfstars, digamos assim – irão inevitavelmente mudar o esporte.
Pois se a situação está assim no Hawaii, como vai ficar no Brasil, França e Trestles (onde o público é bem maior)? O surf competitivo, que sempre “gabou-se” de proporcionar grande proximidade entre fãs e seus ídolos, terá que rever esse conceito. O esporte não queria crescer e atingir o mainstream? Fazer dos surfistas ídolos nacionais? Pois bem, isso aconteceu. Agora o surf competitivo terá que adaptar-se à essa nova dinâmica, criada exatamente pelo tão almejado amadurecimento do esporte.
Pois o que ocorreu com Gabriel ontem nas areias de Pipe, por mais natural e bem intencionado que seja, não cabe numa era de surfstars.
O Brasil está mais perto do que nunca de ter um campeão mundial de surf. Foto: Henrique Pinguim
ASP PREPARADA
Quem leu esse diário alguns dias atrás (Direto do Front 2), deve ter se perguntado porque as ameaças dos black trunks havaianos contra a ASP não se concretizaram (até agora). Será que eles só ficam na conversa mesmo?
A verdade, como quase sempre, é outra. Os locais já provaram que aqui as ameaças vão muito além do papo. Que o diga Graham Stapelberg, atual CSO (Chief Strategy Officer) da ASP. Há 3 anos, Graham era o chefe de marketing da Billabong nos EUA. Na época, dois de seus atletas saíram na mão em Pipeline por causa de uma disputa de ondas. Eram eles: TJ Barron (aquele garoto prodígio do Endless Summer 2), que tinha Billabong no bico da prancha; e Makua Rothman, patrocinado pela RVCA (que pertence à Billa) e filho mais velho de Fast Eddie, o “xerife” do North Shore. Graham interviu e avisou ambos atletas havaianos que se a briga se repetisse, seus contratos de patrocínio seriam cancelados.
Fast Eddie não costuma descumprir suas promessas. Foto: Henrique Pinguim
Fast Eddie não gostou nada da “chamada” de Graham e foi resolver a situação pessoalmente. O “xerife” foi sozinho até a casa da Billabong em Off The Wall, chutou a porta e quando encontrou Stapelberg na sala, desferiu-lhe uma dúzia de tapas na cara, perante toda cúpula da marca australiana. Virou as costas e saiu tão rapidamente quanto entrou. Sem falar uma palavra. Reparação no melhor estilo havaiano.
Foto: Steven Allain
Pois bem, passaram-se 3 anos e para o azar de Graham, ele agora é novamente alvo da ira de Eddie, que desta vez está puto com a ASP. Só que, como dizem, quem apanha não esquece. E Graham certamente não esqueceu a mão pesada e rústica de Eddie acariciando violentamente sua face rosada.
Por isso contratou uma equipe de seguranças, vindos do continente, que formam plantão na frente da casa da ASP. Eles inclusive estão à paisana, usando bermuda e chinelo, numa tentativa tosca de parecerem havaianos. Mas haoles são haoles e todo mundo no North Shore já sabe que eles são policiais armados, fazendo bico de segurança.
Paz temporária explicada. Mas será que ela vai durar?