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Vidas em Risco: Junior Faria

Onda gigante na cabeça, vacas sinistras, doenças graves, ferimentos sérios… Esses são alguns dos perrengues aos quais nós, surfistas, estamos sujeitos. Na série Vidas em Risco, conheça a cada segunda-feira histórias de superação de personagens que por pouco não enfrentaram consequências ainda piores, como até mesmo a morte. Confira a história de Junior Faria, o primeiro dos oito surfistas da série que encararam perrengues insanos. 

Por Kevin Damasio

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“O céu nublado e a água turva deixavam o visual assustador”, conta Junior, sobre o dia em Waimea. Foto: Rafaski

O trânsito no Hawaii era intenso na madrugada de 7 de dezembro. Enquanto carros e picapes lotavam a Baía de Waimea, Junior Faria e Jerônimo Vargas passavam pela casa do fotógrafo Bruno Lemos em Velzyland, para pegar uma gunzeira de 10 pés.

Ao chegar à praia, descobriram o motivo do congestionamento de duas horas na Avenida Kamehameha. O mar estava grande, pesado, balançado e fechando. Ondas de 35 pés escondiam o horizonte por toda a baía. Com a promessa de condições melhores para o dia seguinte, o Eddie Aikau Invitational tinha sido adiado.

Na areia, Junior e Jê encontraram Felipe Cesarano, Ricardo dos Santos e mais alguns brasileiros saindo do mar, adrenalizados. Junior pegou emprestado o leash de 15 pés de Ricardinho e caiu na água na companhia de Vargas, Marco Giorgi e Thiago Camarão.

O lineup estava diferente. Havia cerca de 20 pessoas. No pico, apenas alguns inconsequentes como Shane Dorian. “Logo de cara, olhei para a galera e perguntei: ‘O que a gente está fazendo aqui?!’”, conta Junior, que ria para espantar a insegurança.

“Duvidei que pudesse aguentar o que aquela onda estava prestes a fazer comigo. Foi desesperador, mas ao mesmo tempo muito sereno. Não havia opção”

Depois de uma hora de surf, Junior viu uma série entrando e virou para a areia em busca da primeira onda, enquanto o resto do crowd remava para o fundo para fugir da série. “A onda começou a me empurrar e então olhei para o abismo que se formava na minha frente. Já sentia a velocidade e pensava na linha que faria quando ficasse em pé”, recorda. Mas a onda passou e o arrastou por alguns metros. Ao virar para o outside, ele viu a cortina de terral que caía do céu e as montanhas de água que cobriam o horizonte. A baía fechou. Ele só pensava em remar para o fundo sem olhar para a frente. Estava ofegante, mas fazia barulho ao respirar, para tentar se acalmar.

Os surfistas passavam as muralhas no último instante, quando Junior estava a cerca de 30 metros do lineup. “Olhar para a frente foi como receber a pior notícia da minha vida”, lembra. “Duvidei que pudesse aguentar o que aquela onda estava prestes a fazer comigo. Foi desesperador, mas ao mesmo tempo muito sereno. Não havia opção.”


Junior Faria viveu seu pior momento em Waimea, quando a baía fechou em 2009. Foto: James Thisted

Junior remou, ficou em pé na prancha e mergulhou antes de ser atingido pela muralha. “Dei duas braçadas e abri os olhos. O céu nublado e a água turva deixavam o visual assustador”, diz o paulista. Ele pensou em puxar o gatilho de segurança do leash, para se livrar da prancha, mas sabia que, com isso, a onda poderia arrastá-lo para um lugar pior. “Eu era puxado com muita força. Só esperava a espuma me sugar para o fundo. Mas comecei a desacelerar, abri os olhos e vi que estava perto da superfície.”

Junior boiou no turbilhão de espuma branca e tomou mais três ondas na cabeça – menores do que acabara de escapar. Demorou mais 15 minutos para varar a arrebentação e estava são e salvo. Recuperado, surfou por mais uma hora e meia, o suficiente para pegar uma onda no maior mar que já caiu. “Tive sorte de não ter acontecido nada pior”, admite.

Confira abaixo vídeos do histórico 7 de dezembro em Waimea Bay.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=kMlgkfZKWKU?rel=0&showinfo=0&w=600&h=338]

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=RNzks5M-sJ4?rel=0&showinfo=0&w=600&h=338]

*Esta matéria é parte da reportagem publicada na HC 289, edição de outubro de 2013

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