Já faz quase um ano algumas das maiores ondas já vistas na história foram surfadas por um seleto grupo de big riders destemidos na praia de Nazaré, em Portugal. Entre eles, uma mulher: a brasileira Maya Gabeira, que por pouco não deixou o país sem vida.
O wipeout de Maya virou notícia por todo o planeta (confira aqui a matéria). Os mais respeitados nomes do surf de ondas grandes deram seu parecer sobre a história. Laird Hamilton, por exemplo, foi incisivo ao dizer que a brasileira não teria a técnica necessária para enfrentar esse tipo de condição (confira aqui a matéria).
Hoje, de volta ao surf, Maya Gabeira cedeu uma longa entrevista a Outside Magazine. Como era de se esperar, repleta de afirmações chocantes.
Abaixo, trechos traduzidos da entrevista com a brasileira:
“Eu acho que não é tanto pelo surf. Quando eu pego ondas gigantes a questão é: ‘eu posso sobreviver?’. Com prática todo mundo pode fazer o que quiser na vida, mas você precisa voltar e tentar novamente. Obviamente que ninguém quer fazer algo para morrer. Mas, eventualmente, todos nós vamos morrer.
Uma série muito grande entrou, o Burle começou a me rebocar, eu me preparei, e quando eu soltei a corda, pensei: “uau, a onda já está quebrando e está muito de pé; vou tentar ir um pouco mais longe no inside. Eu comecei a pegar muita velocidade, e a onda continuou a crescer, ficava cada vez mais difícil, e maior, e maior, e mais rápida. No terceiro ‘jump’ eu perdi o controle. Estava muito rápido.
Aquela onda foi ‘ok’. Eu fiquei muito tempo embaixo d’água, mas ainda estava bem. E então eu vi a próxima onda, que estava vindo em minha direção, e eu soube que seria um grande problema. Não havia nada que eu pudesse fazer, nada que o Carlos (Burle) pudesse fazer. Eu apenas tive que tomar aquela onda na cabeça.
Aquela onda foi um pesadelo. Ela me segurou debaixo d’água por uma eternidade. Eu tomei uma terceira onda ainda debaixo d’água. Quando eu estava alcançando à superfície, com todo o impacto, meu colete escapou e eu afundei demais. Eu não achei que conseguiria subir à superfície de novo. De repente, eu consegui e então foi quando percebi que eu não aguentaria mais muito tempo no meio daquilo. Nunca é legal perceber que você pode morrer em apenas alguns minutos. Ainda fiquei pensando que eu iria me explodir contra o cliff ainda viva. Mas o Burle conseguiu me dar a corda a tempo, me arrastou em baixo da água por mais alguns metros, e então eu apaguei.
Não é uma coisa que deu errado, ou que eu não surfo bem suficiente e é isso. Existem muitas coisas que deram errado para eu terminar numa situação de luta pela sobrevivência. É basicamente isso.
É mais aceitável que um homem morra praticando um esporte louco, forçando seus limites e fazendo o seu negócio, do que uma mulher. E é assim que é. Nós estamos fazendo algo que pode nos matar. E nós todos sabemos disso”, Maya Gabeira para a Outside Magazine.
