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No Peito e na Raça

 

Por Julio Adler

Cedo ainda sento-me ao lado do Sergio Noronha e falamos amenidades da vida distante do feroz tempo de competidor.

Sergio Noronha, na época mais conhecido como Fedelho, tinha muito do que Mineiro tem hoje em dia. Garra, muita garra.

Fedelho fazia história nos anos 80, primeiro como fenômeno na ainda insipiente ASBT (Associação de Surf da Barra da Tijuca) e em seguida como o competidor mais jovem do campeonato de Saquarema, com apenas 14 anos.

Fedelho não primava pelo surfe bonito e elegante, mas surfava com uma vontade nunca antes vista – cada onda era surfada com uma paixão, com uma tenacidade fabulosa.

Exatamente como Mineiro.

Quando o tour da ASP retornou ao Brasil em 1986 depois daquele pequeno hiato, com todo talento que havia na época – Tinga, Dadá, Pedro Muller, Picuruta, Eraldo, Paulinho do Tombo -, foi Fedelho quem mais avançou e fincou a bandeira brasileira num muito honroso e celebrado 5º lugar.

No peito e na raça!

Feita a devida introdução de quem é Sergio Noronha, voltemos a nossa inútil conversa sobre filhos… Eis que subitamente surge Peterson Rosa com sua presença inefável.

Peterson abraça afetuosa e firmemente Fedelho, num breve momento capaz de comover o fã mais atento.

Peterson é herdeiro direto da garra do Fedelho.

Da garra e da loucura permitida veladamente naquele tempo de inocência que não tinha nada de inocente.

Sem resistir ao encontro, o Bronco senta-se e conversamos os tres sobre o circuito mundial de hoje em dia.

Para minha surpresa, Peterson nos conta que Mineiro o contratou como técnico e que de agora em diante ficará completamente disponível para ajudá-lo a conquistar o título mundial.

Mineiro está sempre um, ou dois, passos à frente da concorrência.

Pergunto se Peterson acha que o tour de hoje é muito diferente dos anos 90, pelo menos dentro d’água, do respeito que os gringos tem por nós em 2013.

Peterson pensa bem antes de responder, Top 8 por dois seguidos e um dos mais longevos entre os Top 44, Bronco diz que antes o respeito era conquistado na base da porrada, intimidação.

Hoje é tudo um pouco mais fácil, conclui Peterson.

Adriano é amigo dos caras no Facebook, posta fotos no Instagram e os gringos curtem na mesma hora, diz o Bronco.

Na nossa época não tinha isso.

E qual a principal virtude do Mineiro?, pergunto, insistindo.

Raça, me responde Peterson, sem pestanejar.

Mais do que voce, Bronco?

Muito mais, Julio. Muito mais…

Conversa de Quiosque

Numa condição confusa e dificílima de surfar, Mineiro e Medina foram os únicos que se salvaram dos brasileiros.

Outros dois merecem atenção: Slater, pra variar, e Jordy (ou Jorge) Smith.

Jordy é hoje o talento bruto mais selvagem do Tour, pura energia e habilidade.

Uma manobra sua na junção hoje valeu por todas outras juntas, pela velocidade e violência.

Slater competiu com extrema inteligência, evitando enfrentar a poderosa corrente de sul que se arrastava como um rio. Toda vez que entrava no mar, Slater pegava uma onda imediatamente, voltava, pegava mais uma a favor da correnteza e saía quase 150 metros depois do ponto onde entrara.

Desta maneira, evitava gastar energia a toa e surfava uma onda atrás da outra.

Não fez a maior média do dia, o mérito ficou mais uma vez com Medina (18 pontos), que surfou brilhantemente. Mas o Careca foi o que soube interpretar melhor o mar.

PS

Por incrível que pareça – e parece mesmo absurdo! -, a estrutura do evento, que se gaba tanto da sua grandiosidade e garbo, não disponibilizou banheiros para o público.

Pessoas que tentaram usar os banheiros químicos obrigatórios na praia foram impedidas, porque não tinham a pulseira de convidado do evento.

É do conhecimento das conchas e caranguejos que banheiros públicos são obrigatórios em eventos para mais de 1000 pessoas aqui no Rio de Janeiro.

Os arbustos sofreram intensamente hoje naquele solzão.


Mineiro venceu Matt Wilkinson e Yadin Nicol e avançou direto para o Round 3 do Rio Pro. Foto: ASP/Smorigo


Medina tirou dois tubos de backside e cravou a maior somatória da primeira fase. Foto: ASP/Kirstin


"Slater competiu com extrema inteligência, evitando enfrentar a poderosa corrente de sul que se arrastava como um rio." Foto: ASP/Kirstin


Jordy Smith manteve o surf agressivo e garantiu a vitória na estreia no Rio. Foto: ASP/Smorigo

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