Nesse marasmo de 2020 sem competições, HC relemebra uma coluna de James B.
Nesta, ele discute o efeito Dane Reynolds sobre toda uma geração de surfistas competidores nos Estados Unidos. Confira:
Por James B
Fato: nós temos testemunhado um enorme declínio nos resultados competitivos do surfe dos Estados Unidos nos últimos anos. Se não fosse o fenômeno Kelly Slater, os EUA seriam tranquilamente a nação número 4 ou 5 tanto em ranking quantos em representatividade na última década e meia de ASP, agora WSL.
Slater já está mais pra cartola do que para player nas competições. E agora? Aonde está a troca da guarda americana?
Os Estados Unidos tem hoje Kolohe Andino na WSL. Kolohe era tido por lá como um provável sucessor do Kelly, e aos 19 anos de idade já tinha um salário de mais de um milhão de dólares/ano. Após mais de 5 anos no CT e 0 (zero!) vitórias, virou uma sombra bem pálida em relação às expectativas e sonhos envolvendo o seu sobrenome.
Em 2018 apareceu mais um incensado pela mídia e promissor (até que a nova geração de brasileiros prove o contrário), Griffin Collapinto. E basicamente isso. Nada mais. Vocês conseguem ver mais alguém com potencial de sucesso no horizonte surfístico do Tio Sam? Lembrem-se, antes de Kolohe e Griffin, as esperanças americanas no CT nos últimos anos eram caras como Nat Young e Brett Simpson(!).
Comparem essa inanição de talentos de peso com a linha de produção de foras da curva que um país como o nosso Brasil apresentou na última meia década. Medina, Toledo, Italo, pra ficar só nos mais estrelados. E já temos uma nova safra chegando: Pupo e Herdy são os destaques da novíssima geração.
Então o que aconteceu com o surf competitivo nos Estados Unidos? O mais rico, mais importante país no mundo do surfe não deveria estar melhor posicionado em termos de sucesso em competição? C’mon, guys!! A América é a terra natal de Tom Curren e Kelly Slater! 14 títulos mundiais de surfe, sem contar o caneco meia boca do CJ Hobgood em 2001.
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Bem, vosso amigo James B tem sua própria tese sobre o que aconteceu com o surfe made in USA:
Dane Reynolds arruinou com tudo.
Em primeiro lugar: Slater é o rei. O mestre. 11 títulos mundiais em qualquer esporte não podem ser questionados. Mas Dane Reynolds, nos braços de uma mídia especializada em surf obcecada e apaixonada e em estratégias de marketing muito bem planejadas, se tornou o guru não-oficial do surfe americano, especialmente na Califórnia. Se transformou no cara que todos os grommets, de San Clemente a Sebastian Inlet, queriam ser iguais no finalzinho dos anos 2000 e início da década de 2010. E isso foi desastroso pela perspectiva do surf competitivo.
Eu acompanhei de perto basicamente toda a carreira profissional do Dane. E algo que ele falou mais de uma vez sempre me incomodou e marcou:
“I never… Never claim a wave, no matter how good it was”.
Tradução: “Eu nunca, nunca comemoro uma onda minha, não importa quão boa ela tenha sido”.
Fudeu, América! Foi o início do fim.
Never claim? Nunca demonstrar emoção, vibrar, comemorar uma onda, não importa quanto tenha sido boa a manobra, maravilhoso e transcendental o tubo? Porque não, Dane? Eu tenho a resposta: pra parecer “Cool”. Ou fingir que não se importa. Parecer não estar nem aí. Essa era e ainda é a postura de Mr. Reynolds.
Não me entendam mal, queridos leitores. Dane é um surfista inacreditavelmente talentoso, provavelmente o melhor de sua geração e um dos melhores da história recente de nosso esporte. Mas muito controverso e hipócrita em sua forma de se expor e influenciar seus compatriotas.
Como o próprio afirmou em mais de uma entrevista, ele frequentemente ficava muito tenso e ansioso antes de suas baterias, mas sempre fingia estar indiferente, segundo seu mantra “Eu não ligo, não estou nem aí”.
Mais um exemplo:
Em 2015, bateria contra o futuro campeão mundial e brasileiro Adriano de Souza em Jeffrey’s Bay, A bateria aconteceu em um momento desfavorável de maré, e o que aconteceu foi um apático, mais uma vez indiferente e “desmotivado pelas ondas não estarem clássicas” Dane Reynolds ser trucidado vivo por um focado Mineirinho. As condições não eram J-Bay padrão de forma alguma, mas no mesmo ano de 2015 Dane lançou vários vídeos em seu canal na internet Marine Layer, surfando bem motivadinho e feliz ondas BEM piores que as de sua bateria contra De Sousa.
Acima você assiste ao Stab In The Dark “All Stars”, recentemente liberado na faixa pela revista australiana Stab, com Dane Reynolds, Mick Fanning e Jordy Smith.
Agora, voltando para meu ponto chave dessa coluna:
Quanto essa postura do ídolo de toda uma geração norte americana influenciou a molecada de seu país? Quanto Dane Reynolds impactou na formação de centenas, milhares de jovens surfistas que apenas queriam ser “cool como o Dane”? Ou pior, que apenas queriam “parecer” cool?
Esse foram os mantras do surfe americano pós-Dane Reynolds, repetidos inconscientemente por uma década inteira na cabeça daquele monte de loirinhos surfando de Channel Islands por toda a costa dos Estados Unidos:
“Não demonstre paixão, emoção”.
“Não se importe”.
“Diga não às competições”.
“Quer seguir carreira no surf? Aposte suas fichas em vídeo clips e em ter pose de bacana nas redes sociais”.
“Por que lutar para estar na elite do surf mundial? A vida é doce, a grana é fácil por aqui. Porque se acabar de treinar para evoluir?”
O resultado:
Uma legião de jovens surfistas, mimados e com talento desperdiçado, que se enxergam como prima donas. Uma geração que, a partir de 2010, começou a ser atropelada por hordas de brasileiros famintos por grana, sobrevivência, resultados, vitórias. E aí se foi quase uma década perdida para os Estados Unidos.
Então, pra finalizar, meu conselho para vocês, jovens e talentosos surfistas norte americanos: não queiram parecer cool! Queiram ser selvagens! Punks! Demonstrem paixão, emoção! Chorem, gritem, riam, deem porrada na prancha. Mostrem que se importam com suas carreiras de surfistas profissionais! Esqueçam Dane Reynolds, desejem ser o próximo Kelly Slater! Ou os próximos Medinas, Toledos, Ítalos Ferreiras.
Ou não, América! Esqueçam todas as bobagens competitivas que eu escrevi aqui, jovens californianos. Esqueçam Slater, Curren, Gerlach, Taylor Knox, incríveis competidores e ídolos de suas gerações. Esqueçam seu rico legado e apenas se tornem uma nação de freesurfers cool. Façam como Dane Reynolds.
Nenhum demérito nisso. Mas também não venham chorar sobre o leite derramado daqui a 5 anos, quando os fucken brazzos tiverem dominado TUDO e se transformado nos novos ídolos globais do esporte, arrastando escada abaixo de Steamer Lane também o mercado surfwear americano, que ficará carente de novos ídolos nacionais que ditem tendências e impulsionem o consumo da juventude. A escolha é de vocês. HC