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Igor Roichman Gouveia: Ninguém dá mais nada por um rodeo clown

Estamos nos aproximando da metade do circuito mundial e o jogo começa a se afunilar. Na parte de cima da tabela, os aspirantes ao título começam a ser definidos. Com a brilhante vitória em Keramas, Ítalo abre distância e se torna líder isolado até o momento, indo como favorito para a primeira etapa de esquerdas da temporada, em Uluwatu.

Entrando para este ano no lugar da onda preferida de quase todos os surfistas do tour, Keramas teve seu início ofuscado pelo maior swell da história em Fiji. Até o Careca desertou de mais uma etapa para surfar as esquerdas perfeitas de Cloudbreak.

Em Bali, as condições começaram difíceis. O primeiro round foi para água no auge do swell. Mar storm, um pouco passado, tubos que não sabíamos se iam abrir ou esmagar. Passaram direto os mais experientes. Tivemos baterias incríveis, como a do Jordy Smith, e baterias horríveis, como a do Medina. O campeonato não tinha condições de rolar mais de seis baterias por dia. Quando a maré enchia, ou o vento entrava, o nível de competição ficava muito inconsistente. Em algumas vezes o diretor de prova se perdia, colocando baterias em condições totalmente desfavoráveis.

Se o circuito virtualmente já favorecia os regulares, Keramas confirmou o fato. Apenas seis goofies não ficaram com a vigésima quinta colocação. Os que perderam de cara já estão com a classificação em risco para 2019, e começam a ter que focar nas provas do QS.

No round 3 foi quando o campeonato realmente começou. O mar baixou e as condições ficaram perfeitas. Tivemos baterias eletrizantes, e o nível de surf subiu consideravelmente. Os aéreos entraram para o meta da etapa, e já na primeira bateria tivemos uma incrível vitória do Jessé, acabando, até o momento, com os sonhos do tri do John John Florence.

Colapinto e Wilko deram um show de surf e fizeram a bateria mais disputada de todo o round. A última troca de notas foi impressionante.

Wilko mandou um rodeo clown e o Griffin o seu característico full rotation, no fim os juízes entenderam que o 360º foi melhor e deram para o Colapinto. Incrível como o rodeo clown anda desvalorizado, ano passado o Medina tirou 9 alto na mesma manobra, e agora está valendo 7,5.

Falando nele, Medina fez sua bateria mais consistente até aqui. O backside encaixou e as manobras soltaram muita água. Focado, Gabriel despachou o sul-africano na Kombi para a etapa de casa.

O round 4 está sendo uma maravilhosa surpresa. Eliminando o terceiro colocado, as baterias são as mais disputadas de toda competição. As sensações parecem de um filme de suspense. A bateria entre Ítalo, Filipe e Mineiro ilustrou bem esses sentimentos. Ítalo teve um click, e a partir desta bateria parecia ter voltado para Bells. Imparável, fazia uma onda melhor que a outra, e parecia estar em uma bateria diferente de seus adversários. Filipe e Mineiro travaram uma guerra de gato e rato. Vendo o tempo passar e sem grandes notas, começaram a tentar fabricar os scores em qualquer coisa. Faltando 2 minutos, Adriano usa sua prioridade em uma onda intermediária. Começa bem, faz duas manobras fortes, mas escolhe mal a finalização e não consegue o 6.5 que precisava.

Nas quartas de final o jogo mudou. O nível foi para outro patamar. Todos os atletas somaram mais de 14 pontos. Fazia tempo que não tínhamos um campeonato tão disputado e incrível de assistir. O mar estava muito consistente e todos tiveram chance elevar sua performance. O power surf tomou conta da ação. A combinação entre tubo, rasgada forte e finalização era sinônimo de score alto. Michel Bourez mostrou o que faria até a final e avançou sem problemas sobre Colapinto.

 

Willian foi roubado. Até agora não engulo e estou tentando me controlar para não seguir o caminho do Bobby Martinez. Cada ano que passa a WSL obscurece mais o sistema de julgamento, se escondendo atrás da velha máxima “o surf é um esporte subjetivo”, e abre caminho para conspirações. Eu, como adoro conjecturar, vou assimilando pontos em comum e monto minha teoria:

Os juízes aprenderam um novo método para manipular resultado. As baterias mais polêmicas deste ano (como a do Yago em Bells) tiveram um ponto em comum: o atleta prejudicado teve a maioria dos juízes o apontando como o classificado (como assim?).

A nota no surf é formada pela média, cortando a maior e a menor nota. Quando os juízes dão nota parecida, ou na mesma escala, o resultado fica mais ou menos o mesmo comparando com as notas dadas. Se um juiz dá uma nota muito alta, ou muito baixa, ela é considerada uma outlier e é cortada. Mas se dois juízes esticam a média para um lado, estoura o desvio padrão. Foi o que aconteceu.

No último minuto, em uma onda muito similar ao que o William Cardoso acabava de surfar, Mikey Wright arrancou 8.43 dos juízes. 0.07 a mais que o somatório do Panda. E como essa nota saiu? 8.3, 8, 8, 9 e 9.3. Todos concordavam que a nota sairia maior que a última do William que tinha sido 7.53, mas o que se viu foi um verdadeiro absurdo, até para os sites australianos. Parece que teremos que aguentar o Mikey Wright recebendo wildcard pelo resto do ano inteiro.

Passada a angústia, vamos falar de coisa boa. Vamos falar de Tecpix

Brincadeiras à parte, quem parecia estar brincando e se divertindo era Ítalo Ferreira. Depois de uma bateria apertada nas quartas contra o Jeremy Flores, desencantou. Passou voando por cima do Jordy. Se tubo seguido de boas manobras rendia 8, um aéreo full rotation animal, seguido de pancada atrás de pancada rendeu ao Ítalo o 10 do evento. A partir daí a confiança foi a mil e o potiguar tornou-se imbatível.

A final parecia uma festa para o Ítalo, onda atrás de onda o somatório ia aumentando, assim como seu sorriso. Michel, que vinha focado em sua estratégia de tubo seguido do power surf característico, não se encontrou em uma bateria com a maré enchendo. Faltando alguns minutos, deixando o adversário em uma Kombi de quase 19 pontos, Ítalo sai do mar dançando e se divertindo. Carregado em uma folclórica cerimônia, parecendo uma cena daquele filme de sessão da tarde Surf Ninja, Ítalo foi coroado o rei de Bali. Animal.

Viva o rei de Bali!

Igor Roichman Gouveia é colunista da HARDCORE.

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