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O que aprendi em uma semana de surf camp com Marcelo Trekinho

Imagens: Fabiano Sperotto e Renato Leal; edição: Renato Leal


Texto Alexandra Iarussi

A convite da The Search House, essa repórter que vos escreve passou uma semana à deriva pelo litoral de Florianópolis, SC, em busca das melhores condições de surf, para mais uma edição do Surf Camp organizado pelo hostel localizado na Barra da Lagoa.

No rolê, cerca de duas dezenas de machos surfistas, todas as idades e níveis de surf. Em vista, um objetivo: melhorar e evoluir a técnica no esporte. Com diversão, sempre. O mentor? O freesurfer carioca Marcelo Trekinho, que acompanhou a turma em cada sessão e, vale dizer, sempre um dos mais fissurados para cair n’água, em qualquer condição.

Marcelo Trekinho, em ação, durante o surf camp: surfista diz que ver os próprios vídeos de performance ajudou e muito na evolução. Foto: Fabiano Sperotto

“O que me fez surfar melhor? Ter crescido em frente a praia facilitou muito. E acho que gostar de estar na água e ter facilidade de aprender, ajudaram. Quando era pequeno, pegava de bodyboard, de brincadeira, sem compromisso. Quando peguei a prancha, foi fácil ficar em pé. Por volta dos 11, 12, anos, tive minha primeira prancha, e comecei a cair direto. Hoje em dia, o que me faz melhorar, é ter equipamento de primeira, e filmar as caídas para ver depois.” – Marcelo Trekinho.

 

Entre os dias 24 e 30 de julho, rodamos pelas praias Lagoinha do Leste, Moçambique, Guarda do Embaú, Santinho… Além do surf, teve até treino funcional nas dunas da Joaquina, nos dias flat, tudo para não perder o rip.

Quais foram os ensinamentos? Vários. Não importa se você está no surf há 5 ou 20 anos [como eu, de fato, estou, na segunda opção], se amador ou profissional. Com o surf, a impressão que dá, e que muitas vezes não é comparável a nenhum outro esporte, é que quanto mais o tempo passa, mais você se descobre – e mais descobre que tem a aprender.

A experiência ganhou mais corpo técnico com duas visitas especiais. A primeira, de Leandro Dora, o Grilo. A frente da Aprimore Surf, Grilo é o preparador técnico (e pai) de Yago Dora, e treina também o campeão mundial Adriano de Souza e o campeão Pro Júnior, o carioca Lucas Silveira.

Na sequência, foi a vez de Rogério Arenque, shaper da Arenque Surfboards, de Florianópolis, que também faz as pranchas de Yago Dora, falar sobre rockers, concaves e escolha equipamento. Confira:

Yago Dora, Indonésia. Seu pai, Leandro Dora, é dono da Aprimore Surf, e o responsável pelos treinamentos de Adriano de Souza, Lucas Silveira e Yuri Gonçalves.


UMA AULA COM O MESTRE LEANDRO DORA 

Você quer se tornar um surfista melhor? Se a resposta for “sim!”, uma coisa é certa: ouça o que o Grilo tem a dizer, e você não ficará desamparado diante do grande coliseu ondulatório e sempre mutável de Netuno – que é o mar.

Sério, o Grilo fala tanta coisa útil para a vida do surfista, que é realmente um desperdício não anotar tudo que ele fala. Foi exatamente o que fiz, só que agora dividido em tópicos, tudo mastigado, para facilitar sua vida. Está na hora de desencantar seu surf. Confira:


1. Não há evolução sem trabalho.

“O surf tem muitas particularidades que dificultam o trabalho dessa evolução. Obstáculos. O primeiro deles: é um universo aquático, e não o mundo terreno, o qual estamos acostumados, começa por aí. O primeiro passo é você ver onde quer chegar – ou seja, crie uma meta. Tenha um objetivo em vista. ‘Quero entubar legal, surfar bem ondas grandes…’ O surf não tem limite nem idade. Muita gente começa a surfar tarde – basta que você encontre sua fórmula.


2. Encontre seu estágio de felicidade. 

A gente sabe: não é todo mundo que vai atingir o nível máximo de surf em manobras aéreas, full rotation e tubos em ondas enormes, por exemplo. Então, é importante saber onde está seu estágio de felicidade no surf e o que vai fazer para chegar até ele. Isso é muito importante. Você surfar todo dia, ou quantas vezes você puder, não basta.”


3. Definiu a sua busca? Legal. Hora de escolher o equipamento.

Quando o assunto for equipamento, há uma palavra crucial para ser feliz no surf: volume. Pergunte-se: que volume você julga ideal? Aí, dentro do volume ideal, você vai escolher seu equipamento. ‘Ah, quero uma prancha high performance. Que me dê projeção, seja ágil, no limite do volume…’ A escolha do equipamento é fundamental para evoluir no surf.


4. Definiu equipamento? Trabalho. Trabalho. Trabalho.

Só surfar não basta. Claro, é preciso avaliar o quanto você quer evoluir ou chegar em nível elevado. Se quiser tirar proveito máximo do seu potencial, terá de abrir mão de uma noitada enchendo a cara, de dormir até mais tarde e perder uma manhã de surf. Todos os caras que a gente vê que são destaque, e posso citar o Yago e o Mineiro; bem, esses caras abriram mão de muita coisa para evoluir no surf. Claro, eles buscam o nível máximo. E se você quiser atingir o seu nível máximo, terá de trabalhar para isso – sono, alimentação e treinamento, para estar com o corpo legal. Vale lembrar, o treinamento fora d’água deve ser complemento, e não trabalho principal. Muita gente faz o contrário: treina muito fora da água, acaba ficando muito forte, e limitando movimentos para surfar, daí o corpo fica travado. Eu sou fã do trabalho personalizado, tanto na parte física quanto na alimentação.”


5. Esteja atento aos detalhes.

“Se você ficou uma semana, 10 dias, sem pegar onda, vai surfar e já não está em sintonia com o mar. É aquela coisa: a onda não vem para você. Você rema, rema, rema, e não entra na onda. Entrar no ritmo é difícil. Muita gente que não tem chance de surfar todo dia. Pode estudar, ver vídeos, prestar atenção nas revistas, reparar nos movimentos, na pisada, no movimento de braço, na distribuição do peso sobre a prancha. Surfar é sobre estar atento aos detalhes.”


6. O melhor preparo?

Fazer o que gosta. O importante é sentir seu coração batendo rápido; suar… Tem gente que vai nadar, outros correm no parque, na areia… Sinta o que pede o teu corpo e vá atrás. Assim, vai sentir que está com o corpo forte para pegar onda, para varar a arrebentação, tomar na cabeça, essas coisas.”


7. Surfe em qualquer condição.

Não é todo mundo que entende. Mas, acredite, faça isso e vá ver: no dia que realmente tiver onda, você vai se sentir melhor – e surfar melhor. O treino de dificuldade, como surfar em mar ruim, com vento, chuva na cara, e fazer a prancha andar, é o mais importante. Tente, por exemplo, surfar com uma prancha grande e dominá-la; botar duas roupas de borracha, remar carregando alguém no leash… A hora em que você tirar os pesos, perceberá a evolução – e ela é brutal quando se treina com dificuldades.


8. Remada e posicionamento.

“A remada, aquele moment antes de subir na prancha, funciona assim: tem hora em que você acelera e outra em que para de acelerar. Ou seja, a hora em que você para de remar, coloca a mão na prancha para subir na prancha. Como otimizar? Saiba compensar essa desaleceração. Como? Comece remar antes – não com velocidade, com ritmo. Não adianta botar muita força, o lance é coordenação e ritmo. Você tem de dar o gás, e subir de forma sutil, em harmonia com a onda. Isso é saber se posicionar, o fator mais importante.


9. Videoanálise. Sempre. 

“O problema do surf é que ele emociona demais. Na sua cabeça, você pegou um tubão. Daí, quando vê a imagem, vê que não foi bem assim. Filmagem é o mais importante: para evoluir de verdade, é crucial se ver surfando. E o primeiro ponto que a gente avalia na videoanálise, é a pisada sobre a prancha. Como é tua subida? Às vezes, você já sobe com o pé no lugar errado. Daí precisará começar trabalhando esse aspecto. Uma dica? Mantenha o quadril baixo na hora da subida, em vez de subir no pulo, no susto.”

 

*** Vídeo BÔNUS – O momento da subida – e angulação do drop:

 

Mais vídeos desse tutorial aqui.


A PRANCHA IDEAL? ARENQUE DÁ UMA FORÇA

Quanto de rocker? 

“Você pode ter mais rocker na prancha para surfar uma onda mais forte, porque não precisa tanto que a prancha te ajude a desenvolver. E, numa onda fraca, o cara habilidoso consegue gerar velocidade mesmo com bastante rocker. Diferentemente do surfista comum, que sente mais dificuldade, e pode procurar uma prancha com menos rocker.

Do lado direito da foto, o modelo New Dora – 5’11”, 18,75″, 2,28″; do lado esquerdo, modelo Skinny Goat – 5’9″, 19″, 2,25″. Ambos shapeados por Arenque para Yago Dora.

SHAPE EQUILIBRADO

“Na prancha standard, que os caras usam na competição, e que a gente traz, com adaptações, para o surfista comum, respeitando o volume ideal para cada um, mas usando o mesmo modelo, e buscando surf performance, essa sim, é bem equilibrada: não é nem muito curva, nem muito reta. O shape geralmente é do tamanho do surfista, para o dia a dia e para ondas de 0,5 a 1,5 metros. É uma prancha que busca o equilíbrio e permite fazer de tudo.”

[Nesse momento, Trekinho intervém: – “Cara, uso a mesma prancha para ondas de 0,5 a 2 metros”. Vale lembrar, o freesurfer carioca usa a Hennek model, modelo desenvolvido ao longo de anos de parceria com o shaper Claudio Hennek, da Wetworks Surfboards. Nos tamanhos 5’5″ e 5’8″, trabalha com 25 litros de volume, 18 1/8 de largura e 2 3/4 de espessura.]

“Estou com o Hennek desde que tenho 18 anos. Fizemos muitos modelos. Ao longo dos anos, diminuímos o tamanho. Usava pranchas 5’10”, 6′ e 6’2″. Com o tempo, diminuímos o tamanho e aumentamos volume. A prancha com a qual surfo, a Trekinho High Performancetem mais remada que as pranchas anteriores, e se encaixa melhor nas curvas. Ela é menor, mas bóia mais. Depois de várias pranchas, chegamos nela,” explica Trekinho sobre seu modelo próprio.

Vale lembrar, o Surf Camp The Search House acontece pela terceira vez. Das duas primeiras, quem comandou os trabalhos foi o paraibano Fábio Gouveia. Próximas virão.

Mais informações em www.thesearchhouse.com.br.

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