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O que os gringos pensam dos surfistas brasileiros? Parte II

Está no ar a segunda parte de três da série “O que pensam os gringos sobre os surfistas brasileiros”, publicada na HARDCORE #323. 

Confira AQUI a primeira parte.

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No universo competitivo,
como são vistos os surfistas brasileiros?

SEAN DOHERTY:

Eu não acredito no clichê de que surfistas brasileiros têm mais garra que seus adversários. Todo mundo que surfa no Tour tem garra. Ninguém está lá para perder. A diferença está na interpretação do que é o surf.

Eu acho que o surf é definido como um esporte no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, e eu só posso imaginar que o amor da nação pelo futebol tem algo a ver com isso. Você não vê vários Craig Andersons brasileiros por aí. Há também o fato de que o Brasil é uma nação emergente no surf e existe um desejo inerente de se provar contra o resto do mundo do surf. Ganhar títulos mundiais é uma boa maneira de fazer isso. Botar para baixo em esquerdas de 60 pés em Jaws, também.

 

JAMIE BRISICK:

Os surfistas brasileiros comemoram suas ondas mais do que qualquer outra nacionalidade. Uma expressão de emoção ou um floreio vulgar – depende do gosto do espectador.

 

CHRIS BINNS:

Os brazucas são vistos como “claimers” descarados e competidores cruéis que não sabem surfar ondas grandes. Volta e meia, Medina se envolve em situações de interferência, o que não ajuda a causa dos brazucas nessa frente. As comemorações do Filipe são frequentemente escandalosas, mas seu surf é tão bizarro que ele meio que conquistou o direito de comemorar como quiser. Na verdade, ele provavelmente não é pior nas comemorações do que, digamos, Julian Wilson ou Jordy Smith. Nos últimos anos, Gabriel ganhou Fiji e Teahupo’o, enquanto Adriano ganhou Pipe, ou seja, a percepção que se tem dos brasileiros não corresponde à realidade.

RYAN MILLER:

Na competição, eles são vistos como indivíduos. Eu não acho que muitas pessoas no WT tenham uma opinião geral que englobe todos os brasileiros. Existem diferenças tão grandes nas estratégias de Miguel, Gabriel e Filipe, que é impossível colocá-los no mesmo grupo.

 

Filipe Toledo ergue o caneco na etapa de Bells Beach em 2022
Filipe Toledo ergue o caneco na etapa de Bells Beach em 2022. Foto: WSL 

 

Acredita que a última geração de surfistas brasileiros, conquistando títulos mundiais e dominando o circuito, mudou a percepção geral dos brasileiros no surf?

 

DOHERTY:

O título mundial de Adriano mudou as coisas mais do que o título do Gabriel, eu acredito. Medina foi o primeiro campeão mundial brasileiro, mas o garoto já era uma estrela mesmo antes dessa conquista e todo mundo sabia que ele já era predestinado a vencer.

Nós também não conhecíamos – e até certo ponto, ainda não conhecemos – quem realmente é o Gabriel. Talvez seja porque ele ainda é jovem; talvez seja pela aura de estrela que existe em torno dele. Por outro lado, acho que as pessoas fora do Brasil conseguiram se identificar melhor com o Adriano. Ele era a zebra, e os valores que sustentaram seu título – trabalho duro, humildade e determinação – ressonaram com as pessoas de todos os cantos do mundo. Você não pode desconsiderar a barreira da língua em tudo isso também. Ela tem um papel enorme.

BRISICK:

Sim, com certeza. Não há como negar o fato de que o Brasil é uma força mundial gigante. O que não era o caso duas décadas atrás.

BINNS:

Um pouco. Gabriel é impetuoso, assim como Andy  Irons era, o que não necessariamente o ajuda a conquistar fãs estrangeiros. Mas ele é um cara que se destaca pela auto-confiança e se isso é o que é preciso para ele vencer, então ele está fazendo tudo certo. Fico puto que muita gente ainda tenta dizer que o Gabriel não bota para baixo nas maiores, pois ele o faz, e seu histórico e suas pontuações são a prova disso.

Costumavam dizer a mesma coisa sobre o Kelly Slater quando ele entrou no Tour, não se esqueça. Gabriel vai ganhar um monte de títulos ainda, é melhor começar a se acostumar com a ideia.

Foi demais ver o mundo do surf se render ao titulo do Adriano no ano passado, pois ele nunca foi o surfista mais popular, mas trabalhou duro para conquistar seu grande objetivo. Não importa quem você é, todo mundo gosta de um guerreiro. Se Adriano fosse um australiano, estaria lá em cima com Lleyton Hewitt (tenista australiano), que é idolatrado pelo público por ser um atleta que prospera nos desafios com muito trabalho duro, superando as probabilidades para se tornar campeão mundial.

A esta altura, todo mundo reconhece que o Filipe é o melhor surfista de ondas pequenas no mundo, não há dúvidas. E não são apenas seus aéreos, mas suas rasgadas são sinistras também. Ele ainda vai ser criticado por um tempo, no entanto, até evoluir em ondas grandes.

 

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Italo Ferreira no Margaret River Pro, junto à torcida. Foto: Cait Miers / WSL

 

Ítalo, talvez, seja o mais popular dos brasileiros no Tour. O cara se joga, é super descontraído e parece ser respeitado por absolutamente todo mundo no circuito. Além disso, ele manda os aéreos mais selvagens do mundo, nas seções mais psico da onda.

Miguel e Jadson são provavelmente os dois mais amados. Eles são figuras engraçadas e divertidas e se dão bem com todo mundo. Talvez pelo fato de que eles estejam mais para o final do ranking, não sejam tão polarizadores assim.

Aliás, onde estão todas as mulheres brasileiras no Tour? Pergunta interessante.

MILLER:

Com certeza! As pessoas estão amando a nova geração de brasileiros. Eu adoro ver todas as bandeiras brasileiras na praia em todos os eventos e o apoio que eles têm. Dá aos fãs brasileiros uma razão para torcer por essa galera que tem surfado tão bem.

Confira em breve a terceira e última parte da série sobre como os gringos veem os surfistas brasileiros.


Publicado na HARDCORE de novembro (#323)

Texto: Steven Allain

 

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