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02. Dobradinha brazuca na Europa

O Brasil fazendo história de novo. A perna europeia foi dominada pela nação verde e amarela, com vitórias de Gabriel Medina, no seu segundo evento no Tour, e de Adriano de Souza, nos tubos épicos da etapa de Peniche, Portugal. Relembre os momentos com os vídeos abaixo e as reportagens únicas de Julio Adler. 

Começando na França…

"Perdoem a demora.
Estou em Portugal, isolado da civilização como conhecemos nos grandes centros.
Aqui o tempo parou no final do século passado, foi brutalmente acelerado em direção ao século 21 e ficou uma confusão danada no meio.
Não faz o menor sentido analisar a vitória do Medina depois de três dias.
Analisemos os fatos do ponto de vista do torcedor de arquibancada.
Em primeiro lugar, o grito incontido, soco no ar, levantem os copos de refrigerante, porque Medina ainda não tem sequer idade para beber álcool. História foi feita numa série de acontecimentos que podem até ficar antigos quando o ano terminar.
Medina não é o mais novo surfista a vencer uma etapa do Circuito Mundial, Nicky Wood detém esse recorde. Mas Nicky Wood, quando venceu aos 16 anos o Rip Curl Bells, era apenas um convidado, não fazia parte dos 32 melhores surfistas do mundo e não tinha no currículo a quantidade de estragos que Medina vem causando no Tour.
Naturalmente a imprensa que tanto celebra o feito do Medina será a primeira a cobrar desempenho em Pipeline, Teahupoo e nas direitas mais pesadas e alinhadas, mas Medina tem muitos anos para aprender e melhorar cada vez mais em cada uma das suas deficiências.
Mesmo Pottz, o grande fenômeno dos anos 80, competindo no circuito com apenas 15 anos e batendo Mark Richards duas vezes, foi severamente cobrado até dropar aquela bomba num Pipe Masters e fugir do tubo como o diabo da cruz.
Slater foi outro que despertou enorme desconfiança quando entrou no circuito.
Australianos escreviam que aquele franguinho da Florida jamais iria se comparar aos grandes da história, Carroll, Curren, Shaun, Rabbit…
Precisa dizer o quanto eles estavam errados?
A vitória do Medina representa não apenas sua entrada de fato nos Top 32, mas sua declaração de conquista do surfe profissional. Ganhar do Slater duas vezes (alguém tem dúvida que Medina venceu a bateria de três?) e depois do Julian na final teve o efeito devastador que a imprensa e a própria ASP sonhava tanto tempo.
Esta feita a troca de guarda.
Não importa quantos títulos Slater ganhe mais, a hora agora é outra. Julian Wilson representa o surfe de empresário, a fortuna que existe para ser dividida pelos garotos, não foi à toa que a edição especial da Surfer, em 2010, estampava na capa Julian Inc. ou seja, Julian corporação.
Medina é o contrário disso.
Ele vem para derrubar os ícones e se tornar um líder das massas sem rosto e sem nome, que inundam nossos mares – real e virtual. Medina é um rebelde sem querer ser.
Medina não é mais criança faz tempo, ele é um campeão."

… e chegando em Portugal.

"Outubro foi o mês da sorte pros brasileiros. Precisamos de mais eventos em outubro. Fui gentilmente convidado pela Fuel TV e Rip Curl de Portugal para fazer a transmissão em português. Aqui em Portugal deve ser o único lugar do mundo onde o campeonato de surfe é transmitido na íntegra, sem intervalo, desde o inicio até a última bateria num canal de TV pago – além da internet.

Mineiro (foto acima) saiu da bateria contra Travis Logie e foi logo ao webcast conversar conosco, pra nossa surpresa declarou que lesionou seu joelho na segunda feira e foi preciso até uma injeção para aliviar sua dor.
Nada indicava que Adriano carregava uma contusão assim tão grave e olha que existia a possibilidade dele ter que voltar pra água mais, no mínimo, 5 vezes.
E foi o que aconteceu…
Na quarta fase, Mineiro dispensou Bede e Freddy P. Descansou até os caras se matarem na repescagem e enfrentou Michel Bourez numa bateria ao estilo das grandes lutas de boxe, com troca franca de hostilidades, como diria Nuno Jonet, com direito até a uma nota 10 do brasileiro pra delírio da torcida na praia. Bede seria o próximo adversário, um dos mais perigosos em Peniche, também dono dum 10, o primeiro do evento numa bateria contra Mick Fanning, que pode ser considerada uma das melhores do ano.
Bede tem sintonia com essa onda, já fez um 10 em 2009 e só não arrastou porque Michael Eugene Fanning vinha numa daquelas corridas alucinadas que resulta em título mundial.
Mineiro ignorou a intimidade do Bede com a onda, surfou decidido e concentrado na final contra o Careca.
Pronto, mencionei o Careca… Slater foi o surfista do campeonato, só não fez chover, nem venceu porque esse privilégio seria do camarada que ele mais odeia perder.

Quando entraram para a final, Mineiro e Slater tinham contas a acertar.
Slater perdera de forma humilhante em Bells nas melhores ondas que tivemos até Teahupoo. Em Trestles, todos viram, Mineiro vigorosamente lembrou ao Careca que todos ali marcam e disputam ondas quando têm pontos em jogo. O que pode ter parecido uma afronta por parte do Mineiro é o que alimenta as grandes rivalidades e deixa nosso esporte mais fascinante e humano.
Se Andy conseguia não apenas superar Slater dentro d’água, mas também entrar literalmente dentro da cabeça do Careca para desmontar seus esquemas mentais, Mineiro consegue o desestabilizar completamente.
O mesmo bloqueio que Slater impõe aos outros competidores, Adriano usa contra ele.
Existe ali uma tensão não dita e não escrita que extrapola o que acontece dentro do mar.
Nunca vi Slater tão visivelmente constrangido como no pódio em Supertubos.

O triunfo do Mineiro foi definitivo e avassalador, ainda maior do que Medina na França.
O Brasil entra agora numa nova fase do surfe profissional."

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