* Foto de abre (acima): Morgan Maassen
Por Steven Allain
Há semanas venho enrolando um texto para essa coluna. Começo a escrevê-lo, depois volto e mudo, depois apago e recomeço – e nunca termino. Demorei tanto para finalizá-lo, honestamente, que a ideia original ficou datada, quase sem sentido.
Inicialmente, eu ia escrever sobre Kelly – e sobre como todo mundo está viajando nessa idéia de que ele já era. Afinal, o Rei já deu dessas antes. Já ficou anos sem vencer eventos ou títulos e retornou triunfante abocanhando canecos. Já o chamaram de velho antes, já falaram de suas pranchas, de suas minas, das distrações, de sua idade. E o Careca calou a boca de todos os críticos, com título após título.
Cada um pode fazer a análise que quiser, naturalmente, mas não acredito que Slater esteja em decaída – ainda não, pelo menos. É verdade, ele não vence um título desde 2011. Mas uma análise mais minuciosa mostra que durante todo esse tempo, Kelly nunca ficou longe do caneco. Nos últimos quatro anos, ele chegou no Hawaii disputando o titulo – perdeu, respectivamente, para Parko, Fanning, Medina e Mineiro. A meu ver, foi garfado em 2013 e deveria ter levado 12º título mundial – Fanning não venceu aquela batera contra Yadin Nicol nem em Pipe, nem na China. De qualquer maneira, um cara que disputa 6 títulos mundiais seguidos, não pode ser considerado ultrapassado.

“Mas e esse começo de ano pífio?” podem perguntar os mais críticos. É bem verdade que Slater não competiu bem na perna australiana – mas e o que falar do WQS em Pipe, que ele venceu em janeiro, pouco mais de 3 meses atrás? Bato na mesma tecla: um cara que vence os melhores do mundo em Pipe, semanas atrás, não pode ser considerado ultrapassado.

“Ah, mas as pranchas do Kelly estão uma merda!” pode rebater um leitor ainda mais astuto. E essa é uma discussão válida. Essas pranchas do Greg Webber, modelo ‘Banana’ de rocker super acentuado, não andaram bem nas competições até agora. Mas fotógrafos e competidores juram que, no freesurf, Slater tem destruído com essas pranchas. E quem não viu o Careca quebrando semana passada em Cloudbreak e na sua revolucionária piscina de ondas? (reveja aqui). Tudo sobre uma dessas ‘bananas’ do Webber (sem trocadilho). Ou seja, talvez não seja a prancha – mas sim a competição, em si, que tem atrapalhado nosso maior campeão. Lembre-se: não muito tempo atrás, em 2008, Kelly apareceu em Pipe com uma prancha super estranha, a tal “Deep Six”, e venceu de maneira dominante. Como bem escreveu nosso colunista-mestre, Julio Adler, “agora dono de metade da Firewire e trabalhando com alguns dos seus shapers prediletos, excetuando Al Merrick, parece que Slater está determinado a impor seu conceito de curvas exageradas e cada vez menos volume debaixo dos pés. Tirando as ondas de Fiji, Teahupoo e Pipe, nenhum lugar oferece ondas tão rápidas e curtas como o Rio.”

E é aqui que minha coluna perdeu fôlego. Pois, por mais que eu argumente que Kelly não está acabado e que ainda demonstra estar surfando de igual para igual com qualquer um no mundo – sua ausência na etapa do Rio de Janeiro sugere o contrário. Talvez Slater não esteja acabado. Esse é um termo muito forte. Mas ao não comparecer na etapa brazuca, ele essencialmente dá adeus à disputa do titulo de 2016. E, se 2016 já era… será que Kelly volta em 2017, aos 45 aos de idade?

É difícil prever o que Slater fará. Eu mesmo, já previ sua aposentadoria algumas vezes e dei com a língua nos dentes. A verdade é que, em termos de surf, Kelly ainda está na ponta dos cascos. Em condições pesadas, especialmente, faz frente a qualquer um em seu melhor dia.
A pergunta é se ele ainda tem foco e vontade para brigar com essa molecada. Pense bem, quantos quarentões teriam?
Ao desistir do Rio (leia aqui a matéria), Slater desistiu de 2016. Será esse apenas um ‘break’ para voltar com tudo no ano que vem? Ou o fim da carreira competitiva do Maior de Todos os Tempos?