Diário Habaiano 6

Entrada da premiação da Surfer Poll. Foto Surfer Magazine.

Por Julio Adler

North Shore Surf Film Festival

Chegamos apressados para conseguir um bom lugar. O único assento disponível era numa mesa alta, dessa que a turma usa mais pra apoiar os drinks do que pra comer. Já estavam sentadas duas pessoas, um homem com seus cinquenta e muitos e uma mulher de um pouco menos, não pareciam fazer um par e estavam ambos vidrados na tela.
O filme da noite era Lost an Found do Doug Walker (veja o trailer aqui), a fascinante história do camarada que comprou no mercado das pulgas em Pasadena uma das maiores coleções de imagens de surfe jamais vistas, 30.000 fotos! Doug Walker documentou sua saga para identificar cada um dos personagens que lá estavam nas fotos e seus fotógrafos.
O filme é uma pequena aula de história que deveria ser obrigatória pra quem tem algum interesse no surfe além de apenas entrar no mar e pegar onda.
Os entrevistados são um quem é quem no surfe, Larry Bertleman, Jock Sutherland, Gerry Lopez, Aaron Chang, Jeff Divine, Bob Barbour, Dan Merkel, Greg Weaver, Randy Rarick, Bobby Owens, Buttons… Todo o legado do surfe mágico dos anos 70.  
O sujeito meio gordinho sentado ao meu lado foi repentinamente ovacionado quando as imagens ainda impressionantes do Larry Bertleman apareceram no telão.
Era o próprio.
Quando garoto, meus primeiros ídolos no surfe idolatravam o Larry Bertleman e eu fui junto. Cresci tentando imitar o cut-back de skate deitado no chão, fazendo um círculo perfeito e continuando de pé em seguida.
Tive vontade de chegar pro Rubberman (apelido do Bertleman nos 70), dar-lhe um grande abraço e conversar sobre sua influência no surfe carioca dos anos 70/80.
Quase perguntei-lhe daquela prancha roxa que ele vendeu pro Jaques Nery e dos Skates de rodinha Cadillac que ele usava. Buttons veio logo na mesa e arrastou Bert antes que eu pudesse esboçar reação alguma.
Quando olhei em volta, estavam Rory Russel, Bobby Owens, Dan Merkel, Jock Sutherland, Rasta e Joel Tudor cercando Larry Bertleman.
Hora de pegar mais uma cerveja.

O surfista menos popular do mundo

Dias depois seria a solene data da festa do Surfer Poll, celebração com quase 50 anos de história.
Conseguir os convites já era tarefa de espião da KGB durante a guerra fria, nada que Steven, nossa imitação barata de 007, não tirasse de letra.
Chegamos cedo no regabofe pra poder filar uma boia esperta que todo ano é oferecida aos surfistas esganados que frequentam esse tipo de evento.
Desde o ano passado, a Surfer, revista que promove o premio, resolveu mudar de lugar a cerimônia de premiação da California para o Havaí – o que, na minha humilde opinião, se aproxima mais da ideia de comunidade do surfe que eles tanto propagam.
Lá dentro, de Medina e Pupo até Slater, passando por todas as lendas possíveis e imagináveis.
O principal homenageado da noite foi o criador disso tudo que vivemos hoje, John Severson, fundador da Surfer.
Diante de Severson, tudo fica pequeno. Incrível que eles próprios (revista Surfer) tenham demorado tanto tempo pra se dar conta da grandeza do malandro e homenageá-lo.
Bem, antes tarde do que nunca.
A surpresa mesmo foi Julian Wilson e Dane Reynolds em terceiro e segundo respectivamente, mostrando que a força da propaganda do surfe nunca esteve tão latente.
Andy Irons ainda é um dos surfistas mais populares (oitavo) do planeta e acho que deveria haver uma campanha todos anos para mantê-lo nos top 10 por mais uma década.
Bruce, nono, emocionado ao receber os dois trofeus (seu e do seu irmão) ainda brincou, ele ainda ganha de mim, o sacana…
Slater foi pela décima-sexta vez o surfista mais votado do mundo, isso já esta ficando monótono…

O Surfer Poll é a prova cabal que surfistas em bando podem ser tão cafonas quanto um grupo de emergentes numa festa da Vera Loyola.
Alana e amiguinhas disputam pra ver quem veste (veste?) o mini-vestido mais mini e o salto alto mais alto – Alana vestia lingerie azul como foi constatado por Medina e Pupo quando beliscados pela turma da Bombshell do Kauai.
É tambem a chance dos havainos vestirem seus ternos mais terríveis, devidamente acompanhados das gravatas e camisas que fariam a festa no baile do Monte Líbano no carnaval carioca.
Percebi agora porque a ASP passou a exigir smoking nas festas de final do ano no Havaí, era ligeiramente mais seguro…

Pipeline Masters da década

Hoje começa o Pipe Masters em homenagem ao Andy Irons 2011.
Willian Cardoso (como voces viram aqui) foi convidado pelo Triple Crown para participar, junto do Kolohe Andino.
A previsão promete ondas de 10 a 15 com 18 segundos, uma bomba dessas de tremer o chão.
Dos brazucas no evento, 3 estão lesionados, Pupo, Mineiro e Alejo, quase todos com menos de 60% da capacidade física pra enfrentar as morras.
Foi assim, ou quase assim que Mineiro venceu em Portugal nesse ano.
Vamos ver que bicho dá…
A bateria que mais quero ver é Dane Reynolds x Jamie O’Brien.
O’Brien vem atirando twits furiosos desde sempre dizendo que vai fazer e acontecer em Pipe, desafiando inclusive Slater pruma disputa particular.
Se Pipeline ficar apenas com esquerdas e eventuais bombas no segundo, ou terceiro, reef, a coisa vai ficar muito, muito interessante.

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