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Mar de lama

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* Foto acima de Celso Pereira Jr., publicada na matéria “Regência – Onda Indonésia no Espírito Santo”, da HARDCORE #312, edição de novembro, já nas bancas.


Olhe bem para a imagem acima.
Regência, a “Indonésia brasileira”, em seus dias clássicos, tubular e perfeita. Água limpa. Cristalina. A alegria dos surfistas. Fonte de renda para milhares de pescadores da região de Linhares. Pois bem: essa Regência da foto não existe mais. Assim como não existe mais o rio Doce. 

Desde que duas barragens da mineradora Samarco (da Vale do Rio Doce e da anglo-australiana BHP) se romperam na cidade de Mariana (MG), no dia 5/11, caracterizando o maior crime ambiental da história do Brasil, uma sucessão de desastres ecológicos irrompeu-se em um incessante efeito cascata sem data para ter fim.

A lama tóxica – leia-se, repleta de metais pesados – praticamente soterrou subdistritos de Mariana e matou o rio Doce, fonte de sustento de milhões de pessoas entre Minas Geras e Espírito Santo.

Abaixo, retrato da triste realidade:

“Mar de lama” chega ao Oceano, em Regência (ES). Foto feita no dia 22/11, por Gabriel Lordêllo, fotógrafo de Vitória, ES| Crédito: Gabriel Lordêllo / Mosaico Imagem                                                                        
“Foi chocante, até então a lama que havia chegado era mais clara, diluída na água do mar. Essa foi mais densa”, contou o fotógrafo Gabriel Lordêllo sobre o momento da foto.

Os rejeitos tóxicos percorreram 650 quilômetros do rio Doce (ele tem 853 km no total) rumo sua foz, localizada na vila de Regência, na cidade capixaba de Linhares. No dia 21/11, a água barrenta chegou no Oceano Atlântico, provocando morte de centenas de peixes e colocando em cheque um dos melhores picos de surf do Brasil.

Crédito: Robson Barros / regenciasurf.com.br                                                                       

A foto acima mostra o protesto feito pelos moradores de Regência no dia 20/11. As informações são do site Regenciasurf.com.br: “O espaço foi aberto e o microfone também, todos os presentes puderam falar e compartilhar seus sentimentos, e também reivindicar mais respeito por parte da Empresa Samarco, que tem direcionado suas ações sendo orientada por lideranças Comunitárias que representam apenas alguns segmentos existentes na Comunidade, excluindo assim o direito que é de TODOS os moradores locais sem distinção, não passando a informação correta do que está acontecendo e ignorando que antes da lama chegar, o problema sócio econômico gerado já tinha se instalado em Regência”.

 

A prefeitura de Linhares interditou as praias de Regência e Povoação e espalhou placas avisando que os locais estão impróprios para banho. Além disso, tartarugas marinhas protegidas pelo Projeto Tamar em Regência também estão ameaçadas.

Até agora, a lama oriunda do rompimento da barragem adentrou cerca de 15 km para o Norte do mar do Espírito Santo,  segundo informou o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), na última terça-feira (24). Ao leste, mar adentro, a extensão é de 5 km e para o Sul são 7 km. O Ibama informou que, desde que a lama chegou ao estuário, mais de 700 peixes foram recolhidos mortos.


SURFISTAS INDIGNADOS


Nas redes sociais, vários surfistas manifestaram sua revolta. O local de Ubatuba Wiggolly Dantas desabafou com o depoimento abaixo:

“O lucro é para poucos, mas, o prejuízo é de todos. É do pescador, do lavrador, do engenheiro e da dona de casa. É das crianças e dos idosos. É da natureza que chora lágrimas embotadas de uma lama tóxica, fruto da ganância acima de tudo e de todos. E desde sábado é, também, do surf. Os danos para o meio ambiente são incalculáveis. Estamos diante de um evento sem precedentes na história brasileira e seus efeitos serão sentidos por várias gerações. A lama tóxica atingiu a Reserva Biológica de Comboios, no litoral capixaba. Área de desova de tartarugas-marinhas, especialmente da tartaruga-de-couro, já ameaçada de extinção. O sentimento geral é de revolta, medo e tristeza. Parafraseando o grande Aldir Blanc, ‘chora a nossa Pátria mãe gentil, choram Marias e Clarisses no solo do Brasil-. Deixo aqui meu registro indignado, desde Mariana até Regência!”

O paulista Caio Ibelli lamentou pelos surfistas e pescadores e foi além: “Muito triste de ver o tamanho desse desastre, não só para nós surfistas e pescadores e sim para todos amantes da natureza e do oceano”.

O local de Ubatuba Filipe Toledo, atual segundo colocado no ranking do WT, não escondeu sua revolta: “Isso é triste demais, quem já teve a oportunidade de desfrutar desse pico alucinante (que na minha opinião está entre as ondas mais tubulares e perfeitas do litoral brasileiro) sabe bem a indignação que nós surfistas e seres humanos estamos sentindo. Sem dizer a população local. Acabaram com toda a riqueza desse lugar; pescadores que viveram toda sua vida desfrutando do Rio Doce, tribos indígenas que ali mantém suas tradições passando de pai para filho seus costumes. O Rio era como uma mãe para eles; ali usufruíam da água para matar a sede, dos peixes para se alimentar, nadar, lavar etc… Todo ecossistema dessa perfeita obra de Deus foi destruída em minutos e, pior, pela ganância do homem!”

Abaixo, a imagem que o fotógrafo baseado em Vitória (ES) Celso Pereira Jr. – autor das fotos da matéria Regência – Onda Indonésia no Espírito Santo”, publicada na HARDCORE #312, edição de novembro – fez do rio Doce pouco antes da chegada do “mar de lama” em Regência e compartilhou em suas redes sociais.

 

Captura de Tela 2015-11-25 às 16.11.13

Andamos em alguns círculos até retornar para o começo deste texto. Olhe bem para a foto no topo desta matéria. Regência, magnânima e perfeita. Viu? A gente torce para que algum dia – não fazemos a menor ideia de quando (ou se de fato isso ocorrerá) – esta cena volte a se repetir diante de nossas retinas.

Acompanhe as atualizações em www.hardcore.com.br.

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