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Diário de NY – final

 
Por Julio Adler

Irene, Katia e eu

A imagem que vem na cabeça é essa,
Slater dirige seu Dodge Dart 72 em velocidade cruzeiro na liderança do circuito, uma mão no volante outro braço pra fora do carro, charuto na boca, soltando fumaça pelo canto, olho na estrada e na cabeça apenas uma imagem, Owen Wright… Maldito magricelo!

Glória a Deus!

C.J. Hobgood será sempre lembrado pelos tubos, pela coragem, por seu profissionalismo, determinação, seriedade, embaixadinhas com bola de meia e rasgadas cheirando o suvaco.
Na sua entrevista em seguida à dura derrota imposta por Owen Wright, C.J. disse que estava feliz por estar ali, que não gostaria de ser lembrado apenas pelo seu titulo mundial de 2001 e que preferia ser lembrado por ser um fiel a Jesus etc…
Lamento ter que dizer isso, mas lembrarei do Cijêi mais pelo pioneirismo nos slobs (vejam Momentum under the influence e Campaign 2) e caroços em Teahupoo e Pipe.
Não duvido que volte em 2012.

Kerrzy porque Kerr

Josh Kerr voltou à moda. Quando entrou no circuito pela primeira vez, Kerr saiu atirando pra tudo quanto é lado, declarando que sua estreia seria arrasadora, tal e coisa. Não foi isso que vimos e Kerrzy rodou de cara no seu primeiro ano no WT.
Sua volta foi sem qualquer brilho, salvo aéreos perdidos entre uma onda burocraticamente surfada e outra.
Até chegarmos no Tahiti…
Tudo ainda está muito fresco na nossa memória, sua derrota pro Slater nas quartas foi quase sem graça comparada à expectativa que construímos em torno da disputa – mas finalmente ele tinha chegado a algum lugar!
Em Nova Iorque, Kerr teve duas chances de mostrar quem manda na nova geração.
Contra Jadson e Xlater na bateria da quarta fase (sem perdedores), Josh Kerr teve um lapso de estrela e detonou o Careca sem dó nem piedade, relegando Xlater à repescagem – Jadson nunca conseguiu entrar na disputa como deveria.
Na segunda chance, Slater não devolveu a humilhação, apenas venceu e avançou pra semi.
Mas fica claro agora que Kerr entra na lista dos prediletos da ASP para breve promoção aos top 5 – vide a forma como foi julgado contra Raoni.    

Jad Burrow

Jadson é uma esponja, aprende com uma rapidez surpreendente e cada dia no circuito é um dia de dever cumprido.
Foi assim contra seu tutor e ídolo, Adriano de Souza, na repescagem, mesmo jogo, mesmas regras.
No dia seguinte seria a vez do Taj, outro ídolo, outro jogo…
Jadson venceu a bateria, mas TB é um veterano com prestígio demais para perder por pouca margem. Taj precisa ser amassado – Jadson surfou apenas o suficiente pra ganhar. Suficiente é pouco e os pontos que separam a vitória da derrota podem sempre ser justificados pelo subjetividade do jogo.
Desta vez, a chance seria Jadson chamar-se Jad Burrow, ter 15 anos de tour nas costas e uma dúzia de vídeos com seu nome.
Esse é apenas o segundo ano do camarada que ainda tem 21 anos. Pergunta ao Taj quantas vezes ele sentiu a mesma coisa contra Kelly. 

King Kelly, o 11º

Você ainda duvida da capacidade do Slater de surpreender?
Foi assim no US Open contra Dusty Payne, aliás, é assim desde sempre, 1994 contra Pottz em Bells, 1992 contra Kong em Hossegor, contra Machado em Pipe 1995, contra Andy…
Xlater é maior que a ASP.
Sua fama antecede tudo que se relaciona ao surfe e devemos agradecer todos dias por estarmos testemunhando esse senhor de quase 40 anos fazer o que vem fazendo no circuito mundial de surfe profissional.
Taj Burrow perdeu pela enésima vez pro Careca e ainda perderá outras tantas. 

Tragam o Argentino!  

Olha, posso até estar enganado, mas acho que esse ano de estreia do Alejo é o melhor de toda história do surfe brasileiro.
Alejo já tem duas quartas e agora uma semi.
Mineiro teve um terceiro logo no seu primeiro ano, Jadson venceu um evento também no seu primeiro ano, mas a consistência do Alejo é algo de admirável.
Contra um Owen imbatível, Alejo quis dar show pressionado pelos desempenhos que vimos antes e esqueceu que uma bateria é apenas uma bateria.
Sua melhor onda foi dramaticamente mal julgada, o que atrapalha um bocado, mas que resultado para o camarada que chegou agora ao tour!

Hector ou Heitor

Sim, o aéreo do Slater foi no momento mais fantástico do evento, mas o aéreo de backside do Heitor contra Ace Buchan foi coisa de outro mundo.
A moral de cada surfista no circuito se avalia muito pelos escalpos que ele é capaz de acumular numa mesma temporada e o fato do Heitor bater Joel em plena campanha pelo titulo mundial de 2011 é algo que pode ajudar a empurrá-lo pra cima nessa segunda metade do ano.
Com Trestles e Europa pela frente, Heitor pode, e deve, almejar os top 16. 

O troco

Owen perdeu roubado no Tahiti, escreveram os australianos. Owen perdeu roubado no Rio, escreveram todos estrangeiros. Owen perdeu roubado pro Melling na Africa, digo eu…
Em outras palavras, não fosse por essa suposta série de injustiças, Owen Wright estaria hoje liderando o ranking na maior facilidade, mas a realidade é outra…
A verdade é que Owen Wright é hoje o surfista mais perigoso e consistente do circuito.
Surfa bem de costas pra onda, entuba bem pros dois lados, tem repertório vasto e bem executado, falta só parar de parecer tão coitado.
Uma semana depois de fazer uma final espetacular contra Xlater no Tahiti, Owen levantou o maior cheque jamais pago a um surfista profissional num dos campeonatos mais redondos que já vimos.
E mais, Owen é hoje o maior rival do Careca na disputa ao titulo.
São 10 confrontos, sendo que dois não contam porque antes da sua entrada no WT, 6 vitorias pro Xlater, 4 pro Owen – tirando as duas fica 4 x 4.
Xlater não vai descansar enquanto não devolver essa derrota tão sentida, em casa, na costa leste, no evento do seu patrocinador, na ma
ior premiação da história.
Ano passado, em Trestles, depois de perder feio pro Owen na quarta fase, Xlater entrou bufando na área reservada aos juízes e perguntou o que precisva fazer pra ganhar nota.
Viu e reviu todas ondas da bateria, voltou pra água e venceu o campeonato.
Desta vez em Nova Iorque, o massacre foi total, nem a prancha (a cinco quilhas) sobrou pra contar história.

Temos uma corrida ao título e os candidatos estão dispostos a tudo pra triunfar.

E que venham Medina, Pupo e cia!

Final – Owen Wright x Kelly Slater

Melhor momentos – terceiro dia

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