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quinta-feira, 25 abril, 2024
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DIÁRIO HABAIANO

Por Julio Adler Na dúvida entre seis livros, trouxe oito, em caso de flat. Estou ha dois dias no North Shore de Oahu, aquela mesma ilhazinha que atrai tanta gente nos feriados para tentar o Hula-hula e vestir os cafonerrimos colares havaianos. Minhas vindas ao Havaí são pontuais, 1992, 2001 e 2010, nove em nove anos – deve haver alguma relação cabalística com o número. Na primeira vez, pedi ao meu patrocinador na época, Roberto Valério, uma viagem ao Havaí como prêmio pela vitória no Seeway classic em Maracaipe, primeira vitória da equipe Cyclone no circuito brasileiro desde 1987. Sabia da relação que Valério tinha com Havaí e decidi me testar na grande arena do surfe. Assim que cheguei no aeroporto, comprei uma Surfer com Slater na capa, poucos dias depois dele ganhar seu primeiro Pipeline Masters e calar os incrédulos que insistiam em chamá-lo de maroleiro da Flórida. Segunda vez, 2001, vim com meu irmãozinho Cadu, duas câmeras Cannon XL2 e lentes envenenadas para filmar tudo que desse vontade. Fizemos um filme lindo, nunca lançamos. Me viciei em filmar finais de tarde contra luz, o último grito da moda filmes de surfe em 2010. Desta vez não viria nem surfar, nem filmar, o saite da Hardcore faz pela primeira vez uma cobertura diária da temporada havaiana e uma das minhas responsabilidades é escrever sobre as duas últimas jóias da tríplice coroa havaiana. Nunca assisti um campeonato no Havaí. Minha experiência havaiana até hoje se resumiu em longas caídas em Sunset no conforto do canal ou tímidas surfadas em OTW, mais pra ver do que pra surfar. Sei que Valério não gostaria de ler uma frase dessas. Vim sem prancha para não correr dois riscos, um de gastar mais do que tenho com excesso de bagagem e outro de praticar um esporte que perdi a prática, partir pranchas. Steven nos busca no aeroporto, eu e Dudu, e ao chegar no milagre das sete milhas vai narrando nosso roteiro como um desses guias em Beverly Hills. Aqui mora o Mike Healey, ali mora o Fun, ano passado a ASP alugou essa casa, aquela ali é a casa da Hurley onde estão Rob Machado, Ace Buchan… Me sinto um pouco como os catarinenses quando vão ao Baixo Gavea no Rio e ficam ansiosos por apontar um famoso em alguma mesa. O Flat dura bastante patra enlouquecer meia dúzia de aspirantes a vida de surfista profissional. Aqui pisa-se em ovos o tempo todo. Ontem tivemos, eu e Dudu, a oportunidade de ver Owl Chapman chegar na praia com sua 9 e alguma coisa, cordinha amarrada ao tornozelo como se aquele mar absolutamente sereno fosse o mais brutal de todos dias. Owl vive no seu carro uma vida de hippie dos anos 60. Não foi sempre assim. Nos anos 70, Owl era um dos mais respeitados surfistas de todo planeta e suas fotos não apenas mostravam bravura e maestria como um estilo bem humorado até no jeito de surfar. Um pôster da Surfer trazia Owl cavando em Pipeline, 12 pés, e a seguinte frase na legenda: Eu sou o melhor, sempre fui o melhor e sempre serei o melhor. Ao vê-lo na beira do mar numa onda que poderia se chamar Owl’s point sem riscos de danos, sinto uma enorme angústia de não ter estado aqui nos anos 70 para testemunhar seus feitos. Estava ocupado torcendo pelo meu Flamengo, misturado aos milhares na arquibancada, vendo Zico transformar meu time no maior time do mundo. Foto: Andrew Kidman.

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