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quarta-feira, 13 março, 2024
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TRÊS ASES

Por Zé Augusto de Aguiar Confesso que andava meio afastado do surf pró, talvez pelos mesmos nomes de sempre dominarem o World Tour há anos. Mas esse afastamento não tem mais razão. O motivo são três surfistas espetaculares, três super craques das ondas que podem até se tornarem gênios.

 

O primeiro nome é Dane Reynolds (EUA). Cavaleiro elegante tranquilo, ele galopa nas paredes líquidas como um cowboy vasculhando as grandes planícies do Velho Oeste. Chega no grande saloon do Tour sempre com muita personalidade. Ganha as baterias-duelos do seu jeito: dando bordoadas com uma força colossal de fazer o sujeito-onda voar pra fora do bar. Spray de água é pouco, ele produz um milk shake gigante a cada pancada vertical. E reparem na surpresa de seus golpes. Como um lutador que resolve atacar no último e crucial momento, Dane de repente arma o bote supersônico; sua movimentação antes da paulada é rápida e violenta como um lutador de rua que precisa usar a navalha na jugular de um assassino sem ele perceber ou ter tempo para se defender. E nem falei do dom voador do sujeito, repertório de aéreos sem fim – grab-rail air, method air, reverse… – e da beleza de seu estilo, rara combinação das curvas mais limpas e críticas na base da onda preparando seu arsenal psicótico de ataques verticais e em outros ângulos, inimagináveis, como nos snaps furiosos. Assistir à Dane é sentir a eletricidade, a dança, a obra de arte em ação. Como ele dança? Cavando e atacando as paredes com a segurança e curvas perfeitas de um snowboarder deslizando a mil por hora montanha nevada abaixo. E, depois de marcar a neve, ele imediatamente nos transporta para outro esporte, o skate vertical. Isso porque para Dane os aéreos são tão fáceis como as rotinas celestes dos melhores skatistas aproveitando a energia e arquitetura dos halfs como plataforma de lançamento. Surf, snow, skate, explosão, beleza, poucos são tão completos como Dane. Por isso é o cara que faz a praia parar para ver sua mágica e brilho em ação. http://www.youtube.com/watch?v=RKqyUyYcKWE O segundo nome é Jordy Smith, o novo Animal. O sul-africano resgatou a selvageria, até no rosto de guerreiro tribal, do compatriota, gênio e ex-campeão mundial, Martin Potter*. Jordy e seus intimidantes 1m88 e 82 quilos é aquele boxeador peso pesado capaz de nocautear a onda e o rival, mas sabe que um Grande precisa ser completo. Por isso treina tanto e executa com loucura e altura aéreos insanos, e manobras que inventa (o que é aquele Swiss Roll, aéreo com mão na borda e 360?). E o bicho ainda tem fome, muita fome, lembra por isso o Pottz e um certo Occy. E imagine Occy voando, opa!, mas como é possível um touro voar? Sendo Jordy, o gladiador paradoxal que surfa com beleza furiosa e leveza voadora e arriscada. O risco de suas manobras com asas oriundas do sk8. Haja explosão!, cada heat seu é granada pura. Sem o pino… http://www.youtube.com/watch?v=HjiMKGIUv8s Por fim, mas não por último, Jadson André, pois o cara tem algo raro: o carisma e a calma dos campeões. Mais que isso, o potiguar tem a tal “graça sob pressão” (grace under pressure) da lenda dos ringues, Muhammad Ali. A capacidade de elevar ainda mais sua performance na hora das grandes decisões. Por isso, as manobras aéreas espetaculares e fluídas (ele não quebra a linha da onda, seus voos são ponto e vírgula clássicos) que muitos só acertam nas relaxadas sessões de free surf e vídeos futuristas (milhares de tomadas até acertar…) Jadson acerta em série nas baterias contra os melhores do mundo. Ah, pequeno detalhe, ele vem conseguindo essa precisão em seu ano de estreia no WT! Jeitão descontraído, sossego típico de nordestino curtido de calor e um ritmo mais tranquilo (só fora d´água), Jadson transporta pra água seu estado de espírito e talvez por isso caia pouco e não é um exagero chamá-lo de “Homem de Borracha”, referência à sua elasticidade e firmeza, e quem sabe, um justo apelido em alusão ao rubberman original, o mito havaiano Larry Bertlemann. Mas deixemos de comparações, porque Jadson surfa como… Jadson (Dane e Jordy também são assim) e taí um outro diferencial: a originalidade e marca pessoal que só os Grandes têm. Será essa Marca de Jadson a semente, lá dentro, de um Campeão Mundial do World Tour? http://www.youtube.com/watch?v=0tMB1t1RSic Dane, Jordy e Jadson merecem chegar ao degrau mais alto. Jordy já está em segundo no Tour 2010, Dane segue deixando a praia num frisson digno de estreia do filme mais aguardado do ano e Jadson…, bom, o rapaz arretado de Ponta Negra (mesmo pico que foi escola pra Fabinho Gouveia, nosso maior da história) já conseguiu vencer uma etapa do Tour, batendo simplesmente o Império, a História, o Mito Kelly Slater. Só posso terminar com um coloquial “que Puta Tour”! “Que puta momento do surf profissional mundial!” Zé assina a coluna Mitos da revista HARDCORE e é autor do http://zeguto.blogspot.com/ 

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