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Direto do front – por Steven Allain

Por Steven Allain

No mês passado, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que está considerando incluir o surf nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Foi o suficiente para que o assunto voltasse à tona em nosso microcosmo, agora com um novo argumento a favor da inclusão: a tecnologia das piscinas de onda eliminariam o problema de uma possível falta de ondas e da cidade-sede ter que ser na costa.

Vou direto ao ponto: sempre achei a ideia do surf nas Olimpíadas uma tremenda babaquice. 

Para começar, surf é muito mais do que um esporte. Isso todo surfista já sabe. Surf é estilo de vida, forma de expressão, experiência espiritual, arte e diversão – tudo junto e misturado. Não que outros esportes também não sejam interpretados dessa maneira por seus praticantes. Mas cá entre nós, não dá pra comparar pegar um tubo com marcar um gol – por mais ‘espiritual’ que seja a experiência para quem curte bater uma bola. 

O surf amadureceu na contracultura e carrega em seu DNA um espírito rebelde, não-conformista. Seu apelo está exatamente em ser diferente. O surf – no sentido pleno da palavra – engloba contato com a natureza, espírito de exploração e as lições de vida que só se aprendem na hierarquia dos lineups mundo afora. Reduzi-lo a apenas um esporte, como outro qualquer, é uma afronta a tudo que representa.

Por mais que essa seja uma noção romântica, já não compartilhada por todos os surfistas do mundo, é nela que vive nossa identidade. 

Pois mesmo como esporte, com todo o comercialismo que move o nicho competitivo, o surf ainda é extremamente peculiar – uma modalidade que é essencialmente disputada à sua própria maneira. Suas intricâncias colidem com os esportes tradicionais. Daí a dificuldade de formatar e vender o surf no mainstream. Pois mesmo em sua forma mais ‘vendida’, o surf permanece (praticamente) invendável. 

É exatamente essa peculiaridade que dá legitimidade ao surf competitivo. É ela que faz até o mais purista dos surfistas ficar acordado de madrugada acompanhando as webcasts – sem considerar-se um traidor à alma do surf.

Agora, uma disputa numa piscina com ondas artificiais, dentro de um ginásio fechado? Isso já é demais. Imagine: uma onda idêntica à outra, sem arrebentação, fundo de coral ou séries varredoras. Onde estaria a graça? 

Mais do que isso, o que o surf ganharia ao fazer parte das Olimpíadas? Quem se beneficiaria com isso? É claro que surfistas profissionais gostariam de disputar uma medalha olímpica. É claro que seus patrocinadores salivariam com a exposição de seus atletas. É claro que federações e cartolas ganhariam importância (e grana) nesse processo todo. Mas e o surfista comum? 

Por isso vejo qualquer campanha a favor do surf nas Olimpíadas com cautela. Da mesma forma que encaro as recentes e calorosas celebrações pela exposição dada à Brazilian Storm na grande mídia. 

Afinal, quando foi que passamos a desejar fazer parte do mainstream?

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