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ENTREVISTA: PEDRO CALADO

Por Steven Allain | HC307 – Junho/2015

Como seu apelido sugere, Pedro Pinto não é de falar muito. Nos últimos tempos, porém, o carioca de 19 anos deu o que falar. Em apenas 5 meses, protagonizou duas das vacas mais pesadas já registradas no hemisfério norte: uma em Jaws e a outra em Puerto Escondido – entrando prontamente na briga pelo “Wipeout Do Ano” no XXL. Mas, o novo big rider brasileiro afirma que quer mais que entreter as massas com drops suicidas e vacas assassinas. Depois de “comer merda” nos maiores dias da temporada, Calado agora quer brilhar (e completar suas ondas) nos maiores palcos do big surf.

Como começou esta obsessão por surfar ondas grandes?

Comecei a competir aos 12 anos de idade. Com o tempo, vi que não estava virando e resolvi parar quando tinha uns 16 anos. Nessa época, eu conheci o Gordo (Felipe Cesarano). Ele fez uma promoção, nas mídias sociais, em que o surfista de até 16 anos que postasse a foto da maior onda surfada aqui no Rio de Janeiro ganharia uns produtos da JAMF, que era um de seus patrocinadores – e hoje, inclusive, é o meu patrocinador. Eu ganhei a promo e, depois que peguei os produtos, trocamos uma ideia e ele falou que estava indo para o Hawaii. Eu fiquei pilhado e pedi uma ajuda aos meus pais, porque não tinha patrocínio. Pilhei, pilhei e falei para o Gordo me ajudar com a diária da casa. Ele concordou e a gente foi junto. Minha mãe ficou com um pé atrás, já que não conhecia, nunca tinha conversado nem visto o Gordo. Foi meio trabalhoso convencer minha mãe, mas ele fingiu que era bonzinho e deu tudo certo (Risos).

 

Então, você foi para o Hawaii pela primeira vez com 16 anos e já dropou Jaws?

Sim. Na primeira ou na segunda semana já rolou um swell e fomos direto para Maui.

 

Você já gostava de onda grande ou sentiu-se na obrigação de dropar as morras por ter vencido a promoção do Gordo?

Eu não tinha essa pressão. Eu fui porque gosto de onda grande mesmo. Sempre caí nos mares de ressaca aqui. Antes mesmo de ir para o Hawaii eu tinha uma 8’6’’ aqui em casa e sempre que rolava uma ressaca eu ia para água. Eu sempre gostei de surfar de gunzera. Eu sempre quis pegar Waimea, Pipeline. Eu nunca imaginei que fosse levar isso como profissão. Estava lá puramente por prazer.

 

Ficou com medo a primeira vez que surfou Jaws?

Na real, eu não sabia direito o que estava fazendo. Pulei das pedras tranquilo e fui remando no canal, uns 10 minutos de remada. Nesse tempo, não veio nenhuma série, então eu nem sabia direito onde era o pico. Me posicionei onde eu imaginava ser o lugar certo e peguei uma esquerdinha, voltei para o pico e fiquei lá até levar uma onda na cabeça. Nessa hora, o Gordo estava chegando de jet-ski e me viu tomar essa onda nos cornos. Eu voltei para o outside e peguei uma direita e fui reto porque ela fechou. O Billy Kemper e mais um cara me rabearam. Essa foi a primeira caída. Depois de tomar essa fechadeira eu fiquei um pouco nervoso, mas lá no pico me senti bem. Desde então, já surfei lá umas 10 vezes.

 

Você se considera um pupilo do Gordo?

Lógico. Foi ele que me incentivou, me colocou neste mundo do big surf. Se não fosse ele, eu não estaria aqui.

 

O que de mais valioso ele te ensinou?

Ele me ensinou muito no Hawaii. Me mostrou onde eu tinha que entrar e sair do mar, onde estavam as correntes, altos toques. Na primeira vez que caímos em Jaws, ele falou para eu não ficar pressionado e que se não estivesse à vontade, era para ficar no canal. Ele falou que a primeira vez que ele veio para Jaws estava gigante e ele nem conseguiu pegar onda. Teve que ficar no canal. Ele me passava confiança. Ele não chegou e falou para eu me matar, ele tem esse lado maluco, mas tem uma certa consciência. Não é só amizade, é um mestre mesmo.

 

Não temos como deixar de falar da sua vaca em Jaws quando você botou para dentro e rodou feio com o lip.

Eu achei que podia ter completado aquela onda. Relaxei e fiquei muito nervoso ao mesmo tempo. Tinha muito vento e o mar estava subindo cada vez mais. Eu fiquei muito preocupado em completar o drop, porque geral estava voando para trás da onda. Eu acertei o drop perfeito e desci, mas quando fiz a cavada e botei na linha, soltei a mão da prancha e achei que o tubo ia ser um pouco apertado, mais lá em cima. Nessa hora, acho que puxei demais a prancha e saí capotando, dei mortal e tudo. Saí quicando e o lip me pegou, mas não foi das piores. Eu voltei rápido para a superfície. Em seguida, o jet-ski me pegou e me colocou no canal. Quando eu voltei para o pico, já estava meio tarde, começava a escurecer, então saí da água — mas queria pegar mais uma, pena que não rolou.

LucanoHinkle_PedroCalado05_Puerto 

E a vaca em Puerto?

Essa aí foi a vaca da minha vida. Acordei cedo, de noite ainda. Estava com o Gordo no quarto. Falei para ele: ‘Bora? Quero fazer estilo Greg Long, nem olhar o mar e já amanhecer dentro d’água’. Ele falou que ia esperar clarear um pouco para olhar o mar e ver qual ia ser. Então, fui sozinho. Entrei lá por Marinero, que é a praia ao lado, mais protegida, onde ficam os barquinhos. Quando saiu o primeiro raio de luz eu pulei no mar, dei um remadão e amanheci dentro do pico. Fiquei um 20 minutos sozinho e depois entrou o “Twiggy” (Grant Baker), o Will Skudin e mais uns três e foi chegando um crowdezinho. O mar estava muito difícil, porque era um volume muito grande e quando a onda chegava na bancada ela se erguia, ficava buraco. Então, estava muito difícil entrar na onda. Eu fiquei uma hora e meia no pico e consegui pegar só aquela onda. Eu me lembro de que estava posicionado um pouco mais embaixo da galera e ela sobrou para mim. Eu vi que ia abrir e remei com toda a minha força. Eu senti que estava um pouco atrasado, mas pensei ‘vou assim mesmo’. Quando dropei e o vento bateu na prancha eu estava equilibrado e confiante. Eu dei um ‘air drop’ sob controle, mas assim que a prancha chapou na água o bico entrou direto. Eu fui de cabeça e senti que entrei e saí da água — achei que o colete tinha rasgado. Ainda quiquei mais umas duas ou três vezes, e a onda me engoliu. Eu caí de costas e vi o lip gigante jogando por cima de mim. A primeira coisa que eu pensei foi em segurar o colete, pois senti que estava escapando, saindo do meu corpo. Ele subiu e minha cabeça passou para a abertura do braço esquerdo. Foi um caldão. Eu não tenho ideia de quanto tempo aquilo durou, mas lembro que fiquei submerso por o que parecia uma eternidade. Por sorte, eu consegui bater no fundo e pegar um impulso, aí subi direto para a superfície. Se isso não tivesse acontecido e eu fosse obrigado a nadar até a superfície, acho que teria ficado duas ondas embaixo. Assim que subi já tomei mais duas ondas na cabeça e, como eu estava sem leash, a prancha já estava na areia partida em dois pedaços. A minha sorte foi que parou de dar onda e uma correnteza me jogou de volta para o outside. Eu fiquei procurando um jet-ski. Tinha uns caras fazendo tow-in, mas eles não me viram e eu fiquei nadando. Tomei a decisão de sair por Marinero, onde eu tinha entrado. Fica a uns dois quilômetros de onde eu estava.

 

Ninguém ficou preocupado por você não aparecer na areia?

A galera viu que eu estava nadando de costas, tranquilo, de colete. O Gordo estava na varanda do hotel e decidiu entrar para ver como eu estava, porque ficou preocupado. Foi o maior mar que eu já peguei e com certeza o maior medo que eu já senti. Assim que eu saí da água eu estava puto por tomar outra vaca. Já tinha levado uma no início do ano e agora outra, três ou quatro meses depois, mas depois de ver umas fotos e a galera falar que foi uma das maiores ondas já surfadas em Puerto eu fiquei amarradão. Lógico que eu ficaria mais feliz se eu tivesse completado a onda, mas foi bom do mesmo jeito.

 

E agora, qual é o seu plano? Pretende seguir na carreira de big rider?

É isso que eu quero fazer. Pretendo ir para Nazaré no final do ano, para a Irlanda, e tenho o sonho de pegar um tubão em Jaws com grab.

 

*Esta entrevista foi publicada originalmente na HARDCORE 307

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