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ENTREVISTA: SILVANA LIMA

 


Foto: Pedro Fortes / Abertura HC 307

Esta reportagem foi publicada na íntegra na HARDCORE de junho de 2015, edição 307, que está nas bancas.

Abaixo, leia alguns trechos da entrevista. 

Por Kátia Lessa

Uma série de lesões, cirurgias, falta de patrocínio, preconceito, venda da casa e criação de cachorro para bancar a volta ao Tour. O drama de Silvana Lima para continuar no surf não é nada perto do que essa cearense já passou na infância. 

Sua vida daria um filme, e a ideia já começou a sair do papel pelas mãos do diretor Gustavo Marcolini.

No dia seguinte à arrasadora vitória de Filipe Toledo no Oi Rio Pro, ela falou com a HARDCORE. Senta, que lá vem história.


Aéreo nota 10 de Silvana Lima em Snapper Rocks. Foto: Kirstin

Você pediu para atrasar a entrevista para ver o Filipinho e outros surfistas brasileiros na Ana Maria Braga hoje cedo. Por que você não estava lá com eles?

Nessas horas, eles não pensam em mim. Se a Brazilian Storm fosse formada por sete brasileiras e tivesse um homem ali por perto é claro que iríamos incluir esse cara. Eles só pensam na mulher que eles vão pegar e não na mulher que está ali na batalha pelo mesmo objetivo. Eu gostaria muito de estar entre eles, mas a conversa ali é só mulher, mulher, mulher. E eu sei que tem coisas que eles não vão querer falar na minha frente, não quero ficar ali para empatar a vida de ninguém.

Você se considera parte da Brazilian Storm?

Com certeza. Eu vi tudo isso começar e continuo aqui entre eles. Se eu tivesse desistido, não haveria nenhuma brasileira no circuito feminino.

O que você sentiu quando ligou a TV hoje pela manhã e viu os meninos na Ana Maria Braga?

[ Silvana chora…]

De verdade? Me sinto excluída. Sinto preconceito pelo fato de ser mulher. De vez em quando, me pego pensando que até entenderia ficar para trás se meu surf fosse menor, se eu fosse um motivo de vergonha, mas estou na minha melhor fase de surf, estou apresentando manobras super modernas. Essas coisas parecem pequenas, mas ser convidada ali, ser lembrada por eles me ajudaria na força de vontade, no sentimento de brigar junto por uma coisa que todos nós queremos tanto. 

Por que você acha que tem tanta dificuldade de conseguir patrocínio?

Me pego perguntando a Deus por que tenho passado por tudo isso. Por que tiro um 10 na Austrália e nada acontece; e sei que só sigo em frente porque tenho a casca grossa, minha vida nunca foi fácil. Eu vejo o suporte que os meninos têm com grandes patrocinadores. É uma estrutura tão boa que eles só pensam em surfar, em aprimorar a técnica. Eu tenho que pensar no cartão que vai chegar no final do mês e em como eu vou fazer para comprar passagem para a próxima etapa, mas já tive preocupações maiores, já acordei preocupada porque não tinha o que comer antes de ir para a escola. Eu sei lutar.

O fato de você não ser o estereótipo da loirinha surfista de propaganda de biquíni pesa na busca por um patrocínio nesse meio?

Muitos patrocinadores não querem apenas uma boa atleta, e sim uma menina que faça dois trabalhos: o de modelo e o de surfista. A Carissa Moore sempre fala que não é modelo, que o trabalho dela é pegar onda. Ela é atleta e você nunca vai ver foto sensual em seu Instagram porque não é esse o seu trabalho, porém a maioria das meninas cede ao apelo, até a Stephanie Gilmore depois que foi para a Roxy ficou assim. Isso é triste e não vai ajudar o surf feminino. As meninas não estão se dando o valor e mesmo as que fazem os dois trabalhos continuam ganhando mixaria. A Laura Enever entrou na Billabong ganhando metade do que eu ganhava.

A sua família entende a posição que você tem hoje como atleta?

Só meu irmão mais velho. Os outros não muito. Eles não entendem os lugares do mundo que eu vou, a dinâmica e a grandiosidade da competição. Adoraria poder fazer igual ao Gabriel ou ao Filipinho, que levam a mãe com eles em competições importantes. Isso deve dar força, minha mãe nunca me viu competir.

Você ajuda sua família financeiramente?

Graças a Deus consegui realizar um dos meus maiores sonhos que foi comprar uma casa no centro da cidade em que minha mãe vive e tirá-la da barraca de praia. É um lugar muito simples, mas pelo menos ela fica mais distante da bebida.

Sua mãe tem problemas com o alcoolismo?

Desde sempre. Ela criou os cinco filhos sozinha e quando ficava desesperada por não ter dinheiro para comprar nossa comida ela bebia. Não sou muito próxima do meu pai, porque ele sempre foi muito mulherengo. Eu tenho outros 20 irmãos, mas só considero os que cresceram comigo. Ele [o pai] fez filho até com garota menor de idade. Ele era um dos caras mais ricos da minha cidade, mas jogava muito, perdia dinheiro e também bebia. Vi meu pai bater na minha mãe inúmeras vezes quando ele ia dormir lá em casa. Esse cara nunca foi referência para mim.

(Confira na íntegra a entrevista de 10 páginas na HC 307)


Silvana Lima. Foto: Pedro Fortes

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