Palco da estreia do circuito em 1999, Maresias (SP) receberá, em julho, a primeira etapa do novo SuperSurf. Foto: Marcio Alonso
Por Kevin Damasio
A praia estava lotada para acompanhar o dia decisivo da primeira etapa do Circuito Brasileiro, em Maresias. Naquele início de abril de 2000, os últimos campeões nacionais protagonizaram a final: o paraibano Fábio Gouveia, o melhor brasileiro em 1998; e o paranaense Peterson Rosa, então atual número 1 do país. Ambos participavam de um momento histórico para o surf. Decidia-se, ali, o evento de estreia de um circuito que entrou para a história mundial do esporte, como o mais disputado e com as maiores premiações: o SuperSurf.
Peterson – que conquistaria o inédito tricampeonato nacional no fim do ano – vencia e aguardava no lineup, com a prioridade. Mas deixou uma onda passar e Fabinho não perdoou: descolou 8.17 e garantiu a vitória. Somou 21.34 contra os 17.30 de Bronco e ganhou R$ 10 mil, a premiação ao campeão de cada etapa.
E será onde tudo começou, na Praia de Maresias, litoral norte paulista, que o SuperSurf renascerá. De 15 a 19 de julho, o Circuito Brasileiro de Surf Profissional estará de volta, revitalizado, em parceria histórica entre a Abrasp, a HARDCORE e a Casa da Árvore.
Nesta temporada, o circuito também contará com etapas em Ubatuba-SP (12-16 de agosto), Floripa-SC (9 a 13 de setembro) e, de 7 a 11 de outubro, no Rio de Janeiro, a última do ano. Por enquanto, terá apenas a categoria masculina. O formato será o mesmo do World Tour.
“Como não temos uma elite formada, vamos ter vagas de convidados e abriremos o restante para qualquer um se inscrever”, explica Pedro Falcão, diretor executivo da Abrasp. “Vamos determinar a maneira de ser mais justo possível, unindo todas as forças do surf para ter um filtro no primeiro ano inteiro, considerando, por exemplo, a nova geração e os ranking da Abrasp e sul-americano.”
LEIA: Entrevista com Pedro Falcão, presidente da Abrasp, sobre o SuperSurf
O retorno do SuperSurf foi recebido com entusiasmo pela comunidade do esporte. Fábio Gouveia disputou seis das 10 edições do circuito. Em 2005, aos 36 anos, tornou-se bicampeão nacional. “Muito bom saber que o circuito que mudou a cara do surf brasileiro está de volta”, comemorou, direto da Cacimba do Padre, a mítica onda de Fernando de Noronha. “A volta do SuperSurf significa a volta da credibilidade ao surf brasileiro.”
Messias Félix, outro bicampeão nacional e último vencedor do circuito SuperSurf, em 2009, considera a “extrema importância” do “maior circuito brasileiro de todos os tempos, com premiações de alto nível e grande mídia envolvida”. Entusiasmado, o cearense concluiu: “Com certeza os atletas e o público aplaudirão de pé esse circuito”.
Ricardo Toledo, pai e treinador de Filipe, ganhou duas vezes o Circuito Brasileiro (1991 e 1995), na época em que as etapas valiam pelo WQS e, ao ranking, somavam-se também os resultados dos regionais.
O paulista acompanhou de perto o legado da primeira fase do SuperSurf, e refletiu, em sua página no Facebook, sobre a volta do Nacional: “Espero, sinceramente, que todos entendam o momento e apoiem tal acontecimento. Não porque estamos vivendo consequências do ‘Efeito Medina’, mas porque passamos por um momento delicado na política brasileira, e algumas pessoas se dispuseram a lutar pelo esporte que amamos durante nossa vida toda, o surf!”.
No final de tarde de 26 de março, na Editora Rocky Mountain, Pedro Falcão e Evandro Abreu, proprietário da Casa da Árvore (e realizador do circuito de 2000 a 2009), refletiam sobre o impacto que teria a parceria que naquela quinta-feira, após reunião com Caco Alzugaray, publisher da Editora Rocky Mountain/HARDCORE, e Debora Liotti, diretora executiva, que decretaria a volta do SuperSurf.
“A maior importância do Circuito Brasileiro é servir de entrada para a galera que está vindo e, ao mesmo tempo, um lugar para os grandes nomes do surf que já passaram pelo Mundial”, disse Falcão.
Após algum tempo de reflexão, ele prosseguiu: “Quando essa geração de Medina e Filipinho começou, eles enxergavam no SuperSurf a oportunidade de realmente serem surfistas profissionais, porque poderiam contar com um circuito daqueles. Nenhum país tinha aquilo”.
Evandro, na sequência, completou: “O sonho não era chegar ao Circuito Mundial direto; era primeiro chegar ao SuperSurf. Tinha uma escada”.
Os rumores sobre o retorno de um Circuito Nacional de alto nível ainda em 2015 circulavam desde que Gabriel Medina sagrou-se campeão mundial. Pela primeira vez, um brasileiro alcançava o topo do mundo. Mas e agora? Que estrutura a novíssima geração teria pela frente, para manter o gás da “Tempestade Brasileira” pelas próximas décadas?
Era sobre isso que conversava com Adriano de Souza, naquele 19 de dezembro, minutos antes de Alejo Muniz e Mick Fanning entrarem na água na bateria que concretizaria o título mundial de Medina.
Na época em que Mineiro disputava campeonatos amadores e júniores, na virada do milênio, havia bastante investimento no surf nacional. Antes de alcançar a elite, o guarujaense participava de etapas do SuperSurf: “Era um campeonato muito difícil de atingir o topo”.
Mineiro também enxerga a escada à qual Evandro se referiu. Considera que a troca de experiência com surfistas que estavam parando de competir, como Guilherme Herdy, Renan Rocha, Peterson Rosa e Fábio Gouveia, foi essencial para amadurecer como competidor.
“No início da minha carreira, eu fazia bateria com o Fabinho, e por isso ele acabou virando referência para mim. Eu testava meu talento com um cara desses, então era ótimo”, reflete Mineiro.
Fabinho compartilha do mesmo raciocínio, e considera que a geração atual, que rouba a cena do World Tour, é fruto da boa fase do surf brasileiro na primeira década deste milênio.
Com recém-completados 18 anos, Mineiro chegava às quartas do SuperSurf em Maresias, em 2005, seu melhor resultado no circuito. Ao saber da notícia sobre o Brasileiro deste ano, ele escreveu: “Esse circuito é o futuro de muitos atletas no Brasil. É uma honra a nova geração poder competir contra os veteranos”. O SuperSurf voltou!