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Que impactos terão o título de Medina?

 

 

Pergunta:
O QUE O TÍTULO MUNDIAL SIGNIFICARIA PARA O SURF BRASILEIRO?

 Alex Guaraná O título mundial de surf representaria uma vitória para pessoas como Roberto Valério, Cauli, Daniel Friedman, Renato Phebo (primeiro brasileiro a correr o Tour inteiro), para a geração de Fabinho e Teco, e depois a de Neco. E acho que para o Mineirinho. Foi ele que redefiniu e pavimentou a estrada em que Medina, Pupo, Toledo e Alejo andam. Com muito profissionalismo e humildade, mostrou ao mundo que um brasileiro podia ser educado e competitivo ao mesmo tempo. E claro, para a família de Gabriel, que no fim das contas está sabendo proteger o menino de todo aquele lado sombrio que existe no Tour.

 Sean DohertyTerá um significado enorme, principalmente pela maneira como Gabriel surfou este ano. Seu título seria incontestável. Ele foi, indiscutivelmente, o melhor surfista de 2014. Acho que o surf brasileiro merece uma conquista assim, inquestionável e verdadeira, sem deixar dúvidas. De qualquer outra maneira, não teria o mesmo valor.  

 Fábio Gouveia Neste momento é tudo que nós precisamos. Medina vencendo trará uma legião de coisas boas para o surf. Pode despertar uma onda nacionalista de investimento para melhorarmos esta potência em “reascensão”. Essa turma que está aí é fruto de circuitos internos fortes, fruto de uma dedicação que não pode parar. Então esse momento seria ótimo para reaquecer tudo, incluindo o surf feminino. Vínhamos em uma onda crescente com o surf feminino e depois paramos. O surf feminino mundial deu um salto e precisamos voltar a acompanhá-lo.

 Julio Adler Divisor de águas.

Pergunta:
A POSSIBILIDADE DE UM BRASILEIRO CAMPEÃO MUNDIAL EM 2014 TEVE ENORME REPERCUSSÃO NAS MÍDIAS SOCIAIS. NUNCA SE VIU TANTO ÓDIO E PRECONCEITO DIRECIONADO A SURFISTAS BRASILEIROS COMO NOS ÚLTIMOS MESES. NA SUA OPINIÃO, O PROVÁVEL TÍTULO DE MEDINA E O FÁCIL ACESSO A FÓRUNS DIGITAIS EVIDENCIARAM UM PRECONCEITO JÁ EXISTENTE, OU ESTE AUMENTOU NOS ÚLTIMOS TEMPOS?

 Nick CarrollAcho que apenas expôs um preconceito que existe, não o tornou pior. Sou meio dúbio de mídias sociais, acredito que elas dão uma voz maior a uma minoria agressiva e isso torna mais difícil julgar o sentimento verdadeiro de toda a comunidade do surf. Acho que a maioria dos surfistas não liga muito para quem está ganhando ou perdendo, contanto que estejam surfando bem. Sinto que em geral existe uma grande admiração por Medina. O desdém por surfistas brasileiros é mais generalizado e baseado em encontros fora da arena de competição – em surf trips e outras situações de surf recreativo.

 Alex GuaranáAcho que o que mais incomoda os australianos e americanos é a falta de educação de muitos brasileiros dentro d’água. Isso acaba refletindo uma imagem que não condiz com nossa condição de povo simpático, hospitaleiro e gentil. Dentro do Circuito Mundial isso já mudou, principalmente com a postura desta nova geração, que interage mais com os outros integrantes do WCT, devido também à maioria deles ser patrocinada por marcas internacionais. Idiotas sempre irão existir e infelizmente são eles que fazem mais barulho. 

 Sean Doherty Posso falar de nós australianos – nossa cultura surfística historicamente sempre foi um pouco preconceituosa. Nosso universo era tão limitado no que se refere a nações que praticavam o esporte, que qualquer nova potência do surf era algo muito estranho. E o Brasil por muito tempo se encaixou nessa categoria. E o surf é fechado mesmo. Não gostamos de bodyboarders, de SUPeros – de nada que não seja considerado hardcore. 

E é claro que quando um cara como Medina chega na cena incomoda muita gente, pois ele te força a aceitar novas realidades. Nós australianos inventamos o surf competitivo, sempre dominamos a cena, então quando chega um garoto do Brasil e surfa melhor que todo mundo, tem gente que torce o nariz. Nem todo mundo gosta de mudanças. Mas o legal é que agora temos que encarar essas mudanças, querendo ou não. Pois Gabriel está se lixando se os gringos aceitam ou não seu título. Ele vai vencer de qualquer maneira, para si mesmo e para seu país. 

O curioso é que, na verdade, Gabriel possui todas as qualidades de grandes ídolos australianos. Posso fazer um paralelo com Mick Fanning: ambos cresceram em famílias até certo ponto simples, ou seja, não nasceram ricos; ambos têm garra e vontade de vencer gigantes; ambos competem muito bem, são clínicos; ambos surfam muito e são caras humildes.

Então para mim essa comoção nas redes sociais não significa muita coisa. Tenho certeza de que quando o resto do mundo conhecer a personalidade de Medina ele será um ídolo tão grande no mundo como já é no Brasil.

 John Callahan Campeões mundiais conquistam respeito. Os críticos podem reclamar o quanto quiserem, mas fatos são fatos. Um campeão mundial será sempre um campeão mundial.

 

Pergunta:
COM A VITÓRIA DO MEDINA NO MUNDIAL, ACREDITA QUE A IMAGEM/REPUTAÇÃO DO SURFISTA BRASILEIRO MUNDO AFORA IRÁ MUDAR? ATÉ QUE PONTO ISSO É IMPORTANTE?

 Julio Adler Quem sempre fez a reputação do surfista brasileiro foi o viajante de classe média alta. Esse sujeito cresceu num ambiente onde tudo lhe pertencia e tudo era permitido. Foi natural assistir à percepção dos estrangeiros para a mais absoluta falta de educação de alguns desses viajantes. É a historia do “sabe com quem está falando?” rodando o planeta. Medina não pode, nem irá mudar isso. Você e eu podemos – com educação e cortesia.

 Fábio GouveiaVejo a admiração pelo surf dos brasileiros crescendo. Por mais que tenham falado do estilo de Adriano, por exemplo, falam também de sua garra. Quando falam mal é porque alguém está incomodando, não é mesmo? E isso ele já vem fazendo há muito tempo, batendo de frente com muitos competidores que se acham superiores. Mas tudo tem sua hora. O surf atual favoreceu o surf brasileiro, que por sua vez vem buscando já há um bom tempo se aperfeiçoar no surf de linha, de borda. Hoje vejo a turma mundo afora se espelhando em Medina, elogiando Toledo, Miguel… Com certeza o impacto será enorme e vai mudar sim nossa reputação a médio prazo.

 Nick Carroll A meu ver, o maior efeito de uma vitória de Medina seria para sua própria carreira. Um título mundial é algo para a vida toda. O outro grande impacto seria na comunidade brasileira, imagino que seria um marco fantástico para todo mundo no Brasil, e muitos jovens se sentiriam inspirados – os efeitos disso só seriam visíveis em anos. Da mesma maneira que o título de Midget Farrelly demorou para ser absorvido pelos australianos e que a grandeza das vitórias de Tom Curren só foi totalmente compreendida pelos americanos quando Kelly apareceu na cena. Com certeza seria um divisor de águas para o surf brasileiro. Mas as razões pelas quais tantos surfistas estrangeiros incomodam-se com o comportamento de alguns brasileiros nos lineups mundo afora não vão mudar rapidamente.

 Alex GuaranáNão acho que a reputação do brasileiro irá mudar por causa de um título mundial. Acredito que irá acontecer gradativamente, através de uma série de coisas, entre elas a postura de Medina perante a mídia internacional. Por isso torço para que ele se dedique às aulas de inglês e possa se comunicar melhor, pois parece ser um bom garoto, educado e inteligente.

 

 

Pergunta:
COMO UM CAMPEÃO MUNDIAL BRASILEIRO INFLUENCIARIA OS MERCADOS NACIONAL E INTERNACIONAL?

 John CallahanIrá mudar o marketing corporativo na direção do futuro do surf competitivo, que são os países emergentes. O Brasil tem 200 milhões de habitantes, a Indonésia tem 250 milhões, as Filipinas tem 100 milhões, China e Índia juntas têm mais de 2,5 bilhões – enquanto a Austrália tem apenas 23 milhões. Onde você investiria seu orçamento de marketing?

 Fábio Gouveia Mexeria com os brios daqueles contrários à nossa escalada e os que clamam pelo diferente. O país vai estar em evidência no esporte e pode ser um momento também para marcas nacionais aproveitarem a visibilidade e tentarem de repente uma escalada maior em outras partes do mercado internacional. No momento de baixa e sem muita credibilidade interna (circuitos profissionais sólidos), um título dessa magnitude pode alavancar muita coisa. 

 Nick Carroll Não tenho certeza. A indústria de surfwear está cada vez menos dependente do surf profissional para construir sua imagem. A maior estrela do surf profissional nem faz mais parte da indústria. A saúde (ou falta dela) dos mercados é o resultado de uma série de fatores, e um título de Medina não tem grande influência sobre isso.

 Julio Adler A surfwear venderá mais. Novas marcas surgirão e se beneficiarão desse momento e não investirão um centavo nas categorias de base, apostando tudo nos anúncios de revista que os tubarões dos departamentos comerciais empurrarão como grande negócio.

 Sean Doherty Campeões mundiais são bom negócio, qualquer cartola de surfwear vai te dizer. Eles não têm problema algum em pagar o bônus de campeão mundial, pois essa grana com certeza voltará multiplicada para a marca. E isso pode se refletir na indústria de surfwear do Brasil, por que não? Certamente não apenas a Rip Curl crescerá com uma vitória de Medina, mas o mercado brasileiro como um todo pode se beneficiar. 

 Alex Guaraná  Um campeão brasileiro não vai influenciar em nada o mercado internacional. Leio muita bobagem nestes fóruns, dizendo que o Brasil é um dos maiores mercados de surfwear do mundo. Isso é uma besteira! A Califórnia sozinha vende mais que o Brasil. Austrália, Japão, Europa… Todos têm mercados maiores que aqui. No Brasil, tem muita coisa a ser feita para melhorar o mercado e nada tem a ver com Medina, mas sim com a economia, que está caótica. Medina está se tornando um ícone do esporte e isso é legal, pois uma vez na grande mídia, ele carrega o surf junto. Mas não adianta nada disso se a roda não girar. O surfista é apenas uma engrenagem da atividade. O resto precisa funcionar também.

Pergunta:
DE QUE MANEIRA UM CAMPEÃO MUNDIAL BRASILEIRO SERIA BOM PARA O ESPORTE?
 

 Julio Adler Alguma cobertura dos grandes veículos e moderada popularidade. Sem gente disposta a dar um passo à frente nas gestões das federações, tudo fica na mesma. Possivelmente mais atenção para o litoral norte de São Paulo, na esperança de um novo Medina, enquanto o Nordeste continua ignorado.

 Nick Carroll Seria fantástico para o esporte. Já passou da hora do Brasil fazer parte das nações campeãs mundiais de surf. Iria fortalecer o esporte globalmente e forçaria todo mundo a competir em um nível mais alto.

 Alex Guaraná Um campeão mundial sempre é bom, para qualquer esporte. Veja o caso de Arthur Zanetti, campeão olímpico e mundial de argolas. Seus títulos deram uma visibilidade enorme para a categoria masculina da ginástica artística, que sempre favoreceu as mulheres. Só que para aproveitar isso, as entidades amadoras, a mídia especializada, os promotores de evento, junto com os próprios surfistas profissionais, têm que se unir e fazer o carro andar, pois atualmente o surf no Brasil vive de espasmos das vitórias de Medina, que nem pode disputar campeonato no Brasil, caso este não seja da ASP.

 Sean Doherty O surf precisa cronicamente de um campeão brasileiro. Eu estava conversando com Tom Carroll outro dia exatamente sobre isso, sobre como tudo mudaria com um campeão brasileiro e a importância que isso teria para o Brasil. Mas na real isso é apenas um detalhe. O incrível mesmo, a meu ver, é que Gabriel tem só 20 anos! Ele não tem 32, ou 42 anos… Ele realmente representa uma mudança de guarda. E isso é ainda mais positivo para o surf do que um campeão brasileiro. Os mesmos caras têm dominado o esporte por mais de uma década, e não teve Julian, Jordy ou Dane que conseguisse quebrar essa hegemonia. Aí vem um garoto de 20 anos do Brasil e faz o que ninguém conseguiu em tantos anos. Isso sim é a coisa mais incrível sobre a ascensão de Gabriel. O fato dele ser brasileiro é secundário.

 Fábio Gouveia Sangue novo, cara nova além das figurinhas já carimbadas. É a hora da troca!

 

 

Pergunta:
CAMPEÃO MUNDIAL BRASILEIRO: SINAL DE UMA NOVA ERA?

 Nick Carroll Mais que um sinal, é uma confirmação de uma nova era. O surf profissional mudou muito nos últimos anos com a chegada de surfistas cada vez mais jovens, mas ao mesmo tempo maduros competitivamente. Essa nova leva se encontrou e mudou as expectativas dos juízes. Não é tanto uma coisa de velha guarda contra nova geração – é mais um atrito lento, evidenciado pela inconsistência de Kelly recentemente, que acontece de modo inevitável por causa de sua idade. Acho que para muitos americanos a ideia de que Slater não é o super-homem eterno será difícil de digerir. Se bem que eles têm o Johnny Florence…

 John Callahan Sempre faltou aos surfistas brasileiros um jogo completo, tinha sempre algo faltando em seu repertório competitivo. Gabriel preencheu essas lacunas e tornou-se o primeiro brazuca a sobressair-se em qualquer condição que o Tour ofereça. Ele foi metódico e preciso, trabalhando seus pontos fracos e capitalizando seus pontos fortes. E isso é o que grandes atletas profissionais, de qualquer esporte, fazem. 

 Sean Doherty É engraçado, o troféu é apenas um objeto, mas que simboliza tanta coisa no final. E Gabriel realmente simboliza uma nova era. Ele desbancou a velha guarda. Ele surfa ondas de consequência com maestria. Ele desmistifica preconceitos – porque realmente é um cara simpático, educado e que surfa muito. Ele é o oposto do estereótipo do brasileiro folgado e prego. Ele está aproximando as diferentes culturas existentes dentro do surf.

 

OS PENSADORES


 Um dos principais jornalistas de surf da atualidade. Antigo editor da Tracks e atual editor internacional da Surfing Life, “Seano” também colabora com a americana Surfer e com a HARDCORE – além de ser comentarista da Fuel TV australiana. O olhar clínico e a escrita afiada fizeram do aussie um dos principais cronistas do Circuito Mundial nos últimos anos. Paralelamente, escreveu alguns livros – o mais celebrado foi a biografia da lenda Michael Peterson, intitulado MP: The life of Michael Peterson.


 Uma das maiores lendas do surf brasileiro. Em 1988, seu estilo impecável lhe garantiu o Título Mundial amador. A partir daí, foram dez temporadas no WCT – com direito a quatro vitórias. Mas a influência de Fabinho vai além. O paraibano abriu as portas do Circuito para o Brasil e ainda inspira uma legião de fãs com seu carisma contagiante – tanto que foi eleito pela HC como o “Maior Surfista Brasileiro de Todos os Tempos”. Hoje, conduz um programa na TV, escreve e aventura-se nos negócios e concentra-se em sua “segunda paixão, shapear”. 


 John S. Callahan fotografa surf há mais de 20 anos, com um foco diferente. Não viaja com profissionais e não vai ao Hawaii. Radicado em Singapura, está sempre em busca de tesouros desconhecidos. Não à toa tornou-se um dos grandes exploradores da história. “Gosto de surfar ondas virgens. O que tento fazer é aumentar o horizonte de todos os surfistas e motivá-los a fazer algo diferente”. Suas fotos e textos foram publicados em centenas de livros e revistas ao redor do mundo. Callahan tem uma relação estreita com o Brasil, país que admira e conhece bem.


 O carioca é uma das personalidades importantes na história da mídia especializada nacional. Surfista desde sempre, “Guará” competiu no Circuito Nacional nos anos 1980, antes de ingressar na mídia surf através do Jornal Now. Trabalhou no programa Realce e foi assessor de imprensa do Tour no Brasil. Entre 2000 e 2006, foi editor-chefe da revista Fluir e, mais tarde, colunista da HARDCORE. Atualmente, escreve para o blog Surf 100 Comentários – que segue a linha que sempre foi sua marca registrada: textos honestos, opinativos, sem enrolação e rabo preso, infalivelmente bem argumentados.


 Uma das vozes mais respeitadas no surf brasileiro, nosso principal colunista é surfista fissurado, campeão profissional carioca, pensador, crítico, jornalista autodidata, cineasta e apreciador de boa música e leitura. Suas análises do Circuito, que enriquecem as páginas da HC há anos, são verdadeiras obras-primas de perspicácia e boa escrita. Além da HC, Julio tem uma coluna na Surf Portugal e atualmente edita o site do Woohoo. Um homem de poucas palavras que faz questão de manter um “low profile” – cuja mania de entregar textos em cima da hora é apenas superada pelo apreço a uma boa cerveja. 


 Considerado um dos maiores jornalistas de surf do mundo. É editor internacional da Australian Surfing Life e da Surfing. Na década de 1990, foi editor da Tracks. Escreveu uma série de livros, como How to Surf: The Complete Guide to Surfing (1986), The Next Wave (1991), Surf Rage (2000) e 30 Years of Flame (2005). O mais recente é sobre a luta de seu irmão contra as drogas, TC, Tom Carroll. Sua inspiração jornalística é Tom Wolfe, apesar de que seu “entusiasmo pelo surf o tornou menos cínico e irônico”, como aponta Matt Warshaw, na Enciclopédia do Surf (EOS). Um clássico.

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