Por Kevin Damasio
Onda gigante na cabeça, vacas sinistras, doenças graves, ferimentos sérios… Esses são alguns dos perrengues aos quais nós, surfistas, estamos sujeitos. Na série Vidas em Risco, conheça a cada segunda-feira histórias de superação de personagens que por pouco não enfrentaram consequências ainda piores, como até mesmo a morte. Aldemir Calunga está acostumado com as bombas. Mas, em Puerto Escondido, ao sair de uma onda, ele foi traído pela própria prancha e quase se afogou.
Aldemir Calunga recém-acordado, ao lado de Camila Neves e Petronio Tavares. Foto: Camila Neves/Arquivo Pessoal
No dia 2 de setembro de 2012, ondas de 12 pés quebravam sem parar, sob os fortes raios de sol mexicanos. Vários brasileiros estavam na água em Puerto Escondido, como Lapo Coutinho, Lucas de Nardi, Marcos Monteiro, Rodrigo Koxa e Aldemir Calunga.
Calunga dropou uma onda de 8 pés, mas resolveu sair. Quando já estava acima do lip e atrás da onda, o leash estilingou e a prancha acertou seu rosto com violência. O potiguar então apagou e afundou, praticamente inconsciente. “Na hora tive consciência de que estava desmaiando por causa da pancada”, revela Aldemir, então com 39 anos, que travou a respiração e, com isso, não bebeu água suficiente para se afogar.
Ao sair da onda, o leash puxou a prancha, que acertou o rosto de Calunga, deixando-o inconsciente. Foto: Angel Salinas
Para a sorte de Calunga, Coutinho, Koxa, de Nardi e Monteiro perceberam que ele não voltava para a superfície, viram o leash esticado com a prancha boiando e remaram em sua direção. Mike, um havaiano, o puxou pelo estrepe, e Lapinho o agarrou em meio a uma grande série. Uma onda quebrou em cima e separou os três. “Cheguei nesse instante e o levantamos de novo”, recorda o bombeiro e big rider Marcos Monteiro. “Daí em diante, agarrei o Calunga com toda força que pude e, depois de tomar várias ondas na cabeça, conseguimos chegar até a praia.”
Aldemir estava inconsciente durante os seis minutos do resgate. Espuma saía pela boca. Ao chegar à areia, salva-vidas locais e Marcos iniciaram a reanimação cardiopulmonar. Minutos depois, Calunga já respirava sozinho, enquanto as pessoas ao redor encontravam-se chocadas. Muitas choravam.
Sob coma induzido, o potiguar foi direto para o hospital de Dalinde, na Cidade do México. Passou por uma broncoendoscopia para retirar areia do pulmão. Nos raios-X, nenhum traumatismo foi identificado. Petrônio Tavares, amigo e patrocinador de Calunga que estava na praia, o acompanhava no hospital. Três dias depois, Calunga despertou. Estava consciente e respirava com auxílio de um inalador. A única memória que tinha daquele domingo quase fatal era a da pancada: “A lembrança é impressionante. Depois disso, a única coisa que lembro foi quando acordei. Comecei a chorar e vi que realmente a vida tinha mudado”.
O big rider e bombeiro Marcos Monteiro (lycra vermelha) foi responsável pelo rápido restage, que salvou a vida de Calunga. Foto: Damea Dorsey
Aldemir passou mais uma semana no hospital. Com um trabalho excepcional dos médicos, que “trabalharam tanto o lado psicológico quanto os problemas do pulmão e de lesões”. Sem crises graves, o potiguar teve alta em 11 de setembro. “A minha evolução do quadro clínico foi surpreendente”, comenta Calunga. “Fiz duas cirurgias no pulmão, fiquei na UTI e tive uma fratura no crânio. Consegui evoluir muito rápido nas partes física e fisiológica.”
Em novembro, os médicos liberaram Calunga para pegar onda. Quarenta dias depois, ele pousava em Fernando de Noronha com Petrônio. A recuperação foi recompensada por ondas de 12 pés na Cacimba do Padre, que contemplaram a volta à vida de um dos surfistas mais importantes do Brasil.
Nos vídeos a seguir, confira o momento do resgate de Aldemir Calunga e quando ele reencontrou a família.
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*Esta matéria é parte da reportagem publicada na HC 289, edição de outubro de 2013