Por Kevin Damasio
Onda gigante na cabeça, vacas sinistras, doenças graves, ferimentos sérios… Esses são alguns dos perrengues aos quais nós, surfistas, estamos sujeitos. Na série Vidas em Risco, conheça a cada segunda-feira histórias de superação de personagens que por pouco não enfrentaram consequências ainda piores, como até mesmo a morte. O quarto surfista da série contraiu uma bactéria que corroeu seu crânio, não se sabe se foi na Indonésia ou em Huntington Beach. Conheça a história de Timmy Turner.
Timmy Turner teve que reconstituir três quartos do crânio, corroído por uma bactéria estafilocícica. Foto: Chris Burkard/A-Frame
Em 15 de dezembro de 2005, Timmy Turner, surfista e filmmaker que ficou conhecido pelo longa-metragem Second Thoughts (2004), sentia fortes dores de cabeça. A sensação era de que algo perfurava seu cérebro. A dor persistiu por mais três dias, cada vez mais severa, e deixava Turner, cuja extroversão era sua marca, muito irritado. Com as crises de nervosismo, sua mulher mudou-se com as duas filhas para a casa da mãe, em San Diego, Califórnia.
No dia 17, a loucura tomou conta do californiano, que foi levado ao hospital de Huntington pelo pai, tio e irmão. As dores fugiam do controle e Timmy ardia em febre. Nos primeiros minutos no hospital, sentado em uma cadeira de rodas, pediram para ele preencher um formulário e aguardar. A família se revoltou e deixou claro que era uma emergência. No entanto, no hospital não havia a estrutura necessária para atender o californiano.
Timmy foi transferido para o Hoag Memorial Hospital, em Newport Beach, onde ficou sob os cuidados do neurocirurgião Richard Kim, que precisou abrir o crânio dele para identificar a enfermidade. “Normalmente você vê o cérebro. Mas tudo que pude ver foi pus branco. Foi a infecção mais séria que já vi”, contou Kim à revista Mens Journal, em 2008.Turner contraiu a pior infecção estafilocócica que existe, a Staphylococcus aureus. A bactéria corroeu o crânio dele e a pressão intracraniana aumentou consideravelmente. Os médicos acreditam que Turner pegou a doença surfando em Huntington Beach, onde esgoto humano e industrial vazou para o mar depois de chuvas fortes na região, ou até mesmo em recente viagem à Indonésia, onde acabara de ocorrer um tsunami.
O quadro de Timmy piorou na primeira semana internado no hospital, com uma série de doenças graves, como meningite, pneumonia e síndrome respiratória aguda grave. A primeira cirurgia demorou duas horas e serviu para limpar a infecção e aliviar o estresse causado pelo cérebro. No processo, ele precisou ter metade do crânio removida. Duas semanas depois, teve raspado o osso da testa, que estava infeccionado. Com apenas um quarto do crânio, o estado era grave e Kim estava pessimista. Acreditava que, na melhor das hipóteses, Timmy, em coma, ficaria em estado vegetativo. Mas não foi o que aconteceu.
Turner voltou a andar depois de 109 dias no hospital. Quatro semanas depois, já voltava a surfar. Foto: Chris Burkard/A-Frame
A milagrosa recuperação começou enquanto o inverno no hemisfério norte se aproximava. Ele usava um capacete para proteger o cérebro, e o lado direito do corpo estava paralisado. Gradualmente, o corpo respondia melhor aos estímulos do cérebro e Timmy recuperava os movimentos. Ele voltou a andar depois de 109 dias no hospital, e gerou comoção no movimento lançado por sua esposa, chamado “Pray for Timmy”.
Na sexta e última cirurgia, Timmy ganhou um novo crânio, feito do mesmo material que se faz lentes de contato. A recomendação médica era não surfar por pelo menos três meses. Mas, quatro semanas depois, o californiano pegava onda em Huntington Beach. Kim ficou surpreso: “Surfar – para não mencionar fazer filmes – exige uma atividade neurológica muito complexa”.
Timmy Turner ficou conhecido após produzir o documentário Second Thoughts. Veja o trecho abaixo.
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*Esta matéria é parte da reportagem publicada na HC 289, edição de outubro de 2013