Por Kevin Damasio
Onda gigante na cabeça, vacas sinistras, doenças graves, ferimentos sérios… Esses são alguns dos perrengues aos quais nós, surfistas, estamos sujeitos. Na série Vidas em Risco, conheça a cada segunda-feira histórias de superação de personagens que por pouco não enfrentaram consequências ainda piores, como até mesmo a morte. A seguir, relembre o perrengue que Maya Gabeira, a quarta surfista da série, passou no megaswell de Teahupoo, Tahiti, em 2011.
Maya Gabeira ficou presa na zona de impacto de Teahupoo, no megaswell de 2011. Foto: Troy Simpson
Uma tempestade com ventos fortes que ultrapassavam 45 nós marchava da Nova Zelândia em direção à Polinésia Francesa. Em 27 de agosto, massas de água monstruosas dobravam sobre a bancada de Teahupoo. O megaswell de oeste que ficou conhecido como Code Red foi provavelmente o maior da história no Tahiti. Segundo o Surfline, a ondulação tinha 15 pés e 17 segundos de período. Os melhores big riders formavam o crowd de Chopes, enquanto a elite do WCT esperava as ondas diminuírem para continuar o Billabong Pro.
Ao chegar ao canal, Maya Gabeira sentiu medo. “Vi várias pessoas vacando, o que me abalou mais ainda. Além disso, estava lotado de gente assistindo e isso me fez ficar muito desconfortável, tensa, na pressão e na adrenalina”, diz a carioca no documentário Back to Teahupoo, da Red Bull.
Puxada por Carlos Burle, Maya dropou a primeira bomba, botou no trilho, mas caiu dentro do tubo. Era o começo do dia mais assustador da sua vida. “Eu não estava confiante e isso ficou evidente no meu surf. Não consegui superar a primeira vaca”, conta a big rider.
Burle então a puxou em uma série menor, para que sua parceira pudesse surfar e fazer a onda. Mas a situação resultou em um grande susto para a big rider. “A onda acabou não sendo boa. Ela tentou sair, só que tinha muita gente na frente. Então surfou a onda até o final, passando o lugar onde todo mundo fica sentado no canal”, lembra o pernambucano.
Maya ficou presa entre a esquerda de Teahupoo e a direita seca. Burle foi à lagoon para esperar a surfista, mas a correnteza puxava Maya de volta para a bancada. Ela recorda: “Tomei cinco ondas enormes na cabeça no lugar mais raso da bancada. Simplesmente estava no lugar errado na hora errada”. Da lagoon, Burle viu a cena: “Ela tomou aqueles caixotes fechando em cima da pedra. Não ia para a frente nem para trás”.
A carioca nunca havia passado por um perrengue como esse. “Graças a Deus não bati muito forte no fundo e consegui manter a minha respiração controlada até que fosse resgatada”, observa. Nem Burle nem Everaldo “Pato” Teixeira, que também presenciava a cena, conseguiam tirá-la da zona de impacto.
O local Vetea David conseguiu resgatar Maya com vida, mas passando muito mal, em choque. Foto: Troy Simpson
Momentos depois, o veterano taitiano Vetea David puxou Maya para o sled do jet ski. “Quando fui resgatada, estava bem, mas assustada, é claro. No entanto, sem lesões graves e alguns ralados do lado esquerdo do corpo. Dei sorte, pois o perigo era bater na bancada e apagar”, explica.
A experiência abalou o lado psicológico de Maya, que, logo depois, na temporada havaiana, se dedicou regularmente ao mergulho e aos treinos de apneia. “Ajudou muito na minha confiança, contra a asma, na respiração e no fôlego, que para mim sempre foram partes muito delicadas”, reflete a big rider, que só voltou para Teahupoo em maio deste ano, para encarar outro swell monstruoso, e se deu bem.
Abaixo, confira o documentário Back to Teahupoo, que acompanha o acidente e a superação de Maya Gabeira.
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*Esta matéria é parte da reportagem publicada na HC 289, edição de outubro de 2013