Por Kevin Damasio
Onda gigante na cabeça, vacas sinistras, doenças graves, ferimentos sérios… Esses são alguns dos perrengues aos quais nós, surfistas, estamos sujeitos. Na série Vidas em Risco, conheça a cada segunda-feira histórias de superação de personagens que por pouco não enfrentaram consequências ainda piores, como até mesmo a morte. O terceiro personagem da série é Brett Archibald, sul-africano que caiu do barco nas Mentawai e ficou à deriva, à espera do resgate.
Brett Archibald, surfista que ficou 28 horas à deriva nas Mentawai, de volta à África do Sul. Foto: Alan Van Gysen
O barco Naga Laut saiu de Padang com destino às Mentawai no dia 17 de abril. A bordo estavam dez amigos que viajavam pela oitava vez juntos. Por volta das 3h15 da madrugada, o empresário Brett Archibald deixou sua cabine para urinar e beber água, mas se sentiu mareado na proa e vomitou bastante no mar. O sul-africano de 50 anos então desmaiou e, quando despertou, estava na água, boiando. Ele pôde avistar o barco a 100 metros, em busca do destino traçado.
Os amigos de Archibald só notaram sua ausência cinco horas depois, quando tomavam café da manhã. Retornaram imediatamente, para refazer a rota percorrida durante a noite. Com um alerta, a operação de busca foi coordenada por autoridades de resgate marítimo da Indonésia e da Austrália, que atuavam em conjunto, auxiliadas por outros barcos privados.
Por pouco o Naga Laut não encontrou seu tripulante. De acordo com dados náuticos, a embarcação passou a cerca de 250 metros do sul-africano, às 14h30. Mas a grande ondulação, o céu cinza e uma garoa leve dificultaram que Brett fosse avistado. “Eu berrei, acenei e tentei nadar até o barco, mas a correnteza era muito forte”, lembra Archibald. “Eles pararam quando viram algo, mas depois seguiram em outra direção.”
Antes do pôr do sol, um animal marinho bateu duas vezes no sul-africano, que mergulhou a cabeça na água e girou para identificar o que era. “Dei de cara com um tubarão. Fiquei preocupado com um possível ataque e cheguei a pensar que, se eu o agarrasse, ele poderia me levar para a costa”, conta Brett. Mas o bichano olhou para ele e foi embora. O surfista-empresário também foi queimado por águas-vivas e bicado por gaivotas, que buscavam seus olhos.
Pela manhã, Archibald viu um barco de pesca se aproximar. “Achei que eles iam ancorar e pescar, então comecei a nadar freneticamente na direção deles. Mas, ao levantar a cabeça, vi que eles já navegavam em outro sentido”, recorda. Sentindo-se exausto e completamente desmoralizado, Brett tentou se afogar, mas não conseguiu.
Às 7h30, há pouco mais de 28 horas à deriva, a esperança de Brett voltou ao avistar o barco Barrenjoey, comandado pelo capitão Tony Eltherington. Ele repetiu o ritual de quando avistou o Naga Laut: acenou, berrou e tentou nadar. “Depois de tanto esforço, pensei que iria me afogar na espera pelo resgate. Mas felizmente eles chegaram a tempo”, revela Brett.
Depois de conversar por telefone com a esposa Anita e acalmar a família, Brett decidiu continuar a boat trip. Ele ficou sob os cuidados de um urologista, um quiropraxista e dois salva-vidas que estavam a bordo do Barrenjoey. Nos oito dias que restaram, ele caiu em Roxy’s, Lance’s Lefts, Macaronis, Bank Vaults, Telescopes, Batcaves e Nipusi. “Tinha a prioridade em todas as ondas, mesmo se estivesse rabeando”, ri Brett, que completa: “Não hesitava em dropar qualquer coisa que viesse. Peguei umas bombas e tomei boas vacas. Mas me senti mais confortável surfando do que antes”.
Confira abaixo o momento em que Brett Archibald foi resgatado.
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=yOq5g0O9v9s?rel=0&showinfo=0&w=600&h=338]
*Esta matéria é parte da reportagem publicada na HC 289, edição de outubro de 2013